SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) - O dólar avançava frente ao real nesta quinta-feira (8), com investidores digerindo o comunicado de política monetária do Banco Central, que trouxe recados ao governo eleito de que há elevada incerteza sobre o futuro do arcabouço fiscal do país.

Por volta de 9h08 (de Brasília), o dólar à vista subia 0,26%, a R$ 5,2212 na venda.

Na B3, o contrato de dólar futuro de primeiro vencimento subia 0,21%, a R$ 5,2430.

Na sessão de quarta-feira (7), o dólar registrou forte queda frente ao real, após dados sobre a economia chinesa reforçarem a percepção dos agentes financeiros sobre uma alta menos intensa dos juros nos Estados Unidos.

A moeda americana encerrou os negócios do dia em queda de 1,19%, negociada a 5,2060 para venda.

Já a Bolsa de Valores brasileira terminou a sessão em queda, com o foco dos investidores locais voltado para as negociações em torno da PEC da Transição em Brasília, bem como para a última reunião do ano do Copom (Comitê de Política Monetária) do BC (Banco Central).

O índice acionário Ibovespa fechou nesta quarta com desvalorização 1,02%, negociado aos 109.068 pontos, puxado para baixo pelas ações da Vale, que cederam 3,5%, refletindo o desaquecimento da economia chinesa.

Nas Bolsas dos Estados Unidos, o dia foi marcado pela volatilidade elevada, com os índices oscilando entre altas e baixas ao longo de todo o pregão, encerrando os negócios com perdas moderadas -o S&P 500 caiu 0,19% e o Nasdaq teve perdas de 0,51%, enquanto o Dow Jones fechou estável.

Diretor da corretora de câmbio Correparti, Jefferson Rugik afirma que a queda do dólar nesta quarta veio alinhada com a desvalorização da moeda americana frente aos pares desenvolvidos e emergentes nesta quarta. O índice DXY, que mede a força do dólar contra uma cesta de moedas, recuou 0,50%.

Segundo Rugik, dados mais fracos do que o esperado da economia chinesa ajudam a alimentar nos investidores a expectativa de que o banco central dos Estados Unidos (Federal Reserve) poderá diminuir o ritmo de alta dos juros já a partir do próximo encontro da autoridade monetária, previsto para a semana que vem.

Uma alta menos intensa do que a inicialmente prevista para os juros americanos, por sua vez, contribui para reduzir as apostas do mercado acerca de um fortalecimento do dólar contra as demais divisas globais.

Números oficiais divulgados pelo gigante asiático mostrarem que a balança comercial chinesa teve uma forte queda em novembro, acima das previsões dos analistas, e no ritmo mais acentuado em dois anos e meio.

As exportações contraíram 8,7% no mês passado em relação ao mesmo período do ano anterior, no pior desempenho desde fevereiro de 2020. A expectativa de analistas era de um declínio de 3,5%.

A demanda fraca, tanto no país como também entre os pares comerciais, os problemas de produção causados pela política de covid zero e as dificuldades sofridas pelo setor imobiliário contribuíram para os resultados.

O diretor da Correparti acrescenta que a desidratação na PEC (proposta de Emenda à Constituição) da Transição, com valores menores do que o governo eleito vinha sinalizando, também favoreceu o desempenho do câmbio nesta quarta.

Na terça-feira (6), no primeiro teste de articulação do governo eleito, o PT conseguiu aprovar a PEC da Transição -embora com valor menor e tempo mais curto para a apresentação de uma nova regra fiscal.

A proposta aprovada pela CCJ (Comissão de Constituição e Justiça) do Senado amplia o teto de gastos para inclusão do Bolsa Família pelo prazo de dois anos e reduz o impacto fiscal total para R$ 145 bilhões anualmente em 2023 e 2024 -R$ 30 bilhões a menos que o apresentado inicialmente.

O texto foi aprovado na CCJ em votação simbólica, sem contagem de votos, e depende agora do aval de 49 dos 81 senadores no plenário em dois turnos. A sessão está prevista para esta quarta-feira (7).

Ações da Petrobras recuam após anúncio de saída do presidente da empresa Na Bolsa local, as ações da Petrobras chegaram a subir mais de 1% no início do pregão, mas inverteram de tendência e encerraram em queda, de 1,13% no caso das preferenciais, e de 1,34% das ordinárias.

O movimento dos papéis veio na esteira do anúncio da saída de Caio Paes de Andrade da presidência da empresa para assumir secretaria no novo governo de São Paulo.

Analista da Guide Investimentos, Gabriel Gracia afirma que a saída já era esperada, com a provável troca no comando da petroleira pelo governo eleito.

"A definição do próximo presidente, bem como novos planos de investimentos e políticas de preços, são essenciais para uma avaliação adequada do potencial de retorno para as ações da Petrobras", diz o analista em relatório.

Já os analistas do JPMorgan avaliam que ainda não é o momento de comprar ações da Petrobras, mesmo após a queda de mais de 20% desde as máximas apuradas em outubro, diante das incertezas sobre o que mudará na petrolífera de controle estatal com o novo governo a partir do próximo ano.

"Nós continuamos acreditando que ainda é muito cedo para comprar a Petrobras", afirmaram Rodolfo Angele e equipe em relatório enviado a clientes nesta quarta. "Investidores exigirão mais clareza do novo governo antes que os preços das ações reflitam totalmente os fundamentos. Em nossa opinião, levará pelo menos três a seis meses no novo governo para entendermos melhor a direção que a empresa tomará. Enquanto isso, preferimos ficar de fora da Petrobras."

A atenção dos investidores também se voltou na quarta para a reunião do Copom do BC, que manteve o patamar dos juros inalterado pela terceira reunião consecutiva e vai encerrar 2022 com a taxa básica (Selic) em 13,75% ao ano.

A decisão do Copom veio em linha com a projeção consensual do mercado financeiro de que a Selic continuaria estável em 13,75%. Levantamento feito pela Bloomberg mostrou que essa era a expectativa unânime entre os economistas consultados.

Para o próximo ano, a desconfiança do mercado é crescente diante de um cenário de maior incerteza fiscal. Há um temor em relação aos planos de aumento dos gastos públicos do governo eleito de Luiz Inácio Lula da Silva (PT) e seus efeitos sobre a inflação. A indefinição quanto ao novo arcabouço fiscal também gera temor entre investidores.


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