SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) - A crise que atinge o mercado de criptoativos parece estar longe do fim. Se entre os anos de 2020 e 2021, houve um momento de euforia e valorização, em 2022, o medo de um possível estouro da "bolha cripto" é real. Quem investiu em bitcoin (BTC) há um ano amarga hoje um prejuízo de quase 66% em relação à aplicação inicial. O mesmo vale para os que adquiriram Ethereum (ETH), que perdeu cerca de 62% de seu valor.

As duas criptomedas atingiram seus picos de cotação em 12 de novembro de 2021, chegando a US$ 64.400 e US$ 4.644,43, respectivamente (R$ 344,5 mil e R$ 24,8 mil). Hoje, elas estão cotadas em US$ 20.717,80 e US$ 1.554,62 (R$ 110,8 mil e R$ 8.314). No entanto, para os que compraram BTC nos primeiros três dias de 2020, seu investimento praticamente triplicou. Para os detentores de ETH, a aplicação teria aumentado mais de dez vezes.

A dúvida que tira o sono de economistas e investidores é se o "inverno cripto" continuará (e por quanto tempo) ou se essa montanha russa que atingiu os preços nos últimos três anos estaria se estabilizando.

O cenário macroeconômico ruim em razão da guerra na Ucrânia, dos impactos da pandemia e da política de aumento de juros do FED (o banco central norte-americano) são alguns dos principais fatores apontados para uma aversão ao risco pelos investidores.

Em meio à turbulência, o investidor migrou seus investimentos de ativos de risco, como cripto e ações de tech, para outros mais seguros, como a renda fixa. "Ocorreu de fato uma reprecificação desses ativos de risco num sinal que o dinheiro foi para opções mais seguras", afirma Rudá Pellini, cofundador e presidente da Arthur Mining, empresa de mineração de bitcoin.

Pellini acredita que o mercado de cripto pode voltar a crescer nos próximos meses. "Grandes empresas estão anunciando a adoção de cripto, como é o caso do cartão Mastercard personalizado com NFT. E isso ainda não foi precificado. No médio para longo prazo, caso o FED pare de ter grandes aumentos, o mercado pode retomar."

Apesar das recentes quedas, o mercado de criptomoedas cresce de forma acelerada no Brasil. Segundo relatório da Anbima (Associação Brasileira das Entidades dos Mercados Financeiro e de Capitais), o número de investidores de cripto no Brasil aumentou 12,6 vezes de 2020 para 2021.

No que diz respeito à posse de criptoativos pelos brasileiros, a Anbima constatou que cerca de 3% da população, ou 6 milhões de pessoas, teriam algum criptoativo em seu nome. O valor contabiliza cerca de R$ 270 bilhões, que corresponde a 3% do PIB do país.

Rafael Melillo, analista de tecnologia no setor bancário, apostou pela primeira vez em cripto em 2019 e novamente em 2020. E teve prejuízos em quase todas as aplicações. "Investi em BTC e ETH mais pela curiosidade, coloquei o mínimo possível. Mas depois foi pela ganância mesmo, porque um amigo me disse que a moeda Dogecoin ia aumentar muito", diz. Não deu certo.

Para ele, faltou informação. "A ênfase dada aos possíveis ganhos superou a análise dos riscos. Se alguém tivesse me apresentado de outra forma, talvez eu pensasse melhor." Ainda assim, Rafael se imagina voltando a investir em cripto. "Mas não em qualquer moeda ou apenas seguindo rumores", diz.


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