WASHINGTON, EUA (FOLHAPRESS) - A projeção de baixo crescimento econômico do Brasil para o ano que vem, estimada em 1% pelo FMI (Fundo Monetário Internacional), está errada, defendeu o ministro da Economia, Paulo Guedes, nesta terça-feira (11) na sede do órgão, na capital dos EUA, Washington. Segundo ele, as projeções são contaminadas por erros técnicos e motivações políticas. "Estão sempre errando e vão errar de novo", afirmou.
"Eles previam que a queda nossa [no PIB] ia ser dez [pontos percentuais em 2020], nós caímos três. Eles previam que o Brasil não ia voltar em V [referência à curva do PIB em uma recuperação econômica acentuada após uma queda drástica], o Brasil voltou em V. Aí previam que no ano seguinte o Brasil não ia crescer, a gente cresceu de novo, estão revendo agora para cima. Estão prevendo para o ano que vem um crescimento baixo. Possivelmente estão achando que o outro candidato vai ganhar [Lula], aí o crescimento vai ser muito ruim mesmo. Mas conosco vai seguir crescendo."
Relatório do FMI publicado nesta terça-feira (11) apontou que o Brasil deve crescer abaixo da média global tanto neste ano quanto no próximo. Em 2022, o país deve ter um ganho de 2,8% em seu PIB (Produto Interno Bruto), segundo o órgão, e o mundo deve registrar crescimento médio de 3,2%. Para o ano que vem, a perspectiva é de que o Brasil cresça apenas 1%, enquanto o mundo deve crescer 2,7%.
Assim como projeções de economistas e órgãos brasileiros, a previsão do FMI sobre o PIB do Brasil foi crescendo ao longo de 2022 -o dado divulgado nesta terça é dois pontos superior ao que se estimava em abril, enquanto a expectativa caiu em outras regiões.
Guedes aponta dois fatores para as expectativas mais baixas do que o resultado final. O primeiro, segundo ele, é um problema nos modelos de cálculo, que privilegiam o investimento público, em queda, sobre o investimento privado, segundo o ministro, em alta no Brasil. "Os modelos não têm aderência e estão falhando. Essa é a explicação técnica." O outro motivo seria militância, nas palavras do ministro, "narrativa política em vez de respeito aos fatos."
"O fundo é um erro técnico. No Brasil, tem uma parte que é erro técnico e uma parte que é militância. Nós estamos assistindo há quatro anos essa rolagem da desgraça. O ano que vem sempre é uma desgraça, aí não acontece, aí o ano que vem é que vai ser a desgraça, aí não acontece", afirmou.
Apesar do que o ministro afirma, mesmo instituições do governo revisaram a expectativa para o PIB brasileiro neste ano. O próprio Ministério da Economia revisou o dado em setembro, para 2,7%, em relação aos 2% previstos anteriormente.
O Banco Central e o Banco do Brasil também apresentaram perspectivas mais otimistas recentemente. Revisões do PIB são comuns ao longo do ano em todos os governos.
Guedes também defendeu a liberação de auxílios à população. Na reta final da campanha de reeleição, o presidente Jair Bolsonaro (PL) prometeu pagamento de uma 13ª parcela do Auxílio Brasil para mulheres, além de benefícios extras a taxistas, entre outras categorias.
O ministro, que em outros tempos foi crítico de programas como o Bolsa Família, defendeu programas de distribuição de renda em Washington. "Alguns países estão taxando as exportações para tentar derrubar o preço da comida interna. O que o Brasil fez foi dar os recursos em vez de penalizar e reduzir a produção agrícola com impostos", disse. "Deixa exportar, mas também dá mais recursos para os brasileiros para eles também poderem comprar comida."
Paulo Guedes viajou a Washington para acompanhar as reuniões anuais do FMI e do Banco Mundial. Pela manhã, ele participou de reunião com ministros da Economia e da Agricultura dos países do G20, que discutiram a crise alimentar e a crise energética global. No evento, Guedes voltou a defender a ideia de que o Brasil garante a segurança alimentar interna ao mesmo tempo que alimenta 1 bilhão de pessoas no mundo.
Pesquisas recentes, porém, apontam aumento da fome no Brasil. Segundo o Datafolha, em julho, um em cada três brasileiros afirmava que a quantidade de comida em casa não foi suficiente para alimentar sua família, alta em relação ao levantamento anterior, em maio, quando esse índice foi de 26%. Relatório das Nações Unidas também apontou que 15,4 milhões de brasileiros estavam em insegurança alimentar no país, ou seja, passando fome, entre 2019 e 2021.
Depois, o ministro se reuniu com o chefe das finanças do México, Rogelio Ramírez de la O, e discutiu o aumento das exportações de produtos agrícolas, enquanto ouviu do seu homólogo um pleito pelo aumento da venda de carros mexicanos no Brasil. "Nós estamos conversando isso, mas naturalmente a nossa preferência é sempre preservar o nosso pacto industrial", afirmou o ministro.
No fim do dia, Guedes vai se encontrar também com executivos no Conselho Empresarial Brasil-Estados Unidos, que reúne representantes dos dois países.
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