SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) - A valorização das ações de exportadores de matérias-primas metálicas sustentava a leve alta da Bolsa de Valores brasileira e colaborou para moderar o avanço do dólar nesta sexta-feira (9), dia em que o presidente eleito Luiz Inácio Lula da Silva (PT) anunciou os nomes de cinco ministros que irão compor o seu governo. Fernando Haddad foi confirmado para a Fazenda, como era amplamente esperado.

O senador eleito Flávio Dino (PSB) irá para o Ministério de Justiça e Segurança Pública; o governador da Bahia, Rui Costa (PT), para a Casa Civil; o diplomata Mauro Vieira para o Itamaraty; e o ex-ministro da Defesa José Múcio Monteiro para a Defesa.

Embora a taxa de câmbio tenha refletido até as primeiras horas do dia a apreensão do mercado sobre a política econômica sob o comando de Haddad, o cenário favorável às exportações brasileiras reduziu a pressão negativa sobre o real.

O dólar comercial à vista fechou em alta de 0,53%, cotado a R$ 5,2450. No momento do anúncio dos ministros de Lula, por volta das 11h, a moeda americana chegou a subir cerca de 1% e superou os R$ 5,28, mas perdeu fôlego no decorrer da tarde.

No mercado de ações, o Ibovespa avançava 0,42%, aos 107.706 pontos. Os ganhos estavam basicamente concentrados no setor mineração, em um dia em que o volume movimentado na Bolsa esteve abaixo da média devido ao jogo no qual a seleção de futebol masculino do Brasil foi derrotada pela Croácia e eliminada da Copa do Mundo.

As ações ordinárias da Vale saltavam 3,91%. Esse segmento tem sido beneficiado pela expectativa de aumento das exportações para a China, uma vez que o país vem afrouxando restrições contra a Covid e adotando outras medidas para aquecer setores da sua economia.

Analistas do mercado destacaram que a reação pouco expressiva do mercado nesta sexta em relação ao anúncio de Haddad está relacionada à ausência de surpresas quanto à escolha de Lula. "Acho que a confirmação de Haddad acabou com essa incerteza", comentou a economista Cristiane Quartaroli, do Banco Ourinvest.

"Não era o nome favorito. O mercado até piorou um pouco depois do anúncio, mas já sabíamos que seria o Haddad", afirmou Ivan Kraiser, sócio-fundador da gestora Garín Investimentos.

"Haddad era esperado, inclusive o mercado já vinha precificando essa possibilidade há muito tempo", comentou Ricardo Jorge, especialista em investimentos e sócio da Quantzed.

Jorge ainda destacou que o desempenho dos ativos nesta sessão respondeu também a outras variáveis, como a divulgação de uma inflação em novembro que ficou "melhor do que a esperada", disse.

O índice oficial de inflação do Brasil teve alta de 0,41% em novembro, informou nesta sexta o IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística).

É o segundo mês consecutivo de elevação do IPCA (Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo), mas o indicador mostrou desaceleração frente a outubro, quando havia subido 0,59%.

Rafael Ihara, economista-chefe da gestora Meraki Capital, destacou que, apesar da "percepção bem ruim do mercado" sobre Haddad, a reação dos ativos ao anúncio é tímida e que as expectativas agora se voltam para "a nomeação de secretários considerados mais amigáveis pelos investidores", disse.

Ihara ainda citou que o anúncio ocorre em um momento que que já há forte deterioração dos ativos devido à PEC da Transição.

Principal mercado de ações mundial, a Bolsa de Nova York caminhava para fechar a semana com expressiva queda, interrompendo uma sequência de duas altas semanais.

O indicador S&P 500, referência para as negociações em Wall Street, perdia 0,49% no final desta sessão e registrava um tombo semanal de 3,12%.

BOLSA CAI 3,8% EM SEMANA MARCADA POR DEFINIÇÕES NA ECONOMIA

Apesar da ligeira alta na sessão desta sexta, a Bolsa brasileira caminhava para uma queda de 3,80% no acumulado desta semana, que também foi marcada pelo avanço no senado da PEC (proposta de emenda à Constituição) da Transição, além da própria confirmação de Haddad para comandar a Fazenda.

"O Haddad já estava no preço de uma semana que foi muito ruim para o mercado", afirmou Ramon Coser, especialista da Valor Investimentos.

Na quinta-feira (8), o Ibovespa terminou a sessão com uma baixa de 1,67%, aos 107.249 pontos. Essa foi a menor pontuação para um fechamento do principal índice da Bolsa de Valores desde o início de agosto.

A queda foi atribuída, principalmente, à preocupação de investidores quanto ao aumento de gastos públicos que pode ser autorizado pela PEC.

Na quarta-feira (7), o plenário do Senado aprovou a proposta sem modificar o texto que saiu da CCJ (Comissão de Constituição e Justiça) da Casa, apesar da pressão da oposição para que o valor e o prazo de duração fossem reduzidos.

A proposta, que ainda será votada na Câmara, amplia o teto de gastos em R$ 145 bilhões em 2023 e 2024 para o pagamento do Auxílio Brasil (que voltará a se chamar Bolsa Família) e libera outros R$ 23 bilhões para investimentos fora do teto em caso de arrecadação de receitas extraordinárias.


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