SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) - Um dos cotados para assumir o ministério da Economia em um eventual governo Lula, Henrique Meirelles defendeu nesta terça-feira (25) o descumprimento do teto de gastos para bancar o Auxílio Brasil no valor de R$ 600 em 2023.
"Não é possível chegar para a família que precisa dos R$ 600 para comer e dizer que, a partir de agora, são só R$ 400. Não dá, pelo menos durante um bom tempo, até o país ter condições de criar emprego, renda", afirmou Meirelles, durante participação em live realizada pela gestora Kinea Investimentos, controlada pelo Itaú.
Segundo Meirelles, a diferença de R$ 200 no valor do auxílio financeiro deve gerar um custo adicional de R$ 53 bilhões para o Orçamento do governo.
Ele afirmou que, para abarcar o valor mais alto do Auxílio Brasil e outros gastos necessários no país, como investimentos em infraestrutura e na área social, uma alternativa seria "criar uma excepcionalidade para 2023, aquilo que o mercado chama de 'waiver' [dispensa de uma exigência], dizendo o seguinte: 'em 2023, nós vamos excepcionalmente superar o teto' ", mas com uma sinalização ao mercado de que as regras voltariam a ser cumpridas mais à frente, eventualmente com algum ajuste em relação ao prazo.
MEIRELLES DEFENDE PROGRAMA DE PRIVATIZAÇÕES NA UNIÃO E NOS ESTADOS
O ex-ministro e ex-presidente do BC (Banco Central) também defendeu um programa de privatizações de empresas estatais, seja no âmbito federal ou no estadual. "O número de empresas estatais é muito grande", disse. "Muitas delas deixaram de ter finalidade."
Meirelles afirmou ainda que é a favor da privatização da Sabesp, de modo que a empresa de saneamento do estado de São Paulo seja capitalizada pelo setor privado para que tenha a capacidade de fazer os investimentos necessários para expandir as operações e atender as demandas da população. "Espero que o governador eleito privatize a Sabesp, porque é necessário."
Candidato do PT ao governo de São Paulo, Fernando Haddad tem se posicionado contrariamente a uma privatização da Sabesp.
O ex-ministro disse também que, caso Lula vença as eleições no domingo (30), acredita que o petista irá caminhar no campo econômico em direção ao seu primeiro mandato presidencial, com a adoção de uma política fiscal responsável e inflação dentro da meta, o que deverá resultar em crescimento econômico e geração de empregos.
Em um eventual terceiro mandato do ex-presidente, as estatais "vão simplesmente cumprir seu papel", disse Meirelles, que citou como exemplo o BB (Banco do Brasil). O banco estatal será tocado como um banco comercial, com o objetivo do governo de torná-lo cada vez mais eficiente e competitivo frente aos pares, afirmou.
EX-PRESIDENTE DO BC CRITICA POLÍTICA DE CAMPEÕES NACIONAIS
O ex-presidente do BC também criticou a política adotada pelo BNDES (Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social) durante a gestão petista, de "campões nacionais" -financiar grandes empresas para que se tornassem referência nos respectivos setores de atuação em escala global. "Aquilo só deu problema, inclusive criminais."
Segundo ele, o banco de fomento não deveria competir com o setor privado no financiamento de grandes empresas, tendo um foco mais voltado para ajudar no crescimento de pequenas e médias empresas. "O grande empresário tem que se financiar no mercado, não tem que se financiar no BNDES."
A reforma administrativa, para reduzir o tamanho do Estado e as despesas e abrir espaço para investimentos em infraestrutura e na área social, e a reforma tributária, para simplificar a incidência de impostos no país, também foram citados por Meirelles entre os projetos que entende que deveriam ser aprovados no próximo governo.
O ex-presidente do BC disse ainda que, frente a uma política fiscal de caráter expansionista (gastos crescentes e maiores que a arrecadação) adotada pelo governo nos últimos meses, considera que seria razoável a autoridade monetária promover mais algum pequeno ajuste para cima na taxa de juros, de forma a sinalizar a importância de uma responsabilidade econômica do governo.
"Talvez falar um pouco mais duro nessa linha", afirmou Meirelles.
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