SÃO PAULO, SP (UOL/FOLHAPRESS) - Os mercados de ações e de câmbio do país refletiram nesta semana preocupações de investidores sobre a corrida eleitoral no Brasil e também quanto ao ambiente internacional de juros potencialmente mais altos após a inflação nos Estados Unidos ter mostrado mais força do que projetavam os economistas.

No fechamento desta sexta-feira (14), o Ibovespa recuou 1,95%, aos 112.072 pontos. Isso levou o índice de referência da Bolsa de Valores brasileira a uma queda semanal de 3,70%. É o maior recuo em uma semana desde meados de julho.

O resultado apagou parte dos ganhos de 5,76% da semana anterior, quando o mercado demonstrou euforia com a votação acima do previsto pelas pesquisas recebida por Jair Bolsonaro (PL), colocando o atual presidente na disputa do segundo turno com o ex-presidente Lula (PT).

No mercado de câmbio, o dólar comercial à vista subiu 1% nesta sexta, cotado a R$ 5,3270. A taxa de câmbio acumulou uma alta semanal de 2,17%.

Incertezas sobre o desfecho da corrida eleitoral à presidência da República afetaram o mercado doméstico nesta semana e isso está demonstrado pela forte queda do mercado de ações brasileiro, segundo Ubirajara Silva, gestor da Galapagos Capital.

Silva diz que Lula e Bolsonaro dão motivos para a desconfiança do mercado sobre o futuro do país.

"O candidato do PT, que é líder nas pesquisas, não tem um plano de governo bem definido, enquanto o presidente Bolsonaro está agredindo as outras instituições", comentou Silva. "Ainda temos duas semanas de eleições e muita coisa pode acontecer."

Fernanda Consorte, economista-chefe do Banco Ourinvest, destaca, porém, o peso dos dados da inflação americana sobre o desempenho das moedas de países de economia emergente, como é o caso do Brasil.

"É mais um dia de aversão a risco após os dados da alta da inflação nos Estados Unidos reforçarem apostas na alta da taxa de juros por lá e isso está se refletindo em países emergentes", disse Consorte.

"Esse avanço do dólar à casa dos R$ 5,30 é por conta dessa aversão ao risco no exterior", afirmou a economista.

O índice de preços ao consumidor americano subiu 0,4% no mês passado, acima do 0,2% esperado pelo mercado, segundo relatório divulgado pelo governo americano na quinta-feira (13).

Nos 12 meses até setembro, o índice teve alta de 8,2%, depois de ter subido 8,3% em agosto e atingido um pico de 9,1% em junho, que foi o maior avanço desde novembro de 1981.

As atenções de investidores se voltaram, porém, para o núcleo da inflação, que exclui os preços voláteis, como energia e alimentos.

Esse indicador ganhou 6,6% em setembro, em relação ao ano anterior, marcando o maior aumento desde agosto de 1982.

É especificamente esse dado sobre o núcleo que diz aos analistas que a inflação está mais resistente do que se imaginava anteriormente e, por esse motivo, o Fed (Federal Reserve, o banco central americano) deverá manter o crédito mais caro e por mais tempo. O resultado desse aperto monetário tende a ser um prejuízo prolongado ao crescimento da economia mundial.

Em setembro, o Fed elevou sua taxa de juros em 0,75 ponto percentual pela terceira vez seguida. A divulgação na quarta-feira (12) da ata dessa reunião do Fomc, o comitê de mercado aberto do Fed, confirmou que o banco central americano tende a manter o ritmo do aperto.

Projeções do Fomc divulgadas com a ata mostram que a taxa básica de juros, atualmente na faixa de 3% a 3,25%, subirá para a faixa de 4,25% a 4,50% até o final deste ano.

No exterior, os principais indicares do mercado americano penderam para o negativo. Na Bolsa de Nova York, o índice S&P 500 caiu 2,37% e, com isso, teve um recuo semanal de 1,55%.

Balanços trimestrais de grandes bancos contribuíam com o pessimismo ao darem mais sinais de que o mercado americano se prepara para uma recessão, destacou boletim do The Wall Street Journal.

A receita do JPMorgan aumentou 10%, mas houve perda de quase US$ 1 bilhão em títulos e está reservando mais dinheiro para uma possível recessão. O lucro do Morgan Stanley caiu 29% e os ganhos do Wells Fargo ficaram abaixo das expectativas.

BOLSA DE LONDRES TEM REAÇÃO TÍMIDA A DECISÕES DE LIZ TRUSS

Na Europa, a Bolsa de Londres subiu apenas 0,12% nesta sexta e fechou a semana em queda de 1,89%, revelando uma reação tímida do mercado a algumas decisões da primeira-ministra Liz Truss sobre a economia do Reino Unido.

Ela demitiu seu ministro das Finanças, Kwasi Kwarteng, e anunciou a eliminação de partes de um pacote econômico que vinha levantando desconfiança sobre a política fiscal britânica.

A crise provocada pelo plano do ex-ministro Kwarteng trouxe forte desvalorização dos títulos da dívida do país. Kwarteng foi substituído pelo ex-ministro de Relações Exteriores e Saúde Jeremy Hunt.

"Os mercados precisam de um pouco mais de clareza sobre como esse plano fiscal está atualmente e vão querer saber exatamente de onde virá o financiamento", disse Daniela Hathorn, analista de mercado da Capital.com, à agência Reuters.

A libra esterlina caiu 1,43% em relação ao dólar, cotada a US$ 1,1167. Na comparação com a moeda brasileira, a divisa britânica cedeu 1,58%, ao valor de R$ 5,92.


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