BRASÍLIA, DF (FOLHAPRESS) - As discussões sobre quem pode compor a equipe econômica e ocupar o cargo de ministro da área em caso de vitória de Luiz Inácio Lula da Silva (PT) neste domingo (30) ganharam impulso na reta final da campanha. Lula mantém silêncio e nem quer tocar no tema antes do resultado. A bolsa de apostas, porém, ganhou novo fôlego após as últimas falas e aparições de Henrique Meirelles.
Dentro do PT, os nomes mais fortes para ocupar a pasta são três.
O primeiro é o deputado federal Alexandre Padilha (PT-SP), que também é cotado para outras funções, como negociador político junto à Presidência ou ainda ministro da Saúde.
O segundo é o senador eleito Wellington Dias (PT-PI), que demonstra interesse na Economia, mas também poderia ir para o ministério do Planejamento, Desenvolvimento e Gestão, que tende a ser reconstituído num eventual governo Lula.
O terceiro é Fernando Haddad, que está em acirrada disputa pelo governo do estado de São Paulo e tem destino ainda incerto.
No entanto, chama a atenção dos próprios petistas que Meirelles emplacou uma corrida por fora. Ex-presidente do Banco Central em outras gestões de Lula, ele realinhou o discurso.
Em meados de setembro, quando abriu o voto no petista, Meirelles defendia a preservação da regra do teto de gastos, que foi elaborada justamente durante a sua gestão como ministro da Fazenda do presidente Michel Temer. Na época, falava que haveria um rombo de R$ 60 bilhões no Orçamento de 2023.
Nos últimos dias, porém, ele saiu em defesa dos pontos de vista do petista. Assumiu publicamente a projeção de um rombo na casa de R$ 400 bilhões no Orçamento de 2023 e passou a defender que, por isso, seria prudente uma suspensão do teto de gastos no início do próximo governo.
Ou seja, uma espécie de freio de arrumação, como alternativa para garantir, entre outras medidas, a manutenção de um Auxílio Brasil de R$ 600, promessa de campanha de Lula que Meirelles também afirma ser importante.
"Teríamos uma excepcionalidade, uma flexibilização apenas em 2023, para abrir espaço no Orçamento, que está sendo drenado por todas as benesses eleitorais", afirmou Meirelles. Na lista de problemas, diz ele, estão os efeitos da PEC Kamikaze e do orçamento secreto, com suas emendas de relator, medidas do atual governo que comprometem a saúde fiscal.
Meirelles defende que, nesse meio tempo, seria essencial votar as reformas tributária e administrativa, para abrir espaço no Orçamento.
As duas agendas também são importantes para o PT conseguir cumprir parte das promessas de campanha. A ampliação da faixa de isenção do Imposto de Renda de Pessoa Física, dos atuais R$ 1.903,98 para R$ 5.000, anunciada por Lula, depende de uma reorganização dos tributos sobre renda e empresas, incluindo instituir a cobrança sobre distribuição de lucros e dividendos.
Nesta quarta-feira (26) o ministro Paulo Guedes (Economia) respondeu publicamente as críticas contra a sua gestão ter furado o teto, dando estocadas em Meirelles.
"Nós furamos o teto porque é um teto muito mal construído", afirmou. "É tão mal construído que o economista, não é nem economista, o ministro que estão falando que vai ser do Lula, o Meirelles, nem economista é", afirmou, em meio a aplausos durante um evento na Fiemg (Federação das Indústrias de Minas Gerais).
Procurado pela reportagem para avaliar o comentário, Meirelles achou graça. "Guedes disse várias coisas, entre outras, que Lula ia acabar com o FGTS e com o Simples, é tudo sinal de desespero", afirmou, negando que tenha tido qualquer discussão sobre ocupar algum ministério num eventual terceiro mandato de Lula.
A análise geral é que o teto de gastos está com os dias contados seja quem for o novo presidente. Lula fala abertamente em revogação do teto. Pelo lado de Bolsonaro, Guedes já anunciou o que chama de aprimoramento da regra, e há técnicos no governo preparando um novo arcabouço fiscal.
