BRASÍLIA, DF, E SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) - A reunião do Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central (BC) nesta semana não deve trazer grandes surpresas ao mercado. Economistas acreditam que a autoridade monetária deve se manter cautelosa diante do cenário eleitoral.
Depois de ter mantido a taxa Selic estável em 13,75% no encontro de setembro, a expectativa unânime é de que a autoridade monetária manterá os juros inalterados no patamar atual por algumas reuniões, dando início a um ciclo de corte apenas em meados do ano que vem.
Com a decisão sobre o patamar dos juros sem muito espaço para manobras, a atenção dos agentes de mercado estará voltada para o tom da comunicação que será utilizada pela autoridade monetária sobre o cenário projetado à frente.
Sem maiores sobressaltos nas últimas semanas no cenário internacional, com o risco de desaceleração da economia global se mantendo no radar dos investidores, e no cenário doméstico, com as incertezas eleitorais ainda em destaque, os especialistas esperam que o BC apenas reforce seu compromisso na busca do cumprimento das metas de inflação.
"Não deve ter uma alteração relevante em relação à sinalização dada em setembro. A comunicação deve indicar a manutenção da Selic em território significativamente contracionista por um período prolongado, e que o Copom vai manter a vigilância e vai retomar o processo de ajuste se a ancoragem das expectativas não ocorrer conforme o esperado", afirma Sérgio Goldenstein, estrategista-chefe da Warren Renascença e ex-chefe do Departamento de Operações do Mercado Aberto (Demab) do BC.
"Não houve uma alteração relevante no balanço de riscos" desde o encontro de setembro, acrescenta Goldenstein. "O Copom é quase um não evento dessa vez."
Segundo Fernando Gonçalves, superintendente de pesquisa econômica do Itaú, existe certo consenso no mercado de que o BC deverá prosseguir com a comunicação cautelosa adotada no encontro de setembro, até pela falta de novos fatos que poderiam gerar alguma mudança na condução da política monetária.
"O BC vai reforçar o tom de cautela que já foi adotado na última reunião, indicando que a discussão de cortes de juros ainda está distante", afirma Gonçalves, que prevê o início da redução na Selic no terceiro trimestre de 2023, com a taxa de juros fechando o próximo ano em 11%.
No relatório Focus desta semana, os economistas preveem a taxa básica de juros em 11,25% em dezembro do ano que vem.
Economista-chefe da MB Associados, Sérgio Vale afirma que, além da manutenção de um cenário relativamente estável desde setembro, a proximidade do encontro do Copom com o segundo turno das eleições deve impedir sinalizações mais incisivas em qualquer sentido.
"O comunicado do BC deve ser bem anticlímax, porque está muito perto das eleições, o BC não vai ser muito agressivo ou fora do tom usual para não gerar nenhum ruído político", diz Vale.
Sócio e economista da gestora Kairós Capital, Marco Maciel afirma também que, apesar das deflações nos últimos meses, o núcleo da inflação de serviços e de alimentos, que indica o comportamento futuro dos preços, segue ainda em um nível elevado, o que impede que o BC faça neste momento qualquer sinalização no sentido de um corte na Selic nas próximas reuniões.
Trazer as expectativas de inflação de 2024 para baixo será o fiel da balança para o BC decidir sobre o início do ciclo de corte dos juros, diz o economista da Kairós. O mercado trabalha hoje com uma expectativa de inflação em torno de 3,5% para 2024, acima da meta de 3% do BC para o período, diz Maciel.
A questão fiscal, e a incerteza sobre a política econômica e os impactos para a condução da política monetária a partir do ano que vem, também deverão estar entre os aspectos a serem destacados no comunicado do Copom, afirma o economista.
"Não tem ainda motivo para soltar fogos e já sinalizar algum corte mais prematuro ao longo de 2023", diz Maciel. A redução da Selic no ano que vem, afirma, estará condicionada à condução da política fiscal. O economista prevê a Selic em 10,5% no final de 2023, com o BC iniciando o processo de corte nos juros a partir de junho.
Coordenadora do Boletim Macro do FGV Ibre (Instituto Brasileiro de Economia da Fundação Getulio Vargas), Silvia Matos afirma que, enquanto o aperto monetário do BC trabalha no sentido de desacelerar a economia, a política fiscal do governo tem atuado na ponta contrária, em uma espécie de cabo de guerra que atrapalha o processo de controle inflacionário.
"Sabemos que as reduções de impostos vão ser revertidas no ano que vem, pelo menos parcialmente. Isso cria volatilidade com relação às expectativas inflacionárias", diz a especialista.
RISCO DE RECESSÃO GLOBAL DEVERÁ SER TEMA CADA VEZ MAIS PRESENTE NA COMUNICAÇÃO DO BC
Gonçalves, do Itaú, afirma ainda que o cenário global foi o que mais se alterou desde a última reunião do Copom, com um risco crescente de recessão nas grandes economias em 2023. Esse é um aspecto que deve "entrar mais fortemente na comunicação" do BC, prevê.
Junto com o fiscal, o cenário global é a maior preocupação do BC para 2023, diz Vale, da MB. E, havendo uma recessão global, o comportamento do câmbio será um ponto de atenção a ser monitorado, em especial a depender da condução da política fiscal, afirma o economista.
Goldenstein, da Warren Renascença, diz que o mercado passou a prever ao longo das últimas semanas um juro terminal mais alto nos Estados Unidos, alcançando um patamar em torno de 5% em 2023.
O estrategista acrescenta que, apesar da revisão nas projeções para os juros americanos, que poderia levar a um fortalecimento do dólar, o câmbio no país não sofreu grande impacto, com a moeda americana tendo encerrado na sexta-feira passada cotada a R$ 5,14, contra R$ 5,17 ao final da reunião de setembro do Copom --nesta segunda-feira (24) a moeda americana disparou quase 3%, a R$ 5,30, mas em um movimento que não guarda relação com o cenário externo, mas sim com os ataques do ex-deputado Roberto Jefferson a policiais federais no domingo (23).
"Se acontecesse alguma coisa extraordinária na Ucrânia que tivesse impactos aqui dentro muito grandes, poderia acontecer de o Banco Central ter de fazer alguma outra coisa, mas no momento não tem nada dizendo isso", afirma Sérgio Werlang, economista e ex-diretor de política econômica do BC.
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