BRASÍLIA, DF (FOLHAPRESS) - O presidente eleito, Luiz Inácio Lula da Silva (PT), ironizou a reação negativa do mercado financeiro a suas críticas ao teto de gastos e à política de austeridade fiscal. Ele afirmou nunca ter visto mercado "tão sensível" como o brasileiro.

Lula falou com apoiadores ao deixar o CCBB (Centro Cultural Banco do Brasil), sede do governo de transição.

Descontentamento de investidores, temendo a agenda fiscal do futuro governo após as falas do presidente desta manhã, contribuiu para a queda de 4% do Ibovespa, índice referência da Bolsa de Valores brasileira, aos 108.964 pontos. O dólar comercial à vista disparou 4,08% e fechou cotado a R$ 5,3960, na venda.

"O mercado fica nervoso à toa. Nunca vi o mercado tão sensível como o nosso. É engraçado que esse mercado não ficou nervoso em quatro anos de [Jair] Bolsonaro (PL)", respondeu Lula, após ser questionado por jornalistas sobre o desempenho da Bolsa e do dólar nesta quinta.

O petista também falou sobre a terceira vitória em eleições presidenciais. "O povo brasileiro é extraordinário. Eu acho que esse povo está precisando um pouco de paz, um pouco de tranquilidade. Eu espero que a gente consiga restabelecer o sonho do país, só isso."

Em 30 de outubro, no primeiro discurso após ser eleito, Lula mostrou disposição de buscar pacificação com a metade do eleitorado que votou em Bolsonaro. A campanha foi marcada por episódios de hostilidade, em um nível de rivalidade inédito.

"A partir de 1º de janeiro de 2023 vou governar para 215 milhões de brasileiros e brasileiras. Não apenas para aqueles que votaram em mim. Não existem dois Brasis. Somos um único país, um único povo, uma grande nação", afirmou na ocasião.

Lula foi questionado por um apoiador sobre se haveria perdão da dívida para o Fies (fundo de financiamento estudantil) de 2014. "Você tem que compreender que o Fies não é dívida, o Fies é um investimento social", disse.

Segundo dados do FNDE (Fundo Nacional de Desenvolvimento da Educação), mais de 1 milhão de contratos do Fies estavam com atraso no pagamento das parcelas. Desse total, cerca de 890 mil devedores podiam solicitar a renegociação das dívidas.

Em junho, Bolsonaro sancionou a medida provisória que prevê desconto na renegociação de dívidas do Fies. Os bancos são obrigados a conceder descontos que podem variar entre 12% e 99% para pagamento em parcela única. O saldo devedor pode ser parcelado em até 150 vezes, a depender da situação do estudante. A renegociação pode ser solicitada até o dia 31 de dezembro deste ano.

No discurso feito pela manhã, o presidente eleito questionou "por que pessoas são levadas a sofrer para garantir a tal da estabilidade fiscal nesse país?". "Por que toda hora as pessoas dizem que é preciso cortar gasto, que é preciso fazer superávit, que é preciso ter teto de gastos? Por que a gente não estabelece um novo paradigma?", completou.

Lula afirmou ainda que "algumas coisas encaradas como gastos nesse país vão passar a ser vistas como investimentos."

"Não é possível que se tenha cortado dinheiro da Farmácia Popular em nome que temos de cumprir a meta fiscal, cumprir a regra de ouro. Sabe qual é a regra de ouro nesse país? É garantir que nenhuma criança vá dormir sem tomar um copo de leite e acorde sem ter um pão com manteiga para comer todo dia."


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