RIO DE JANEIRO, RJ (FOLHAPRESS) - A inflação acumulada pelo grupo alimentação e bebidas no IPCA-15 (Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo-15) completou um ano acima de 10% no Brasil, segundo dados divulgados nesta sexta-feira (24) pelo IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística).

De janeiro para fevereiro de 2023, a alta acumulada em 12 meses até seguiu em trajetória de desaceleração, passando de 11,50% para 10,61%. A perda de fôlego, contudo, foi insuficiente para devolver a taxa ao patamar de um dígito.

A inflação de alimentação e bebidas está acima de 10% no IPCA-15 desde março de 2022. Naquele mês, ao atingir 10,77%, o grupo deixou para trás três meses consecutivos de variação na casa de 8%, período em que o indicador ensaiava uma trégua.

Segundo economistas, a carestia dos alimentos pode ser associada a uma combinação de fatores. O registro de choques climáticos no ano passado e os reflexos da Guerra da Ucrânia fazem parte dessa lista.

Demanda aquecida por medidas de estímulo às vésperas das eleições no Brasil e problemas nas cadeias de produção também são citados.

Ao longo de 2023, dizem economistas, a perspectiva é que a inflação de alimentação e bebidas volte para um dígito no acumulado. A recomposição da oferta com melhores condições de safra é apontada como uma das explicações para essa projeção mais otimista.

Mesmo com a provável desaceleração, os preços da comida devem seguir em um nível elevado, pondera o economista Eduardo Vilarim, do banco Original.

"Uma coisa é o nível dos preços e a outra é a variação. Estamos falando que a alta vai desacelerar, mas ainda é uma alta", afirma.

A inflação da comida castiga sobretudo a população pobre, porque a compra de alimentos absorve, proporcionalmente, uma fatia maior do orçamento dessas famílias.

Sergio Vale, economista-chefe da consultoria MB Associados, também prevê uma desaceleração de alimentos e bebidas para um dígito nos próximos meses.

De acordo com Vale, esse movimento deve trazer algum alívio para a população pobre em 2023.

Enquanto isso, a classe média tende a ser afetada, a partir de março, pela provável volta da cobrança de tributos federais sobre combustíveis, avalia o economista.

"Temos uma perspectiva de supersafra neste ano e de uma desaceleração importante de alimentos, se isso se consolidar", afirma.

"No ano passado, a inflação complicou mais a população pobre. Neste ano, deve trazer mais complicações para a classe média", acrescenta.

O índice oficial de inflação no Brasil é o IPCA (Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo), também divulgado pelo IBGE. Como a variação do IPCA é calculada ao longo do mês de referência, os dados de fevereiro ainda não estão fechados. Serão conhecidos no dia 10 de março.

O IPCA-15, pelo fato de ser divulgado antes, sinaliza uma tendência para os preços. Sua variação contempla a segunda metade do mês anterior e a primeira metade do mês de referência da divulgação. Neste caso, a coleta dos preços ocorreu de 13 de janeiro a 10 de fevereiro.

IPCA-15 VEM ACIMA DO ESPERADO

Pressionado por reajustes na área de educação, o IPCA-15 acelerou para 0,76% neste mês. A taxa veio após avanço de 0,55% em janeiro, segundo os dados divulgados pelo IBGE nesta sexta.

O novo resultado ficou acima das estimativas do mercado. Na mediana, analistas consultados pela agência Bloomberg projetavam alta de 0,72% neste mês.

No acumulado de 12 meses, o IPCA-15 registrou inflação de 5,63% até fevereiro. Nesse recorte, houve perda de fôlego, já que a taxa estava em 5,87% até o mês anterior.

Dos 9 grupos de produtos e serviços pesquisados, 8 tiveram alta de preços em fevereiro. A maior variação e o maior impacto vieram do segmento de educação.

O grupo subiu 6,41% no mês. É a taxa mais elevada para fevereiro desde 2004 (6,89%). Houve influência de 0,36 ponto percentual no índice.

Em educação, a principal pressão veio dos cursos regulares (7,64%), que subiram em razão dos reajustes habitualmente praticados no início do ano letivo, disse o IBGE.

Em 12 meses, o IPCA-15 (5,63%) está acima da meta de inflação perseguida pelo BC (Banco Central) para o IPCA em 2023. O centro da meta é de 3,25%, com intervalo de tolerância de 1,5 ponto percentual para cima (4,75%) ou para baixo (1,75%).

A alta prevista pelo mercado financeiro para o IPCA é de 5,89% no acumulado de 2023, de acordo com o boletim Focus publicado na quarta (22) pelo BC. Se o resultado for confirmado, este será o terceiro ano consecutivo de estouro da meta.

O BC vem mantendo a taxa básica de juros em 13,75% ao ano. A Selic em nível elevado busca esfriar a demanda por bens e serviços, em uma tentativa de conter os preços e ancorar as expectativas de inflação.

O efeito colateral esperado é a perda de fôlego da atividade econômica, porque o custo do crédito fica mais alto para empresas e consumidores.

Nas últimas semanas, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) empilhou uma série de críticas à atuação do BC e ao presidente da instituição, Roberto Campos Neto. Lula afirmou que o patamar da Selic é uma "vergonha", chamou a autonomia do BC de "bobagem" e se referiu a Campos Neto como "esse cidadão".

O petista também defendeu uma flexibilização na meta de inflação, na expectativa de abrir espaço para o corte dos juros, apesar de parte dos economistas considerar que o efeito concreto seria o oposto, por ampliar incertezas.

CENÁRIO PARA 2023

O banco Original prevê IPCA de 0,78% em fevereiro com a pressão dos reajustes de educação. Assim, o índice caminharia para a casa de 6% no acumulado do ano até dezembro.

Em março, o IPCA tende a subir 0,61%, segundo o Original. A previsão já leva em conta o possível efeito da volta da cobrança de tributos federais sobre combustíveis, conforme Eduardo Vilarim, economista do banco.

Ele avalia que a inflação de serviços tende a arrefecer de maneira lenta ao longo do ano. "É uma inflação que demora a desacelerar", afirma Vilarim.

Na visão dos economistas da Terra Investimentos, os dados do IPCA-15 são preocupantes porque reforçam o "quadro de resiliência da inflação corrente".

A instituição considera que uma eventual retomada do debate sobre a alteração das metas seria fonte de pressão sobre as expectativas. A projeção da Terra Investimentos é de IPCA de 0,83% em fevereiro e de 6,6% no acumulado do ano.

Para o Itaú Unibanco, a leitura do IPCA-15 deste mês veio "próxima do esperado e não indica viés para o IPCA fechado para o mês ou para o ano de 2023".

"Reajustes de cursos pressionaram a leitura de hoje [sexta], como esperado", indicou relatório de economistas do banco. O Itaú projeta alta de 6,3% para o IPCA em 2023 e de 4,2% em 2024.


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