SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) - O pacote de medidas anunciado nesta quinta-feira (12) pelo ministro da Fazenda, Fernando Haddad, foi recebido no empresariado com uma avaliação positiva sobre a proposta para mitigar o déficit, mas há ressalvas.
Lawrence Pih, um dos primeiros empresários a apoiar o PT nos anos 1980, afirma que a intenção do governo é boa, porém, é preciso avaliar até que ponto as projeções da equipe econômica podem se tornar realidade.
"Não será fácil aumentar a arrecadação, pois 2023 sinaliza pífio crescimento econômico no Brasil e recessão mundial", disse o investidor.
Para ele, Lula terá de "navegar com extrema habilidade" para contornar a ala política mais à esquerda ?representada por Aloízio Mercadante (BNDES), Nelson Barbosa e Gleisi Hoffmann?, dar autonomia para Haddad e Simone Tebet (Planejamento) e não se afastar do mercado.
"Ele tem de ter um discurso progressista, mas ao mesmo tem de ser comedido em não assustar o motor de crescimento, que é o setor privado. Era mais fácil no primeiro mandato pois [Antonio] Palocci e, principalmente [Henrique] Meirelles, serviam de para-choque. Hoje com Haddad e Tebet é mais difícil, não tem um banqueiro no primeiro escalão para absolver as pancadas", diz.
Laercio Cosentino, da Totvs, pede reformas. "Toda medida que vise a redução do déficit do Brasil tem o apoio de quem pensa no país no médio e longo prazo. Entretanto, precisamos ir além. Faz-se necessário apresentar e implementar um plano que inclua o social, o equilíbrio fiscal e as reformas estruturantes. Governar é saber priorizar", afirma.
A Abit (associação da indústria têxtil) pede "uma reforma tributária que seja simplificadora, que reduza litigiosidades e que garanta a sustentabilidade do Estado não pelo aumento de impostos, mas pela indução ao desenvolvimento de nossa economia", diz em nota.
Um dos pilares do plano que gerou desconforto foi o retorno do "voto de qualidade" no Carf (Conselho de Administração de Recursos Fiscais), tribunal administrativo responsável por julgar casos de discordância entre contribuinte e Receita Federal. O dispositivo, extinto em 2020, assegurava à Receita a manutenção da cobrança tributária em casos de empate no julgamento.
Segundo Haddad, sem o voto de qualidade, o prejuízo à União ultrapassa R$ 60 bilhões por ano.
No grupo de empresários do Esfera Brasil, a mudança é vista como negativa, ideia compartilhada pela Abrasca (associação das companhias abertas), que definiu como "equivocada" a atribuição de aumento na arrecadação ao retorno do voto. A medida, diz a entidade, pode aumentar o conflito judicial e gerar efeito contrário ao esperado por Haddad.
"Não é possível estimar ganhos de arrecadação dessa medida, a menos que se pressuponha interferência nos julgamentos, o que seria uma desvirtuação ainda maior do órgão, nem indicar essa alteração como uma solução para o crescente problema fiscal do país", afirmou a entidade.
Entre na comunidade de notícias clicando aqui no Portal Acessa.com e saiba de tudo que acontece na Cidade, Região, Brasil e Mundo!