SÃO PAULO, SP, E BELO HORIZONTE, MG (FOLHAPRESS) - O ministro da Economia, Paulo Guedes, debochou de Henrique Meirelles durante encontro com empresários em Minas Gerais, e disse que o ex-presidente do Banco Central ?que é cotado para assumir o Ministério da Fazenda num eventual governo Lula? nem economista é.
Em evento na Fiemg (Federação das Indústrias de Minas Gerais) nesta quarta-feira (26), Guedes justificou o porquê de o governo federal ter furado o teto de gastos no passado, argumentando que a medida foi mal construída.
"Nós chegamos e fizemos a cessão onerosa. Retomamos os leilões e demos dinheiro para os estados e municípios. Aí todo mundo [criticou dizendo] 'eles furaram o teto'... Nós furamos o teto porque é um teto muito mal construído", afirmou. "É tão mal construído que o economista, não é nem economista, o ministro que estão falando que vai ser do Lula, o Meirelles, nem economista é", acrescentou, em meio a aplausos da plateia.
Meirelles foi o responsável por criar o teto de gastos, regra que impede as despesas federais de crescerem além da inflação, durante o governo de Michel Temer (MDB). Ao dizer que o ex-ministro nem economista é, Guedes afirmou que até mesmo o pai da ideia passou a defender o descumprimento da medida.
Na terça-feira (25), Meirelles disse que, para bancar o Auxílio Brasil no valor de R$ 600, uma alternativa seria criar uma excepcionalidade para 2023, dizendo que a regra seria "excepcionalmente superada".
Após os aplausos da plateia de empresários, Guedes retomou com um deboche à forma como Meirelles fala. "Ele fez um teto, passou anos falando 'oh, porque estão furando meu teto' [imitando a pronúncia do ex-ministro]. Ele fala empolado, né?", afirmou em meio a risadas dos presentes. "Já anunciou que vai entrar furando", acrescentou.
Esta não é a primeira vez que Guedes admite que o governo federal furou o teto de gastos e diz que a regra tem imperfeições que precisam ser melhoradas. O próprio candidato à reeleição Jair Bolsonaro (PL) já afirmou que a medida pode ser alterada em um eventual segundo mandato.
Um exemplo recorrente de problema citado por Guedes é o caso da cessão onerosa, quando o governo cede a terceiros o direito de explorar reservas minerais, por exemplo. A União entendeu que teria de transferir parte dos ganhos a estados e municípios. Apesar de ser uma transferência pontual, era vetada pelo teto. Foi feita, então, a primeira alteração na regra de gastos, por meio de uma PEC (proposta de emenda à Constituição).
No evento desta quarta, o ministro voltou a citar esse exemplo. "O teto é justamente para não deixar o governo federal se hipertrofiar. Nós somos federalistas, nós acreditamos nos estados e municípios. Os recursos têm que ir para a base", disse. "Quando eu quero fazer o governo diminuir, eu não posso, porque furo o teto", acrescentou.
SALÁRIO MÍNIMO SEM CORREÇÃO PELA INFLAÇÃO
Durante o evento, Guedes voltou a falar que não haverá alteração no reajuste do salário mínimo. Na última quarta-feira (19), a Folha revelou divulgou o plano do Ministério da Economia de desindexar o salário mínimo e a aposentadoria.
Nesta terça (25), Guedes culpou petistas infiltrados no ministério pela ideia. Ao abrir sua fala na Fiemg, disse para os presentes "não acreditarem em fake news".
"As pessoas que não estão contentes em roubar só materialmente começam a roubar o espírito, a tranquilidade do cidadão e da família. Não tem nenhum plano Guedes, não tem nenhum plano secreto, não tem nada", disse.
Segundo ele, se o governo já deu aumentos de salário mínimo e aposentadoria durante a pandemia, após a "guerra" o reajuste será acima da inflação. Ao final de sua apresentação, o ministro disse que, quando chegou ao aeroporto de Belo Horizonte, ouviu alguém gritando: "tira a mão do meu salário".
Em referência velada ao candidato Lula, ele disse ter respondido. "Calma aí que o ladrão está chegando, ele vai ajudar você". Ao notar que sua declaração soou como uma aposta na vitória do adversário, Guedes se justificou dizendo que acredita na reeleição de Bolsonaro e que estava apenas alertando "para o lado que ele tem que olhar".
DISPUTA POR VOTOS EM MINAS GERAIS
A presença do ministro em evento na Fiemg é mais um capítulo da batalha por votos que Lula e Bolsonaro travam em Minas Gerais a quatro dias do segundo turno, que acontece no dia 30 de outubro. Além de o estado reunir o segundo maior eleitorado do país, desde a redemocratização todos os eleitos também triunfaram nas urnas mineiras.
Ao abrir o evento, o presidente da Fiemg, Flávio Roscoe, disse que o ministro foi convidado para fazer um resumo do trabalho do governo federal e uma análise das perspectivas futuras. Apoiadora da reeleição de Bolsonaro, a Federação foi palco de diversas visitas recentes do candidato.
Sem mencionar os governos petistas, Roscoe disse que, nos últimos anos, predominou uma mentalidade de que o empreendedor explorava a sociedade. "Havia um discurso político que demonizava a atividade empresarial. Com a chegada desse governo [Bolsonaro], esse discurso começou a ser desconstruído", afirmou.
Aplaudido diversas vezes, Guedes aproveitou a participação para exaltar sua gestão da Economia, fazer campanha para Bolsonaro e elencar promessas. O ministro repetiu o discurso de que projeções ruins para a economia são de militantes políticos e que elas não se concretizaram.
"Rolaram a desgraça para o ano que vem. No ano que vem, finalmente, o PIB não vai crescer. Se o outro candidato ganhar eu acredito", disse. Segundo ele, a percepção de que o Brasil estava melhor no passado é uma ilusão.
Guedes encerrou sua fala dizendo o estado de Minas Gerais precisa fazer a diferença nas eleições. "Estou vindo aqui para pedir socorro para a turma aqui", disse, fazendo o sinal de vitória com os dedos.
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