SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) - Para o presidente do Itaú Unibanco, Milton Maluhy Filho, a depender da dinâmica da inflação nos próximos meses, o BC (Banco Central) poderá ter condições de iniciar um processo de corte nos juros em meados do segundo semestre de 2023.
"Caso as pressões inflacionárias venham a arrefecer de forma consistente, o Banco Central poderá gradual e cautelosamente voltar a reduzir a taxa de juros em algum momento do segundo semestre do ano que vem", afirmou o executivo, em evento promovido pelo Itaú nesta quinta-feira (8).
Nas últimas semanas, as discussões sobre a política fiscal do governo eleito de Luiz Inácio Lula da Silva (PT), com as negociações em torno da PEC (proposta de emenda à Constituição) da Transição, aprovada na quarta-feira (7) no Senado, aumentaram o nervosismo dos investidores no mercado financeiro, que passaram a rever a trajetória da inflação e dos juros à frente, com um cenário não descartado por alguns de o BC ter de retomar o processo de alta dos juros.
Nesta quarta-feira (7), o BC manteve pela terceira reunião seguida a taxa Selic em 13,75% ao ano, mas fez alertas para o risco fiscal.
No relatório Focus, os economistas consultados pela autoridade monetária projetam a taxa Selic em 11,75% em dezembro de 2023, ante uma estimativa anterior de 11,50% na semana passada. O Itaú tem uma visão mais otimista, projetando a taxa básica de juros em 11% no final do ano que vem.
Maluhy Filho afirmou ainda que, pelo fato de o BC ter iniciado o processo de aperto monetário antes dos pares globais, a economia brasileira deve apresentar uma desaceleração no ritmo de crescimento, com os efeitos defasados e cumulativos da alta dos juros se concentrando em 2023.
Também deve influenciar para o desempenho do PIB brasileiro o fato de que as grandes economias estarão igualmente em um processo de desaceleração do crescimento, na esteira da alta dos juros pelos bancos centrais dos mercados desenvolvidos, afirmou o presidente do banco.
"O PIB mundial não deve apresentar contração, não deve ser um PIB negativo no ano que vem, mas a sensação térmica pode ser de recessão global", disse o executivo, que classificou as medidas de estímulos adotadas em escala global para reaquecer as economias por conta da Covid como "além do necessário e do razoável".
Segundo Maluhy Filho, 2023 vai ser um ano de transição. "Na economia global, da inflação para a desinflação, transição na nossa política econômica, do teto de gastos para um novo regime que deverá conciliar, e assim esperamos, a responsabilidade social e a responsabilidade fiscal".
"Fintechs já estão 'grandinhas' e começam a trazer um risco sistêmico" Para o presidente do Itaú Unibanco, a tecnologia estimulou o aumento da competição de grandes bancos com fintechs nos últimos anos.
"A tecnologia eliminou muitas barreiras de entrada. No passado, a gente se vangloriava dos nossos sistemas e da escala, e hoje a tecnologia te permite ser muito eficiente, você não precisa ter a escala que um grande banco tem para ser competitivo e entregar um preço com produto de qualidade na ponta", afirmou.
Ele disse ainda que, com a alta das taxas de juros, os investidores que haviam voltado as atenções para os negócios baseados em modelos digitais e expectativa de crescimento acelerado no futuro começaram a rever suas prioridades. "Não adianta ter um negócio que não é viável economicamente."
O presidente do Itaú afirmou que, na nova era de juros mais próximos das médias históricas, as fintechs passam a buscar cada vez mais formas de monetizar seus negócios para apresentar resultados sustentáveis aos acionistas.
"Vários deles estão mudando seus modelos de negócio. Aquilo que era uma remuneração de uma conta 100% do CDI, agora você já não remunera mais se o cliente girar o recurso antes de 30 dias, o que acontece na grande maioria dos casos", afirmou, em aparente referência à medida anunciada pelo Nubank em julho.
Maluhy Filho disse que vê hoje o mercado com um comportamento "muito mais racional" nas estratégias de alocação de recursos nas novas empresas digitais, mas que muitas vão sobreviver e estão fazendo um excelente trabalho.
Sobre o arcabouço regulatório e as mudanças promovidas na legislação de mercado, com aumento no requerimento de capital mínimo para as fintechs poderem operar, o presidente do banco afirmou que as medidas que têm sido adotadas pelos órgãos reguladores estão na direção correta.
"A proporcionalidade precisa acontecer. Vários já não são mais pequenos, já nasceram, já cresceram, estão grandinhos, e começam a trazer um risco sistêmico se tiverem problema."
Ele disse também que a estratégia de algumas fintechs de oferecer cartões de crédito sem anuidade com o foco em um público de baixa renda contribui para o endividamento de uma parcela da população que não tem educação financeira. "O que a gente observou é que houve uma sobreoferta do produto cartão no mercado. Nós temos reduzido de forma muito relevante a oferta do cartão no mar aberto", afirmou o presidente do Itaú.
Entre na comunidade de notícias clicando aqui no Portal Acessa.com e saiba de tudo que acontece na Cidade, Região, Brasil e Mundo!