RIO DE JANEIRO, RJ (FOLHAPRESS) - Na mira das petroleiras que operam no Brasil devido a grandes perspectivas de descobertas, a bacia da foz do rio Amazonas pode ser explorada de forma sustentável, defendeu nesta segunda-feira (26) o ministro do Meio Ambiente, Joaquim Leite.
Ele participou da abertura da Rio Oil and Gas, feira que reúne empresas do setor no Rio de Janeiro. Travada por falta de licenças ambientais, a exploração de petróleo na foz do Amazonas foi um dos principais temas da cerimônia de abertura.
A região tem características semelhantes a grandes descobertas de petróleo já feitas na Guiana e no Suriname. No Brasil, porém, a dificuldade de licenciar poços levou a francesa Total a desistir da área e vender suas participações à Petrobras.
A estatal ainda aposta na região, disse nesta segundo o presidente da empresa, Caio Paes de Andrade, que gravou um vídeo para participar da abertura da feira. A Petrobras já tem planos para perfurar poços na área, mas ainda depende de aval dos órgãos ambientais.
No início do mês, o Ministério Público Federal pediu a suspensão das atividades na bacia, alegando que a construção de uma base aérea e a disposição de rejeitos impactarão comunidades ribeirinhas, quilombolas e indígenas e que não houve consulta prévia.
A companhia negocia com o Ibama (Instituto Brasileiro de Recursos Naturais e Renováveis) um teste de perfuração na área para liberar o primeiro poço, previsto para novembro. A ideia é simular a operação para análise dos recursos de emergência disponíveis.
Para isso, a empresa mobilizou cinco embarcações de contenção de óleo, dois helicópteros e um avião, disse o diretor de exploração e produção da companhia, Fernando Borges. A perfuração pode ser iniciada assim que a licença sair.
"Estamos com todos os recursos mobilizados e isso custa milhões de dólares por dia", afirmou. A estatal passou a chamar a região do primeiro poço de Amapá Águas Profundas, para desvincular o projeto do rio Amazonas.
Borges defende que as primeiras operações acontecerão longe da foz do rio, a cerca de 40 quilômetros da fronteira com a Guiana Francesa. A região é a nova aposta exploratória da Petrobras, que gera expectativa depois que a Exxon descobriu reservas de bilhões de barris na Guiana.
"Temos uma grande chance. Mas só vai se concretizar se pudermos, com responsabilidade social, extrairmos petróleo", reforçou o ministro de Minas e Energia, Adolfo Sachsida, reclamando que os primeiros pedidos de licença foram feitos há 11 anos.
Em entrevista após a cerimônia de abertura da feira, Leite disse que o Brasil segue rigorosas leis ambientais e que é possível chegar a um modelo de "exploração sustentável" da região. "Dá para explorar petróleo e garantir a proteção ambiental", afirmou.
Segundo projeções do IBP (Instituto Brasileiro do Petróleo e Gás), o setor vai investir de US$ 183 bilhões (R$ 980 bilhões pela cotação atual) no Brasil pelos próximos dez anos. Esse valor geraria 500 mil postos de trabalho.
A estimativa também foi divulgada na abertura da feira, a primeira edição presencial em quatro anos, e ocorre em um cenário de maior questionamento sobre os impactos da atividade na emissão de gases do efeito estufa.
O setor defende que será importante no processo de transição energética e que pode produzir com menor intensidade de carbono. "A indústria do petróleo defende a transição, mas com segurança para evitar a pobreza energética", disse o presidente do IBP, Roberto Ardenghy, em seu discurso de abertura.
Além da geração de empregos, disse Ardenghy, os investimentos na produção de petróleo devem gerar cerca de US$ 620 bilhões (R$ 3,3 trilhões) em arrecadação de impostos. Ele citou ainda os impactos na balança comercial: o setor é responsável por um superávit de US$ 6,5 bilhões (R$ 34 bilhões) por ano.
A seis dias do primeiro turno da eleição, os representantes do governo que estiveram no evento aproveitaram para defender realizações do presidente Jair Bolsonaro (PL), candidato a um segundo mandato.
Leite chamou de "time dos sonhos" o ministério montado pelo presidente e citou avanços em digitalização e desburocratização.
Sachsida falou sobre a queda dos preços dos combustíveis após aprovação pelo Congresso de lei que incluiu os produtos na lista de bens essenciais para cobrança do ICMS. "A medida é estrutural", afirmou.
"As pessoas estão vendo apenas a redução de custo da energia e dos combustíveis. Vários setores intensivos vão ganhar eficiência, as empresas pequenas terão custo reduzido", completou.
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