BRASÍLIA, DF (FOLHAPRESS) - O presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) afirmou nesta segunda-feira (30) que pretende concluir o acordo comercial entre União Europeia e Mercosul até o fim do semestre, mas disse que o texto precisa passar por mudanças.
A declaração foi dada após o encontro com o chanceler da Alemanha, Olaf Scholz, no Palácio do Planalto, em Brasília.
"Vamos trabalhar de forma muito dura para concretizar esse acordo [entre União Europeia e Mercosul], mas alguma coisa precisa ser mudada, não pode ser tal como está", afirmou Lula, que disse ter conversado com o presidente da Argentina, Alberto Fernández, sobre o tema na visita ao país vizinho.
"Vamos fechar esse acordo, se tudo der certo, até o fim desse semestre", acrescentou.
O acordo comercial, que esteve no centro da conversa entre os mandatários no contexto da revitalização da parceria estratégica entre os dois países, teve sua negociação concluída em 2019 e seus termos não podem mais ser alterados. Pela tramitação normal, ele deveria ter seguido para tradução e depois submetido ao Conselho Europeu (que reúne chefes de governo dos 27 países membros do bloco), ao Parlamento Europeu e aos Parlamentos nacionais e regionais do bloco europeu.
No entanto, o descontrole no desmatamento da Amazônia durante o governo Bolsonaro levantou críticas ao Brasil em vários países do bloco e o acordo passou a sofrer oposição de blocos de eurodeputados e de governos de alguns países, como França, Áustria e Holanda, o que fez com que sua tramitação fosse congelada.
Para Lula, a questão das compras governamentais é central para as negociações. "Compras governamentais fazem crescer pequenas e médias indústrias brasileiras", disse. O presidente falou em achar um meio termo para negociar algo melhor "para aqueles que se sentem prejudicados". "Vamos sentar na mesa da forma mais aberta possível", complementou.
O petista esteve reunido, a sós, com o alemão por aproximadamente uma hora e meia. Na sequência, ocorreu uma reunião ampliada, de cerca de uma hora, com a presença de ministros Mauro Vieira (Itamaraty), Marina Silva (Meio Ambiente e Mudança do Clima), Luciana Santos (Ciência e Tecnologia), Alexandre Silveira (Minas e Energia) e o vice-presidente Geraldo Alckmin (Desenvolvimento, Indústria, Comércio e Serviços). O ex-chanceler Celso Amorim, chefe da assessoria especial do presidente, também esteve presente.
Os líderes ainda se encontraram com as delegações empresariais do Brasil e da Alemanha. Um potencial aumento do comércio bilateral e de investimentos, sobretudo no setor industrial, foi alvo da discussão.
No ano passado, a corrente de comércio entre os países superou US$ 19 bilhões (R$ 97 bilhões), com exportações brasileiras de US$ 6,3 bilhões (R$ 32 bilhões), importações de US$ 12,8 bilhões (R$ 65 bilhões) e superávit alemão de US$ 6,5 bilhões (R$ 33 bilhões). Mais de mil empresas alemãs atuam no Brasil.
No comando da Apex (Agência Brasileira de Exportações e Investimentos), o ex-governador do Acre, Jorge Viana (PT), participou de agendas bilaterais no Planalto com empresários estrangeiros.
A Guerra da Ucrânia e suas consequências globais, em termos de paz e segurança, segurança alimentar e energética, foram outros temas tratados no encontro de Lula com o chanceler alemão.
A questão ambiental esteve no centro do diálogo. Mais cedo, a ministra alemã da Cooperação Econômica e do Desenvolvimento, Svenja Schulze, anunciou um aporte de 200 milhões de euros (R$ 1,1 bilhão) da Alemanha para diversas ações relacionadas à área ambiental, sendo 35 milhões de euros (cerca de R$ 194 milhões) para o Fundo Amazônia. O anúncio do investimento foi divulgado em entrevista coletiva ao lado da ministra Marina Silva.
Em dezembro, depois da confirmação da eleição de Lula, Alemanha e Noruega, principais financiadores do Fundo Amazônia, já tinham se comprometido a liberar novos recursos.
Em entrevista à Folha de S.Paulo, Schulze citou a necessidade de reabilitar rapidamente os recursos parados no Fundo Amazônia, que tem R$ 3,3 bilhões em caixa, inutilizados pelo governo de Jair Bolsonaro (PL).
O atual governo tem sinalizado aos parceiros internacionais que o fundo é uma prioridade nas parcerias e deve ser usado de forma emergencial para as ações de fiscalização ambiental e combate ao desmatamento na Amazônia.
A vinda de Scholz é a primeira visita de um líder europeu ao Brasil desde o início do governo Lula. Na cerimônia de posse do terceiro mandato do petista, a Alemanha foi representada pelo presidente Franz-Walter Steinmeyer.
Antes de desembarcar no Brasil, Scholz esteve na Argentina e no Chile, no fim de semana, com os presidentes Alberto Fernández e Gabriel Boric.
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