DAVOS, SUÍÇA (FOLHAPRESS) - O ministro da Fazenda, Fernando Haddad (PT), afirmou que o governo não vai revogar a redução do IPI (imposto sobre produtos industrializados). O petista foi questionado sobre o tema em Davos nesta segunda (16), ao ser indagado sobre a declaração do vice-presidente e ministro da Indústria, Geraldo Alckmin, de que "a próxima meta é acabar com o IPI, e acabar com o IPI é a reforma tributária".

"Nós decidimos não reonerar o IPI justamente para sinalizar para a indústria que nós queremos aprovar a reforma tributária. Ela é essencial para buscar justiça tributária e reindustrializar o país, porque a indústria paga hoje quase um terço dos tributos [do Brasil] e responde por 10% da economia", afirmou a jornalistas brasileiros na cidade suíça.

Haddad está em Davos, junto com a ministra Marina Silva (Meio Ambiente), para participar do encontro anual do Fórum Econômico Mundial.

A possibilidade de inclusão da revogação do corte de 35% do IPI no pacote fiscal anunciado por Haddad na semana passada havia deixado o setor industrial em alerta.

Questionado sobre os prazos para a reforma tributária, o ministro se mostrou otimista. "Tem duas propostas que estão chamando a atenção dos parlamentares, as duas PECs [proposta de emenda à Constituição] 45 e 110, e nós entendemos que o caminho é chegar em um texto de consenso. Se depender do governo, nós vamos votar no primeiro semestre a reforma tributária", afirmou.

"Se o Brasil tomar as providências que precisa, e a gente precisa da parte dos três Poderes que haja uma sensibilização para isso, se a agenda que estamos propondo avançar, novo arcabouço fiscal no primeiro semestre, reforma tributária no primeiro semestre, e medidas para democratizar o acesso a crédito, o Brasil não tem por que não decolar", completou.

Lembrado de que seu antecessor na pasta, Paulo Guedes, também disse em sua primeira participação em Davos, em 2019, que aprovaria uma reforma tributária em seis meses, respondeu que o problema na ocasião era a proposta do governo anterior, centrada em recriar a CPMF (imposto sobre transações financeiras).

"O fato é que se apostou na reforma errada", declarou. "A CPMF está morta e sepultada."

Haddad afirma que a reforma capitaneada pelo economista Bernard Appy, secretário especial do ministério, está há seis anos em discussão. Ele também declarou que não há intenção de aumentar a carga tributária, embora tenha ressaltado que pode ser necessário algum tipo de calibragem ao longo da transição.

O ministro se reuniu nesta segunda com o chefe do Pnud (Programa de Desenvolvimento das Nações Unidas), Achim Steiner, com quem debateu educação, e com o presidente do BID (Banco Interamericano de Desenvolvimento), o brasileiro Ilan Goldfajn, para falar de linhas de crédito para energia limpa no Brasil, algo que o banco fomenta.

Haddad desembarcou em Davos no início da tarde de segunda com o intuito de vender um Brasil de economia e democracia sólidas e dedicado à agenda ambiental. Hospedado no mesmo hotel que o governador de São Paulo e seu ex-adversário eleitoral, Tarcísio de Freitas, os dois se trombaram após falarem com a imprensa e trocaram um abraço e perguntas amistosas.

Nesta terça, ele participa de um painel sobre Brasil ao lado de Marina Silva, de um almoço oferecido pelo banco Itaú BBA e de um jantar promovido pelo BTG, ambos com investidores. A agenda de encontros bilaterais dos próximos dois dias ainda não estava selada.


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