No entanto, a campanha de Lula vem sendo cobrada a dar clareza sobre o que vai colocar no lugar do teto. Quem vê a ascensão de Meirelles nos últimos dias argumenta que seria uma vantagem para Lula se o próprio, que é um dos pais do teto, pedisse a licença para elevar os gastos no primeiro ano de governo e um tempo para a revisão da regra fiscal.
Além da experiência na pasta, Meirelles tem a confiança de Lula, um pré-requisito importante para quem for ocupar o cargo, e a simpatia do mercado. Apenas outro nome tem posição similar, Luiz Carlos Trabuco, presidente do Conselho de Administração do banco Bradesco. No entanto, ele resistiu aos convites em outas ocasiões.
Economistas liberais que declararam apoio a Lula, como Arminio Fraga, apesar de serem reconhecidos como profissionais muito qualificados, enfrentariam forte resistência política para serem ministros da Economia, não apenas no PT, mas dentro da coligação que apoia o candidato. O mesmo vale para Persio Arida, ainda que ele tenha aberto o voto em Lula e desfrute da confiança e do apreço de Geraldo Alckmin, o vice na chapa petista. Arida foi coordenador do programa econômico de Alckmin quando ele disputou a Presidência em 2018.
SECRETÁRIOS ENTRAM NO RADAR
Nos últimos dias, também passaram a ser avaliados eventuais candidatos a outros cargos. Despontam economistas como Felipe Salto e Bernard Appy.
Especialista em contas públicas, Salto ajudou a fundar e comandou a IFI (Instituição Fiscal Independente), ligada ao Senado. Atualmente, é secretário da Fazenda e Planejamento do Estado de São Paulo. Cogita-se o nome para o Tesouro Nacional. No primeiro turno, Salto abriu voto na chapa Lula-Geraldo Alckmin.
Appy, um especialista em tributação, foi titular da Secretaria de Política Econômica e da Secretaria Extraordinária de Reformas Econômico-Fiscais, ambas ligadas ao Ministério da Fazenda, durante os governos Lula. Atualmente, é diretor do CCiF (Centro de Cidadania Fiscal). Avalia-se sua ida ao governo para justamente ajudar a destravar a reforma tributária.
À ESPERA DE SP
Internamente, muita gente no PT gostaria que o Ministério da Economia fosse para Fernando Haddad (PT), que disputa o governo do estado de São Paulo com Tarcísio de Freitas (Republicanos). As pesquisas apontam que o desfecho do pleito ainda é uma incógnita.
Seus defensores dizem que ele é preparado para o posto. Haddad é advogado, com mestrado em Economia. Foi analista do antigo Unibanco e consultor da Fipe (Fundação de Pesquisas Econômicas). Antes de ser Ministro da Educação nos governos petistas, integrava a equipe do Ministério do Planejamento na gestão de Guido Mantega (2003?2004) e participou da elaboração do projeto de lei que instituiu no Brasil a PPP (Parceria Público-Privada).
No entanto, dentro de alguns segmentos do próprio partido, existe a percepção de que Haddad não seria bem recebido pelo mercado financeiro e alguns empresários mais conservadores, o que poderia prejudicar a interlocução com esse segmento. Tudo que um novo governo Lula não precisa, avaliam, é a má vontade dos agentes econômicos.
No primeiro turno, Freitas terminou com 42,3% dos votos válidos, bem à frente de Haddad, que teve 35,7%, mas o petista mostra avanços. Pesquisa Ipec divulgada nesta terça-feira (25) mostrou um empate técnico. Freitas tem 52% e Haddad 48% dos votos válidos.
Em caso de derrota do petista em São Paulo, há ainda quem cogite até uma eventual dobradinha entre Meirelles e Haddad, com Meirelles encabeçando a Economia e Haddad no posto de ministro do Planejamento.
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