BRASÍLIA, DF (FOLHAPRESS) - O Copom (Comitê de Política Monetária) do Banco Central manteve nesta quarta-feira (1º) a taxa básica de juros (Selic) em 13,75% ao ano pela quarta reunião consecutiva ?a primeira desde que o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) tomou posse.
No comunicado, o colegiado do BC subiu o tom e fez alertas sobre as incertezas fiscais e a piora nas expectativas de inflação, que estão se distanciando da meta em prazos mais longos.
"O Comitê reforça que irá perseverar até que se consolide não apenas o processo de desinflação como também a ancoragem das expectativas em torno de suas metas, que têm mostrado deterioração em prazos mais longos desde a última reunião", afirmou.
A decisão veio em linha com a projeção consensual do mercado financeiro. Levantamento feito pela Bloomberg mostrou que essa era a expectativa unânime entre os analistas consultados.
O anúncio ocorre em meio a um ambiente de juros altos, incertezas relacionadas à questão fiscal e ruídos gerados por falas de Lula e do primeiro escalão do governo ?incomodados com o patamar elevado da Selic e seus efeitos negativos sobre a atividade econômica.
A preocupação de economistas decorre da possibilidade de reoneração de tributos federais sobre combustíveis a partir de março e do desenho da nova regra fiscal que substituirá o teto de gastos ?mecanismo que limita o crescimento das despesas públicas à inflação registrada no ano anterior.
A aprovação da PEC (proposta de emenda à Constituição) que autorizou a ampliação de despesas neste ano também é apontada pelo mercado como uma sinalização de que o governo pode estar predisposto a uma política fiscal mais expansionista (mais gastos públicos, que pressionam a inflação e ameaçam o equilíbrio das contas do governo).
Diante do temor crescente, as expectativas de inflação tanto para este ano quanto para prazos mais longos pioraram desde a reunião anterior, em dezembro de 2022.
No cenário de referência do Copom, as projeções de inflação subiram de 5% para 5,6%% para este ano. Para 2024, o colegiado elevou a previsão de 3% para 3,4%.
O colegiado incluiu ainda um cenário alternativo, no qual a Selic é mantida constante ao longo de todo o horizonte relevante, com projeções de inflação de 5,5% para 2023, 3,1% para o terceiro trimestre de 2024 e 2,8% para 2024.
O BC disse também que seguirá vigilante e avaliará se a estratégia de manutenção da taxa básica de juros por período mais prolongado do que no cenário de referência será capaz de assegurar a convergência da inflação.
"O comitê enfatiza que os passos futuros da política monetária poderão ser ajustados e não hesitará em retomar o ciclo de ajuste caso o processo de desinflação não transcorra como esperado", afirmou.
A inflação projetada para 2023 no boletim Focus da última segunda (30) é de 5,74%, quase um ponto percentual acima do teto do objetivo a ser perseguido pelo BC (4,75%). Isso representaria um estouro da meta pelo terceiro ano consecutivo.
Para 2024, período de maior relevância para a atuação do BC hoje, a expectativa para o IPCA (Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo) subiu de 3,5% para 3,9% ?já acima do alvo central (3%).
Pressionado, o BC ainda não dá sinais de quando pretende iniciar o afrouxamento monetário com corte da Selic. Com 2024 na mira, o colegiado volta a se reunir nos dias 21 e 22 de março para recalibrar o patamar da taxa básica.
O ciclo de alta de juros foi interrompido em setembro de 2022 pelo Copom depois do mais agressivo choque desde a adoção do sistema de metas para inflação, em 1999.
Foram 12 aumentos consecutivos, com elevação de 11,75 pontos percentuais, de março de 2021, quando a taxa básica saiu de seu piso histórico (2%), a agosto do ano passado.
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