DAVOS, SUIÇA (FOLHAPRESS) - Para 39% dos CEOs no mundo (e 33% no Brasil), as empresas que dirigem serão economicamente inviáveis daqui a dez anos caso não haja grandes mudanças, mostra a 26ª edição da Global CEO Survey, estudo feito anualmente pela consultoria PwC.

Para o estudo deste ano, foram ouvidos mais de 4.400 altos executivos de uma centena de países a partir do final de outubro último -portanto, após as eleições presidenciais no Brasil.

Os CEOs entrevistados, todos de empresas médias e grandes, se mostram pessimistas com o cenário macro: 73% deles afirmam esperar desaceleração da economia global neste ano, uma inversão quase exata das perspectivas colhidas em 2022, quando 77% disseram esperar aceleração e apenas 17%, uma perda de ritmo.

"O CEO, que às vezes é pressionado para produzir resultados no curto prazo, começa a olhar e pensar 'se eu não fizer as transformações adequadas eu não existo daqui a pouco, eu não vou estar competindo com os novos integrantes do mercado', então eu preciso fazer investimento", disse à Folha de S.Paulo Marco Castro, sócio-presidente da PwC no Brasil.

"Provavelmente o pior momento para chegar a essa conclusão é um momento de inflação, de redefinição de cadeias", completa Castro, que participa do lançamento do relatório nesta segunda (16) em Davos, onde ocorre o encontro anual do Fórum Econômico Mundial.

Além das duas ameaças citadas por Castro, também preocupam os CEOs as tensões geopolíticas (leia-se a Guerra da Ucrânia, e os temores que provoca nos vizinhos europeus, inclusive de uma ruptura de fornecimento de energia) e questões de cibersegurança.

Já o otimismo visto em 2022 é atribuído, neste momento, à expectativa de retomada econômica após o arrefecimento da pandemia de Covid, algo que até agora não se concretizou totalmente nem de forma equânime entre os países.

Apesar do cenário lúgubre, os brasileiros são os mais otimistas em relação ao desempenho da economia de seu país: 2 em cada 3 (66%) dizem crer em aceleração da economia nacional, seguidos pelos chineses (64% otimistas) e os indianos (57%).

Japoneses, americano, canadenses e franceses mostram graus semelhantes de pessimismo diante da economia global e das nacionais (29% esperam aceleração local no Japão; 17% no Canadá, 16% nos EUA e 12% na França). CEOs de Alemanha, Reino Unido e Itália estão ainda mais pessimistas com as perspectivas de seus países do que com a mundial (na Alemanha são só 6% os que esperam aceleração).

Esse desenho, segundo Castro, pode colocar o Brasil em posição estratégica, ainda que o país tenha seus próprios percalços. As empresas brasileiras, para o bem e para o mal, estão mais habituadas a lidarem com inflação, tendo se tornado mais resilientes a esse tipo de crise do que suas pares estrangeiras para as quais o cenário é inédito ou quase.

Além disso, aponta, o país é uma espécie de oásis em um momento em que a crise de energia é uma ameaça concreta e que as demandas por fontes limpas de fornecimento crescem.

Em contrapartida, os prometidos e necessários investimentos em educação e saúde ainda estão por vir, com inércia tanto do setor público quanto do privado diante do problema, afirma. Sobretudo, na opinião do presidente da PwC, o abismo digital no país só cresce, o que pode tornar o problema histórico de produtividade no país ainda maior no futuro.

De forma geral, os riscos globais pedem calibragem de foco. Os gestores de negócios, afirma Castro, devem restringir suas áreas de atuação para as premissas originais, o que também pode acelerar processos de fusão e aquisição (as empresas buscariam parceiros especializados em atividades não essenciais à sua produção, por exemplo). No caso brasileiro, esse movimento pode ocorrer nos setores de finanças e de varejo.

A PwC questionou os CEOs sobre quais medidas eles tomaram nos últimos 12 meses e quais pretendem tomar nos próximos 12 para enfrentar as crises. No ano que passou, a medida mais tomada foi o corte de custos operacionais (69% dos entrevistados), a diversificação de oferta de produtos e serviços (56%) e a busca de fornecedores alternativos (53%).

Para o ano adiante, as medidas mais citadas foram reavaliação de projetos em andamento ou de iniciativas importantes (42%), desaceleração dos investimentos (33%) e adiamento de transações (32%).

Corte de mão de obra é uma opção que 59% descartaram no intervalo passado e no futuro. Segundo os dados do estudo, contudo, os CEOs "evitam reduzir o quadro de profissionais, em parte, por causa do aumento nos índices de demissão voluntária registrados no ano passado em muitos países, entre eles o Brasil, no fenômeno conhecido como 'Grande Evasão'".

Os participantes da pesquisa, afirma o texto, parecem acreditar que os índices elevados de rotatividade continuarão, exceto nos Estados Unidos, onde a maioria prevê queda nessa rotatividade.

Indagados sobre quais países consideravam os três mais importantes para as perspectivas de crescimento da respectiva organização nos próximos 12 meses, apenas 4% mencionaram o Brasil (mesmo índice de 2022), deixando o país na décima posição entre os citados, com Estados Unidos (40%) e China (23%) liderando o ranking.

Quando a pergunta é feita a CEOs brasileiros, os líderes são os mesmos dois países, com o México (14%) e a Alemanha (13%) na sequência, superando a instável Argentina (12%).


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