BRASÍLIA, DF (FOLHAPRESS) - O presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) criticou nesta quarta-feira (18) a atuação do Banco Central, questionando o atual patamar dos juros e classificando a autonomia da autoridade monetária como uma "bobagem". Além disso, ele considerou exagerada a atual meta de inflação a ser perseguida pela autarquia.
Para Lula, a atual meta de inflação --de 3,25%, com margem de tolerância de 1,5 ponto para cima ou para baixo-- obriga o BC a implementar um arrocho econômico por meio da elevação dos juros em um momento em que o Brasil precisa crescer.
Lula concedeu entrevista para a GloboNews veiculada na tarde desta quarta-feira (18). Ele fez as críticas ao BC ao ser perguntado sobre mudanças no arcabouço fiscal brasileiro.
"Nesse país, se brigou muito para ter um BC independente, que ia melhorar o quê? Eu posso te dizer com a minha experiência: é uma bobagem achar que o presidente de um BC independente vai fazer mais do que fez o BC quando o presidente [da República] era quem indicava", afirmou Lula durante a entrevista.
"Eu duvido que esse presidente do BC [Roberto Campos Neto] seja mais independente do que foi o [Henrique] Meirelles. Eu duvido. Por que, com o BC independente, a inflação está do jeito que está e o juros está do jeito que está?", questionou o presidente.
Henrique Meirelles foi o presidente do Banco Central durante os dois primeiros mandatos de Lula, entre 2003 e o fim de 2010.
O BC brasileiro, na verdade, não chega a ser independente e sim autônomo. O Congresso Nacional aprovou em 2021 a autonomia do banco, uma medida que busca reduzir a ingerência política sobre a instituição. Uma das principais medidas é que o presidente do BC e seu diretores passaram a ter mandato fixo, de quatro anos.
A independência seria um passo além e existe quando os bancos centrais têm poder para definir, eles próprios, suas metas e objetivos; além de terem liberdade operacional para definir como atuarão para atingi-las.
Lula na sequência também criticou a meta de inflação atual, argumentando que o índice acaba barrando o crescimento econômico brasileiro.
"Você estabeleceu uma meta de inflação de 3,7%. Quando faz isso, é preciso arrochar mais a economia para atingir aquele 3,7%. Por que precisava fazer 3,7%? Por que não faz 4,5%, como fizemos [nos seus mandatos anteriores]? A economia brasileira precisa voltar a crescer", afirmou o presidente.
A meta de inflação é definida pelo CMN (Conselho Monetário Nacional), que tem três votos. Durante o governo Bolsonaro, as cadeiras eram ocupadas pelo ministro da Economia, pelo secretário especial de Tesouro e Orçamento da pasta e pelo presidente do BC.
A meta para esse ano é de 3,25% e, para 2024, de 3%. Há uma margem de 1,5% para cima ou para baixo.
Assim como já havia feito anteriormente, Lula usou os resultados de seus dois primeiros governos para apontar que não é contra a responsabilidade fiscal e pediu, com base nisso, para as pessoas não exigirem isso dele. Também sinalizou que é preciso "fazer política fiscal, dar garantia que a gente não vai gastar mais que a gente ganha".
No entanto, também ressaltou que é necessário cumprir as obrigações com o social.
"Não peçam para mim seriedade fiscal. O que eu quero é que as pessoas que pedem estabilidade fiscal tenham responsabilidade social. Assumam compromisso com o social, porque não é possível esse país ter gente na fila do osso para pegar carne, ter 30% de pessoas passando fome", afirmou.
O presidente também afirmou que quer discutir com o setor produtivo, citando nominalmente a Fiesp, investimentos nas Forças Armadas para o desenvolvimento de novas tecnologias e da indústria de defesa.
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