SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) - Embora a inflação venha em queda ao longo dos últimos meses, motivada pelo ajuste das commodities no cenário internacional e pelas desonerações promovidas pelo governo brasileiro, a trajetória para os preços e para os juros no próximo ano ainda é incerta.
Segundo Fernando Honorato, economista-chefe do Bradesco, a indefinição sobre a política econômica a ser adotada pelo governo a partir de 2023 para controlar as despesas e a trajetória da dívida em relação ao PIB (Produto Interno Bruto) dificulta previsões sobre a dinâmica da inflação e da taxa de juros nos próximos meses.
"Sem saber quais são as regras de gastos do governo, é muito difícil prever onde vão estacionar tanto a taxa de juros quanto a inflação", afirmou Honorato, durante live realizada pelo banco nesta terça-feira (4).
Com base nas informações disponíveis hoje, o economista prevê que a inflação deve se acomodar no final do ano que vem ao redor de 5%, no teto da meta do BC, dificultando o início de um processo de corte na taxa de juros do país.
No mais recente relatório Focus, as projeções indicavam uma inflação de 5% em 2023, com uma taxa de juros de 11,25%.
Honorato disse ainda que um dos principais fatores que tem impedido o Brasil de ter um crescimento econômico significativo ao longo dos últimos anos é a incerteza sobre a evolução do quadro fiscal.
As sucessivas mudanças no teto de gastos nos últimos dois anos, afirmou o economista, enfraqueceram um pilar importante da sustentabilidade fiscal do país.
Ele disse ainda que a primeira medida a ser adotada pelo governo em 2023, seja com Lula ou com Bolsonaro na presidência, é reforçar o arcabouço fiscal, por meio de regras econômicas para gastos do governo e tributação que sejam consistentes com uma estabilização da dívida.
O economista-chefe do Bradesco afirmou que, de modo a acomodar um aumento das despesas no próximo ano com o Auxílio Brasil, o aumento nos salários dos servidores públicos e os precatórios (dívidas judiciais conquistadas na Justiça), o governo inevitavelmente terá de discutir o tema do aumento da tributação.
"O Brasil precisa crescer. A grande agenda dos próximos anos é o país conseguir crescer de forma sustentada, com inflação e juros baixos."
O risco decorrente do cenário de baixo crescimento da economia, acrescentou, é o de gerar incentivos políticos errados na tentativa de estimular a atividade por meio de caminhos equivocados.
"O receio de ficar muito tempo nesse baixo crescimento é de a classe política ter ideias nem todas na direção de uma boa política econômica", disse Honorato.
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