SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) - O dólar operava em queda em relação ao real no início dos negócios nesta sexta-feira (23), com a atenção dos investidores voltada novamente para Brasília, em busca de sinalizações sobre a política fiscal em 2023 e de novos nomes para a equipe econômica do governo eleito.

A caminho de encerrar uma semana de volumes reduzidos em forte baixa, depois que a PEC da Gastança foi promulgada com tempo de duração reduzido, às 9h10 (de Brasília), o dólar à vista recuava 0,56%, a R$ 5,1566 na venda.

Na véspera, a moeda americana fechou em baixa, com o mercado digerindo a tramitação da PEC da Gastança em Brasília, aprovada na noite de quarta-feira (21) em uma versão desidratada no Senado.

Nomeações de ministros do governo eleito de Luiz Inácio Lula da Silva, bem como de membros da equipe econômica pelo futuro ministro da Fazenda, Fernando Haddad, também seguiram no radar do mercado.

O dólar à vista recuou 0,36% na sessão passada, a R$ 5,1850 na venda, com a mínima do dia em R$ 5,1600 e a máxima em R$ 5,2250.

"O mercado volta a mostrar alguma demanda pela moeda americana abaixo dos R$ 5,17, patamar que deve mostrar dificuldade em ser ultrapassado no curto prazo", diz Leandro De Checchi, analista da Clear Corretora.

Já a Bolsa de Valores, após ter oscilado entre perdas e ganhos no início da sessão, foi na contramão da queda dos mercados globais e engatou a quarta alta seguida nesta quinta-feira, com valorização de 0,11%, aos 107.551 pontos.

"Brasília ficou no radar, com os agentes monitorando a formação da equipe ministerial do governo eleito e sem sinais efetivos de ajustes das contas públicas futuras", diz João Frota Salles, analista da Senso Investimentos, acrescentando que impediu uma alta mais acentuada da Bolsa o desempenho de ações de siderúrgicas e da Vale, na esteira de incertezas relacionadas à economia chinesa com o aumento nos casos de Covid no gigante asiático por conta da reabertura econômica.

Além disso, apesar da aprovação da PEC da Gastança no Senado, a incerteza que ainda paira sobre a condução da política fiscal em 2023 mantém os investidores com um tom maior de cautela, impedindo um desempenho mais positivo dos mercados, que também são impactados pela redução de liquidez de final de ano.

"Nosso time de economia avaliou as mudanças [com a desidratação da PEC] como positivas, mas destaca que o impacto fiscal ainda é bastante elevado", disseram os analistas da XP Investimentos em relatório, no qual lembram que as regras valerão por um ano, e não dois como inicialmente previsto, e considera um adicional de R$ 145 bilhões no orçamento de 2023, garantindo o pagamento do Bolsa Família de R$ 600 e um adicional de R$ 150 por criança de até 6 anos.

O projeto ainda deve possibilitar outros investimentos de R$ 23 bilhões fora do teto de gastos.

"Muito se fala a respeito do prazo da licença para gastar, que fora reduzido de dois para um ano. Contudo, seguem ignorando o fato de que em seis meses o executivo terá que apresentar uma nova âncora fiscal, que substituirá o teto, e poderá ser aprovado por lei complementar. Em outras palavras, não se precisará de licença para gastos fora do teto se o teto não existirá em seis meses, extinto por uma lei complementar, muito mais fácil do que uma emenda a constituição", afirmaram os analistas da Ativa Investimentos.

O mercado também se voltou nesta quinta para as indicações de ministros que vão compor o governo eleito, assim como para membros da equipe econômica do ministério da Fazenda.

O presidente eleito Luiz Inácio Lula da Silva (PT) anunciou 16 ministros que vão compor o seu governo a partir de janeiro de 2023 e apresentou as primeiras mulheres do mais alto escalão da próxima administração.

Entre as indicações, o vice-presidente Geraldo Alckmin teve o nome oficializado para o comando do Mdic (Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio), enquanto o senador eleito Wellington Dias (PT-PI) foi designado para chefiar o Ministério do Desenvolvimento Social, pasta pleiteada pela senadora Simone Tebet (MDB-MS).

"Nesta formação de governo com tantos ministérios (37), nosso maior receio é a ineficiência de gestão, perda de foco e entrega muito lenta de resultados", diz o economista-chefe da Mirae Asset Wealth Managament, Julio Hegedus Netto em relatório.

Já o futuro ministro da Fazenda Fernando Haddad anunciou também nesta quinta quatro secretários de sua pasta.

No comando do Tesouro Nacional estará Rogério Ceron; na Secretaria de Política Econômica (SPE). Guilherme Mello; na Receita Federal, Robinson Barreirinhas; e na Secretaria das Reformas Econômicas, Marcos Barbosa Pinto, conforme antecipado pela coluna Painel, da Folha.

O economista da Mirae Asset afirma que Haddad tem formado um secretariado cheio de nomes jovens, mas com grande experiência no setor público. "Achamos que pode ser uma aposta positiva, até porque todos, com exceção de Guilherme Mello, não possuem um viés tão ideológico, sendo muito qualificados tecnicamente", diz Netto.

Os analistas da Guide Investimentos demonstram uma visão mais negativa. "Os nomes [anunciados por Haddad] frustraram um pouco, visto que outros economistas mais técnicos poderiam assumir algumas dessas pastas. Guilherme Mello talvez seja o nome mais polêmico entre eles, visto seu histórico acadêmico mais heterodoxo, mas era um que já era antecipado", afirmam os analistas da corretora.

Nas Bolsas dos Estados Unidos, os principais índices de ações operam em queda, após dados revisados para cima do PIB (Produto Interno Bruto) e do mercado de trabalho renovarem os receios do mercado com um aperto mais forte de juros pelo Federal Reserve (Fed, banco central dos EUA).

O S&P 500 recuou 1,45%, o Nasdaq cedeu 2,18% e o Dow Jones teve desvalorização de 1,05%.

A queda das ações nos EUA veio após o governo americano informar que o PIB do país aumentou a uma taxa anualizada de 3,2% no último trimestre. O dado representa revisão para cima em relação ao ritmo de 2,9% relatado no mês passado. A economia havia contraído a uma taxa de 0,6% no segundo trimestre.

Além disso, o Departamento do Trabalho dos EUA informou que os pedidos iniciais de auxílio-desemprego subiram em 2 mil, para 216 mil na semana encerrada em 17 de dezembro, abaixo da estimativa de economistas consultados pela Reuters, que projetavam 222 mil pedidos.

"A economia norte americana, por mais que demonstre sinais claros de desaceleração, ainda segue pujante. Com isso, a preocupação do mercado em relação à quanto o Federal Reserve terá que elevar o juro para controlar os preços se acentua", dizem os analistas da Guide.


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