SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) - O mercado de ações do Brasil avançou nesta quarta-feira (5), impulsionado principalmente por ações de empresas ligadas à produção e exportação de petróleo.
Essa valorização do setor de energia veio na esteira do expressivo corte da produção de petróleo, anunciado há alguns dias e confirmado nesta quarta pelo cartel de países produtores e seus aliados, conhecido pela sigla Opep+.
O Ibovespa, índice parâmetro da Bolsa de Valores brasileira, fechou com ganho de 0,83%, aos 117.197 pontos. Os papéis mais negociados da Petrobras ganharam 3,76%. A 3R Petroleum avançou 3,49% e a PetroRio escalou 3,20%.
A oferta diária de petróleo será reduzida em cerca de 2 milhões de barris por dia, o que representa o maior corte desde o início da pandemia de Covid-19, em março de 2020.
Restringir a oferta é a estratégia da Opep para elevar os preços, que caíram mais de 20% no terceiro trimestre devido ao aumento da percepção de que o cenário internacional de alta dos juros para frear a inflação poderá trazer severo prejuízo para o crescimento da economia mundial.
O barril do petróleo Brent subia 1,99% no final da tarde, cotado a US$ 93,63 (R$ 488,16). Desde o início da semana, quando a intenção de corte da Opep foi divulgada, a matéria-prima já subiu quase 6,5%.
Pedro Serra, chefe de pesquisas da Ativa Investimentos, diz que o tamanho do corte anunciado surpreendeu investidores, aumentando a expectativa de valorização das ações das petrolíferas. "O mercado esperava um corte de um milhão de barris, mas veio na casa de dois milhões", afirmou.
"A expectativa é de alta do petróleo e isso impacta Petrobras e outras petrolíferas, que têm um peso muito grande na Bolsa", comentou Heitor Martins, especialista de renda variável na Nexgen Capital. "Mas não é o único fator, pois também conseguimos observar altas nas ações da Vale e também no setor financeiro", disse.
Também exerceu peso positivo no Ibovespa a alta de 1,54% das ações da Vale, cujo volume movimentado foi o maior desta sessão.
A valorização da mineradora ocorreu no mesmo dia em que o mercado financeiro asiático repercutiu uma decisão da China de reduzir o custo do crédito para financiamentos na área habitação. O país é o principal destino do minério de ferro e do aço produzidos no Brasil.
Esse estímulo do governo chinês foi responsável pelo salto de 5,90% da Bolsa de Hong Kong nesta quarta, segundo Roberto Dumas, estrategista-chefe do Voiter.
"A China não pode permitir tensões sociais dada a necessidade de sustentar a ditadura. A despeito de que o país passa por um problema de dívida dos ativos imobiliários, já era esperado que o banco central e os órgãos reguladores fariam uma intervenção. Houve uma, pequena. Já caiu a taxa de juros para o financiamento da primeira casa própria", explicou Dumas, que é especialista em economia chinesa.
Independentemente dos movimentos dos setores de energia e materiais básicos nesta sessão, o mercado de ações do Brasil subiu 6,5% nesta semana, refletindo também o otimismo de parte dos investidores com o resultado do primeiro turno das eleições, que confirmou a disputa entre o presidente Jair Bolsonaro (PL) e o ex-presidente Lula (PT) no segundo turno.
Analistas disseram que a disputa acirrada com Bolsonaro, candidato percebido como sendo de visão mais liberal, forçará Lula a fazer acenos e a apresentar nomes mais alinhados ao mercado.
Se por um lado a alta do petróleo trouxe ganho a mercados influenciados pelo preço da matéria-prima, por outro, acrescenta mais preocupações à crise inflacionária que vem catapultando as taxas de juros ao redor do mundo.
A necessidade de aumento exagerado do preço do crédito é temida por investidores porque poderá impor uma forte desaceleração da economia mundial, cujos efeitos seriam a queda generalizada dos investimentos em empresas e, consequentemente, aumento do desemprego.
Os principais índices negociados no distrito financeiro nova-iorquino de Wall Street recuaram nesta quarta após entregarem dois dias de ganhos consistentes no início desta semana.
O S&P 500, parâmetro da Bolsa de Nova York, fechou o dia com queda de 0,20%. Dow Jones e Nasdaq cederam 0,14% e 0,25%, respectivamente.
Dólar sobe com mercado voltando a buscar proteção contra a inflação
O crescimento dos investimentos na Bolsa brasileira nesta sessão não foi suficiente para evitar a alta da taxa de câmbio. O dólar comercial à vista avançou 0,34%, a R$ 5,1870 na venda.
Essa alta refletia a valorização de 1% da moeda americana no exterior nesta quarta, de acordo com o índice DXY, que compara o dólar às divisas das principais economias do planeta.
Nesta terça-feira (4), porém, a moeda americana teve uma forte queda em relação aos pares globais. O dólar perdeu terreno conforme investidores se mostravam mais dispostos a trocar a segurança da renda fixa dos Estados Unidos por oportunidades nas Bolsas, muito desvalorizadas neste ano.
Analistas do mercado já alertavam que o movimento de alta das ações e de queda do dólar registrado no início desta semana era momentâneo e refletia apenas investidores iniciando o trimestre indo às compras em um cenário de ações fortemente desvalorizadas pela crise inflacionária e incertezas sobre uma potencial recessão.
Daniel Miraglia, economista-chefe da Integral Group, explicou que os mercados não caem em linha reta e, no meio de um movimento de baixa prolongada, há respiros provocados por narrativas positivas nas quais investidores embarcam momentaneamente.
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