SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) - "Ações, não discursos. Pare de postar platitudes. Comece a resolver os problemas."

Sob esse mantra, o robô Gender Pay Gap App expõe no Twitter empresas britânicas que falam sobre o Dia Internacional da Mulher, mas pagam menos a suas trabalhadoras do que aos homens contratados.

O funcionamento é simples: organizações inglesas que fazem tuítes com a hashtag #IWD2023 recebem um retuíte informando a diferença salarial por gênero da empresa, capturada por uma base de dados pública sobre salários.

O perfil na rede social, retratado com chapéu de sufragista e faixa reivindicatória pelo fim da desigualdade de gênero, começou a denunciar as diferenças salariais em março de 2021. O robô hoje reúne 234,7 mil seguidores.

Desde então, a tecnologia expôs grandes organizações: a entidade humanitária cristã World Vision, por exemplo, paga 16,7% a menos para as mulheres; a consultoria Deloitte no Reino Unido, 15%. Universidades, corpos de bombeiros, câmaras municipais e outros órgãos públicos também tiveram sua diferença salarial por gênero divulgada na rede social pelo robô.

Nem sempre, no entanto, as empresas são pegas no flagra. Em alguns casos, acontece o contrário: o grupo de caridade com foco em meninas e jovens mulheres Girlguiding paga 30,5% a mais por hora de trabalho às funcionárias. A rede de cinemas Odeon (do Kinoplex) promove igualdade de remuneração no Reino Unido.

O bot feminista foi criado pela redatora Francesca Lawson e pelo programador Ali Fensome. Ela cuida da estratégia de comunicação; ele, das informações por trás da plataforma. O algoritmo para tratar os dados está disponível na rede social de códigos GitHub.

O robô monitora as contas que fazem publicações com hashtags ou palavras relacionadas ao dia internacional da mulher. A partir de cruzamento de dados, detecta se o tuíte veio de empresa ou entidade e qual o nome dessa pessoa jurídica registrado junto à administração local.

Na sequência, o algoritmo busca informações da companhia alvo no site Gender Pay Gap, lançado pelo Ministério da Mulher do Reino Unido em março de 2017. Naquele ano, o governo britânico tornou obrigatória a divulgação das disparidades salariais por qualquer contratante com mais de 250 empregados.

Nessa base, há informações de 13.638 contratantes -1.223 empresas com menos de 250 funcionários compartilham seus dados de maneira voluntária. A próxima atualização obrigatória está marcada para 4 de abril.

O robô do Twitter não apenas divulga o dado mais recente de disparidade salarial, como também avalia se a desigualdade cresceu, diminuiu ou ficou estável.

De acordo com o site de Francesca Lawson, Gender Pay Gap App foi criado para denunciar que 77% das empresas pagavam melhor a homens do que a mulheres em 2022, embora se engajassem em campanhas de igualdade de gênero no Dia Internacional da Mulher.

O portfólio da redatora britânica destaca resposta à fabricante de lingerie Boux Avenue, que chegou a ter disparidade salarial de 59%, mesmo tendo as mulheres como principais clientes.

No Brasil, as empresas não precisam divulgar a desigualdade salarial de forma explícita. Registros oficiais como a Rais e o Caged permitem inferir a lacuna de remuneração entre homens e mulheres.

O governo de Luís Inácio Lula da Silva (PT) criou grupo de trabalho para formular legislação para proibir a desigualdade salarial no país. A ministra da Mulher, Cida Gonçalves, afirma que a Lei da Igualdade vai prever penalidades para empregadores que descumprirem a regra e criar mecanismos de incentivo aos que promoverem equidade nas remunerações de trabalhadores e trabalhadoras.

Freepik - Dia Internacional da Mulher

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