BRASÍLIA, DF (FOLHAPRESS) - Em busca de um impulso nas intenções de voto para Jair Bolsonaro (PL), os principais ministros do governo atenderam aos apelos da campanha e do próprio chefe do Executivo e se engajaram na defesa do candidato à reeleição em entrevistas e redes sociais.
O comitê de campanha, liderado pelo senador Flávio Bolsonaro (PL-RJ), recomendou que as postagens na internet de qualquer conteúdo, inclusive trechos das entrevistas, fossem feitas em páginas pessoais para não ferirem as restrições impostas pela legislação eleitoral.
Foram convocados o ministro Fábio Faria (Comunicações), que assumiu o pelotão de frente dessa força-tarefa, e os ministros Ciro Nogueira (Casa Civil), Paulo Guedes (Economia), Adolfo Sachsida (Minas e Energia) e Marcelo Sampaio (Infraestrutura).
Os três últimos, de pastas técnicas, passaram a ter a missão de defender as medidas já tomadas, fazendo contraponto com a gestão do PT sempre que possível. Outra orientação dada a esse grupo foi o uso de dados econômicos com o objetivo de impulsionar a avaliação do governo.
Inicialmente, a estratégia não saiu exatamente como esperava o comitê da candidatura à reeleição. Mas, com o passar do tempo, os ministros começaram a se engajar na campanha.
Guedes também intensificou sua participação no debate. Na última quarta-feira (14), afirmou no Rio de Janeiro que do outro lado da disputa presidencial "tem o capeta", em referência ao ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT), o que foi visto por integrantes do Palácio do Planalto como o ataque mais duro de Guedes ao petista desde o início das eleições.
Guedes também usou a estrutura estatal de rádio e TV em plena campanha presidencial para exaltar o desempenho do governo na economia. Com uma entrevista de 24 minutos ao programa Voz do Brasil, o governo e o ministro podem, inclusive, ter violado a lei eleitoral.
O programa é de transmissão obrigatória para todas as rádios do país e também foi retransmitido em vídeo pela estatal TV Brasil.
A atuação do ministro da Economia tem agradado aos estrategistas da campanha do presidente, inclusive pelas respostas sobre a falta de verbas para programas sociais em 2023, ao mencionar que o governo dará um jeito de as iniciativas serem executadas (mesmo sem explicar como).
Nas redes, o clima de campanha tomou conta dos perfis dos ministros desde o fim de agosto. Um dia antes do 7 de Setembro, Faria criticou reportagem do UOL sobre a compra de imóveis por integrantes da família de Bolsonaro com dinheiro vivo. "Não pode fazer uma matéria dessa a 30 dias da eleição", escreveu.
Depois, atacou as pesquisas eleitorais divulgadas pela Quaest e pelo Ipec, ambas desfavoráveis a Bolsonaro. Também defendeu a participação da primeira-dama Michele Bolsonaro na campanha após restrições impostas pelo TSE (Tribunal Superior Eleitoral) e criticou abertamente Lula.
Próximo a Bolsonaro e um dos primeiros a se engajar na campanha, o ministro Sachsida passou a comemorar nas redes a queda de preços dos combustíveis e da inflação. Também tem defendido medidas econômicas, publicado fotos com preços nos postos, criticado o PT e já disse que Bolsonaro vai vencer no primeiro turno.
"Se dependesse de Lula, o brasileiro estaria pagando mais caro pela gasolina, pelo etanol e pelo diesel. Além disso, a conta de luz estaria mais cara!!!", escreveu.
Mais discreto na ofensiva, Sampaio tenta reforçar a imagem positiva do governo por meio de vídeos e imagens das obras entregues pelo Ministério da Infraestrutura. O chefe da pasta reverbera também o discurso da cúpula do governo sobre a economia "pujante" do Brasil, dando ênfase a dados repetidos várias vezes por Guedes.
Sampaio já interagiu com páginas de influenciadores apoiadores de Bolsonaro, como Kim Paim e Barbara, do canal Te Atualizei --que estava entre os perfis de YouTube impedidos de arrecadar recursos pela plataforma por decisão do TSE em 2021.
O ministro da Infraestrutura diz estar "orientado pelo respeito à legislação eleitoral, tendo, como cidadão, assegurada a garantia de livre manifestação nas suas redes pessoais".
Ministros podem cometer violação da lei eleitoral e praticar ato de improbidade administrativa se usarem a estrutura estatal para favorecer o candidato à reeleição, o que especialistas dizem ter sido o caso de Guedes na Voz do Brasil.
"É um programa obrigatório, repetido por todas as rádios do país. Você está forçando a exibição daquela entrevista por todas as emissoras do Brasil. Temos nitidamente algo que desequilibra indevidamente a disputa eleitoral, o que configuraria abuso de poder político", afirmou Volgane Carvalho, secretário-geral da Abradep (Academia Brasileira de Direito Eleitoral e Político), em entrevista recente.
Parte dos analistas também vê problemas na mera presença de Guedes em eventos com empresários quando ele faz ataques a Lula e promessas para um novo mandato --o que poderia representar abuso de poder político.
Marcelo Vitorino, professor de marketing político na ESPM (Escola Superior de Propaganda e Marketing) que comandou a campanha de Marcelo Crivella (Republicanos-RJ) para prefeito do Rio em 2016, pondera que a postura dos ministros não é diferente do comportamento em governos anteriores.
"Se for uma produção pessoal ou se o ministro simplesmente estiver compartilhando a produção da campanha do candidato dele, não há problema. Acho até normal que um membro do governo defenda a continuidade do governo a que ele pertence", afirmou.
De acordo com o TSE, a publicação de elogios ou críticas a candidatos, feitos por eleitores em página pessoal, não é considerada propaganda eleitoral.
Gustavo Guedes, advogado especialista em direito eleitoral, não vê necessidade de uma limitação adicional a agentes políticos no uso de suas redes sociais por exercerem funções públicas.
"Da mesma forma que entendo que influencers, jogadores de futebol, cantores, popstars têm direito à liberdade de expressão, podem utilizar suas redes para se posicionar, não vejo uma restrição a algum ocupante de cargo público para não poder utilizar suas redes para falar o que entender de direito", disse.
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