SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) - Em evento promovido pelo BTG Pactual nesta quarta (15), três nomes de referência em gestão de recursos afirmaram que é preciso revisar a atual meta de inflação para que seja possível diminuir os juros.
Para 2023, a meta é de 3,25%, com margem de tolerância de 1,5 ponto para mais ou para menos. Para 2024 e 2025, o patamar estabelecido é de 3%.
"A discussão é cabível", afirma Luis Stuhlberger, da Verde Asset. "Buscar uma meta irrealista não é coisa boa para o Brasil. Concordo que tem quer ter um arcabouço fiscal crível, os dois juntos podem jogar o Brasil num lugar melhor." Para o gestor, o estrago de políticas erradas é o problema do país.
"Nos últimos dois anos de governo Bolsonaro houve uma involução. Que a gente possa ter presidentes e ministros que sejam estadistas, que pensem em medidas que serão boas para o Brasil a longo prazo", disse Stuhlberger, aplaudido pela plateia.
Rogério Xavier, sócio-fundador da SPX Capital, questionou o porquê de não se considerar uma outra meta de inflação, especialmente após a crise gerada pela Covid, pela adaptação à energia limpa e por mudanças na cadeia produtiva.
Para ele, economistas são reticentes em corrigir um erro. "Por que seguir um objetivo que está inalcançável?"
"Só alcançamos inflação a 3% uma única vez, em 2016. Agora que a gente passou por todas essas situações inflacionárias, o Brasil resolveu fazer a meta em 3%. Nos EUA, a meta é 3,5% e no Brasil vai ser 3%? É falta de bom senso", afirmou.
"De que adianta buscar 3,25% e entregar 6%?", diz.
"As pessoas nos supermercados vivem com inflação de 10%, 12%. É outra realidade. Eu acho que o custo de carregar uma meta desse tamanho é gigantesco seja financeiro, seja social, seja político, porque, uma vez que você não atinge as metas, o Banco Central fica restritivo na política monetária," afirmou Xavier.
"A meta está errada", afirma André Jakurski, da JGP. O gestor chamou a meta de "bala de prata" da vez e disse achar mais importante primeiro definir a regra fiscal que irá substituir o teto de gastos em vez de "ficar perseguindo" a atual meta inflacionária.
"Acho que deve se mudar a meta e baixar os juros. O Brasil não vai dar certo com esses juros", diz.
Os mercados têm reagido negativamente a ruídos de uma eventual elevação da meta pelo governo. O tema tem provocado embate entre o presidente Luís Inácio Lula da Silva (PT), que diz que a meta está baixa demais, e o Banco Central.
Nesta segunda (13), o presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto, afirmou que a autoridade monetária discorda de uma mudança nas metas de inflação e que uma revisão dos alvos a serem perseguidos pela instituição neste momento teria o efeito contrário ao desejado sobre os juros.
O ministro da Fazenda, Fernando Haddad, afirmou que não está prevista discussão de mudança da meta na reunião do CMN (Conselho Monetário Nacional) desta quinta (16).
Presente no evento do BTG Pactual, Haddad afirmou que entende a ansiedade do mercado financeiro e que é a favor de metas exigentes, tanto para a política fiscal quanto para a monetária, mas ressaltou que elas precisam ser "humanamente alcançáveis".
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