SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) - Projetos e obras que se tornaram bandeiras do governo Jair Bolsonaro (PL) e que estão atualmente em andamento serão "abacaxis" para o presidente eleito Luiz Inácio Lula da Silva (PT) resolver, com custos financeiros e políticos inevitáveis.

As obras da Ferrogrão, que levaria soja do Mato Grosso ao Pará, por exemplo, são apoiadas com entusiasmo pelo agronegócio, mas repudiadas com a mesma intensidade por indígenas e defensores do Meio Ambiente, que a chamam de "nova Belo Monte". Pelas contas do governo, a ferrovia vai custar mais de R$ 21 bilhões.

Em artigo publicado no jornal francês Le Monde, em 2021, duas das principais cotadas para comandar o Ministério dos Povos Originários, Sônia Guajajara (PSOL-SP) e Joênia Wapichana (Rede-RR), escreveram que a Ferrogrão pode levar a destruição da floresta a um nível irreversível. Marina Silva (Rede-SP), deputada eleita e que é encarada como possível ministra do Meio Ambiente, também é crítica ferrenha.

Por outro lado, Neri Geller (PP-MT) e Carlos Fávaro (PSD-MT), cotados para a pasta da Agricultura, têm promovido o projeto.

"Não vejo nada mais sustentável que uma ferrovia para tirar 4.000 caminhões das estradas. Trazendo segurança, menos combustível fóssil sendo queimado, menos pneu sendo gasto", afirmou Fávaro, em julho de 2021, dizendo que o protesto de ambientalistas tinha fundo comercial.

Outra dor de cabeça são as escolas cívico-militares, turbinadas pelo governo Bolsonaro. De acordo com o MEC (Ministério da Educação), o Brasil tem hoje 216 escolas ativas e 89 colégios em implantação. Como mostrou a Folha, a construção do colégio militar de São Paulo, atualmente em andamento, pode ter custo global de quase R$ 300 milhões.

O governo Lula pretende interromper novos contratos para criação de escolas do tipo, mas ainda precisa pensar o que fará com as instituições já existentes e seus alunos. O tema surgiu no primeiro encontro sobre Educação organizado pelo grupo petista, na terça-feira (8).

Na área econômica, a entrada do Brasil na OCDE (Organização para Cooperação e Desenvolvimento Econômico) já está bem adiantada, com 112 dos 257 protocolos de conformidade às regras da entidade assinados. Prioridade do atual governo, e mesmo de apoiadores de Lula mais ao centro, a adesão não é bem vista no PT. O dilema é se vale a pena parar o processo em estágio tão avançado.


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