BRASÍLIA, DF (FOLHAPRESS) - O resultado acirrado da disputa presidencial e a liderança de Tarcísio de Freitas (Republicanos) na corrida pelo governo de São Paulo mudaram o clima eleitoral em boa parte do empresariado nacional, que agora pressiona o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) por um plano bem definido para a economia em troca da manutenção de apoio no segundo turno.
A mudança se deve a uma surpresa com os resultados das eleições, diante da demonstração de força de Jair Bolsonaro (PL) como cabo eleitoral, elegendo grande parte de seus candidatos ao Congresso e a governos estaduais.
Freitas, ex-ministro da Infraestrutura de Bolsonaro, conquistou 42% dos votos válidos em São Paulo, ante 35% de Fernando Haddad (PT), que liderava com ampla margem nas pesquisas de opinião.
Um banqueiro disse, sob condição de anonimato, que, diante desse novo cenário, Lula passou a ficar a um telefonema de distância da vitória se ligasse para Henrique Meirelles, ex-ministro da Fazenda e ex-presidente do Banco Central que deu apoio ao petista recentemente.
Meirelles é um nome bem-visto entre o setor privado. Como ministro da Fazenda de Michel Temer (MDB), sua gestão foi responsável pela aprovação do teto de gastos e da reforma trabalhista.
Para essa pessoa, o empresariado -tanto do setor produtivo, quanto do mercado financeiro- quer estar do lado vitorioso e exige condições para demonstrar apoio público a partir de agora.
Uma das reivindicações já chegou diretamente a Lula, segundo assessores e amigos do ex-presidente. Para eles, a simples indicação do ministro da Fazenda já atenderia a parte das expectativas.
Caso contrário, querem um compromisso claro de Lula em relação ao controle de gastos e obediência a uma forte âncora fiscal --atualmente, está em vigor o teto de gastos (medida que corrige os gastos de um ano pela inflação do ano anterior).
Além disso, pregam a defesa das reformas, especialmente a administrativa e a tributária. Também não querem a revisão das novas regras trabalhistas, embora aceitem algumas propostas aventadas por Lula durante a campanha.
Um empresário da indústria, que não quis se identificar, afirmou que estava apoiando Lula, mas que, com o crescimento de Bolsonaro, poderia ficar com o atual presidente.
Ele considera que Bolsonaro tende a manter o ministro Paulo Guedes à frente da Economia -com um plano que, apesar de não ser liberal como prometido, deu conta de melhorar alguns parâmetros econômicos, particularmente emprego e ambiente de negócios. Segundo esse industrial, o cenário torna difícil demonstrar apoio a algum candidato publicamente.
No varejo, outro grande nome afirmou que, apesar de Lula ser matematicamente favorito no segundo turno, o desempenho de Bolsonaro causou uma "pressão psicológica" juntamente à divergência entre os resultados da eleição e as pesquisas eleitorais.
Em sua avaliação, há chances de que Bolsonaro possa virar o jogo, especialmente entre os mais pobres no Nordeste e em Minas Gerais. O uso de palanques nos estados também será relevante.
Lula teria de virar votos no Sudeste -enfrentando Bolsonaro com palanque de Tarcísio de Freitas em São Paulo.
Integrantes da campanha do presidente afirmam que o governador reeleito de Minas, Romeu Zema (Novo), prometeu ao presidente uma virada no estado. Historicamente, o resultado da eleição em Minas indica o placar final da votação para presidente.
No entanto, esses assessores acham difícil que essa reversão ocorra, especialmente no norte do estado, que prefere Lula. Essa situação se repete no Norte e no Nordeste, onde os votos de Lula estariam consolidados.
Para vencer, Bolsonaro teria de virar mais de 60% dos votos atribuídos a Simone Tebet (MDB) e Ciro Gomes (PDT) -algo considerado improvável, mas não impossível.
Um importante empresário de Minas disse que houve um susto geral com o resultado das eleições, mas que continua valendo a máxima dos políticos mais experientes do estado segundo a qual "eleição e mineração, só depois da apuração".
Um banqueiro importante em São Paulo explica que essa imprevisibilidade trouxe cautela no segundo turno.
O empresariado também se preocupa com um possível aumento de abstenções no segundo turno, especialmente no Norte e Nordeste --base de apoio de Lula.
Para esse grupo, os eleitores dessas regiões foram às urnas motivados por candidatos regionais -deputados e senadores- que já foram eleitos. A pressão desses candidatos para que compareçam às urnas novamente inexistiria na segunda rodada.
Esses empresários também ficam inseguros diante da divisão de partidos no apoio a Lula -como o MDB, de Simone, e o PDT, de Ciro.
No caso dos pedetistas, embora o partido tenha apoiado integralmente Lula, Ciro nem pronunciou o nome do ex-presidente ao divulgar um vídeo de apoio.
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