SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) - Depois de uma abertura negativa, o mercado financeiro iniciava uma reação positiva no final da manhã desta segunda-feira (31), dia seguinte ao resultado da eleição que confirmou Luiz Inácio Lula da Silva (PT) como o primeiro brasileiro eleito três vezes para a Presidência da República.
O petista venceu o segundo turno da disputa neste domingo (30) ao derrotar o atual chefe do Executivo, Jair Bolsonaro (PL).
Por volta das 11h30, o dólar comercial à vista caía 1,47%, cotado a R$ 5,2240. Na Bolsa de Valores brasileira, o indicador de referência Ibovespa subia 1,19%, aos 115.889 pontos.
Ações de empresas de setores mencionados como prioritários por Lula em seu discurso após a vitória ganhavam fôlego. Os papéis da MRV, construtora especializada em moradias mais acessíveis à população, disparavam 7%, liderando as altas da sessão. Ativos do varejo e do setor de educação também apresentavam valorização.
Os papéis mais negociados da Petrobras ainda perdiam 4,5%, mas mostravam certa recuperação em relação ao tombo de quase 7% na abertura.
No início da manhã, o dólar saltou acima dos R$ 5,40 e as ações de empresas brasileiras apresentaram fortes quedas no exterior nas negociações que ocorreram antes da abertura das Bolsas.
Mais cedo, os papéis da Petrobras listados nos Estados Unidos chegaram a tombar mais de 10% nas negociações pré-mercado. O índice iShares MSCI Brazil ETF, o mais conhecido indicador das ações brasileiras no exterior, chegou a cair 5%, reportou a agência Reuters.
Analistas do mercado financeiro pontuaram que o desempenho dos indicadores financeiros mais importantes para medir a confiança de investidores na economia ?Ibovespa, dólar e juros? dependerá das indicações do presidente eleito sobre a condução da economia e, além disso, da reação de Bolsonaro e de seus apoiadores à derrota.
"Existe um clima de incerteza porque o mercado espera a composição da base governista", afirmou Cristiane Quartaroli, economista do Banco Ourinvest.
Entre as principais preocupações de investidores com o governo de esquerda está a possibilidade de aumento dos gastos públicos.
"Há um temor quanto ao futuro da economia do país dado que, obviamente, a [expectativa de] revogação do teto de gastos aumentaria o risco fiscal", comentou Jansen Costa, sócio da Fatorial Investimentos.
Lula e Bolsonaro já demonstraram desgosto quanto ao teto de gastos, que limita o crescimento dos gastos públicos, sendo que o atual presidente afrouxou a regra para conseguir ampliar os gastos com benefícios sociais meses antes de iniciar sua campanha para tentar a reeleição.
Indicações de nomes nos quais o mercado confia para a condução da economia seriam o principal antídoto para o nervosismo dos investidores, segundo Rodrigo Cohen, analista da Escola de Investimentos, repetindo o nome do ex-ministro Henrique Meirelles como um dos preferidos do mercado.
"O mercado abriu nervoso. Se Lula começar a anunciar bons nomes da equipe, isso pode ser positivo para a Bolsa. Caso indique Meirelles, a Bolsa pode ir para cima", comentou.
Cohen também ressaltou que o silêncio do atual presidente sobre a decisão manifestada pela população nas urnas torna o ambiente para os negócios ainda mais tenso. "Ainda não tivemos nenhuma fala oficial de Bolsonaro", disse.
No primeiro discurso como presidente eleito, Lula fortaleceu a perspectiva de um governo de coalizão, com um futuro mais estável para o Brasil, segundo os economistas Arminio Fraga, ex-presidente do Banco Central, e Edmar Bacha, um dos pais do Plano Real.
Investidores ampliaram na última sexta-feira (28) as vendas de ações com grande peso na Bolsa de Valores, enquanto reforçaram amplamente compras de papéis baratos ligados ao varejo e educação.
Essa troca de ativos levou o Ibovespa a fechar o dia com ligeira queda de 0,09%, aos 114.539 pontos, acumulando perda semanal de 4,5%, na contramão da recuperação dos principais índices no exterior.
No último dia de negociações antes do segundo turno das eleições presidenciais, o movimento no mercado doméstico foi interpretado por analistas como uma tentativa de investidores de incluírem em suas carteiras ações com maior potencial de valorização em caso de vitória de Lula.
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