SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) - Indicadores do mercado financeiro correram numa montanha-russa nesta segunda-feira (31) enquanto investidores ajustavam suas carteiras ao pouco que eles conseguiam enxergar sobre o futuro da economia brasileira após a vitória de Luiz Inácio Lula da Silva (PT), primeiro brasileiro eleito três vezes para a Presidência da República.
O petista ganhou o segundo turno da disputa neste domingo (30) ao derrotar o atual chefe do Executivo, Jair Bolsonaro (PL).
Ao final do dia de negociações no mercado, o saldo foi positivo para os investimentos em ações. A Bolsa de Valores brasileira fechou em alta de 1,31%, com o Ibovespa escalando aos 116.037 pontos.
O dólar comercial à vista caiu 2,60%, cotado a R$ 5,1640, depois de ter saltado acima dos R$ 5,40 no início do pregão.
Apesar da valorização da maior parte das ações nesta sessão, principalmente as que pertencem a empresas potencialmente beneficiadas por políticas públicas esperadas para uma gestão petista, houve impressionante queda nos preços dos ativos de companhias controladas pelo governo.
Os papéis preferenciais da Petrobras, que são os mais negociados da companhia na Bolsa, derreteram 8,47%. As ações do Banco do Brasil despencaram 4,64%.
Os juros DI (Depósitos Interbancários), como são chamadas as taxas desses contratos negociados entre bancos e que servem de referência para todo o setor de crédito, também caíram no curto, médio e longo prazos.
Analistas do mercado financeiro pontuaram que o desempenho nos próximos dias dos indicadores financeiros mais importantes para medir a confiança de investidores na economia ?Ibovespa, dólar e juros? dependerá das indicações do presidente eleito sobre a condução da economia e, além disso, da reação de Bolsonaro e de seus apoiadores à derrota.
"Existe um clima de incerteza porque o mercado espera a composição da base governista", afirmou Cristiane Quartaroli, economista do Banco Ourinvest.
Entre as principais preocupações de investidores com o governo de esquerda está a possibilidade de aumento dos gastos públicos.
"Há um temor quanto ao futuro da economia do país dado que, obviamente, a [expectativa de] revogação do teto de gastos aumentaria o risco fiscal", comentou Jansen Costa, sócio da Fatorial Investimentos.
Lula e Bolsonaro já demonstraram desgosto quanto ao teto de gastos, que limita o crescimento dos gastos públicos, sendo que o atual presidente afrouxou a regra para conseguir ampliar os gastos com benefícios sociais meses antes de iniciar sua campanha para tentar a reeleição.
Indicações de nomes nos quais o mercado confia para a condução da economia seriam o principal antídoto para o nervosismo dos investidores, segundo Rodrigo Cohen, analista da Escola de Investimentos, repetindo o nome do ex-ministro Henrique Meirelles como um dos preferidos do mercado.
"O mercado abriu nervoso. Se Lula começar a anunciar bons nomes da equipe, isso pode ser positivo para a Bolsa. Caso indique Meirelles, a Bolsa pode ir para cima", comentou.
Cohen também ressaltou que o silêncio do atual presidente sobre a decisão manifestada pela população nas urnas torna o ambiente para os negócios ainda mais tenso. "Ainda não tivemos nenhuma fala oficial de Bolsonaro", disse.
No primeiro discurso como presidente eleito, Lula fortaleceu a perspectiva de um governo de coalizão, com um futuro mais estável para o Brasil, segundo os economistas Arminio Fraga, ex-presidente do Banco Central, e Edmar Bacha, um dos pais do Plano Real.
Investidores ampliaram na última sexta-feira (28) as vendas de ações com grande peso na Bolsa de Valores, enquanto reforçaram amplamente compras de papéis baratos ligados ao varejo e educação.
Essa troca de ativos levou o Ibovespa a fechar o dia com ligeira queda de 0,09%, aos 114.539 pontos, acumulando perda semanal de 4,5%, na contramão da recuperação dos principais índices no exterior.
No último dia de negociações antes do segundo turno das eleições presidenciais, o movimento no mercado doméstico foi interpretado por analistas como uma tentativa de investidores de incluírem em suas carteiras ações com maior potencial de valorização em caso de vitória de Lula.
Diante do prejuízo obtido na Bolsa nesta segunda, o Banco do Brasil emitiu uma nota para afirmar que cumprirá as exigências do processo de transição.
"Como integrante da administração pública o BB sempre cumpriu com a legislação que estabelece as regras de transição entre governos. O BB mantém sua postura de prestar neste momento todas as informações que forem solicitadas", informou a nota.
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