SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) - A Bolsa e o dólar fecharam próximos da estabilidade nesta terça-feira (21). Durante o dia, o mercado chegou a seguir uma tendência mais positiva, seguindo o exterior. Mas novas críticas do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) ao Banco Central voltaram a acender um sinal de alerta entre os investidores.

O Ibovespa fechou o dia em leve alta de 0,07%, a 100.998,13 pontos. O dólar comercial à vista teve desempenho parecido, com avanço de 0,09%, a R$ 5,247. A moeda chegou a atingir os R$ 5,21 na mínima do dia.

No mercado de juros, o comportamento dos investidores foi parecido. Nos contratos para janeiro de 2024, a taxa saiu dos 12,98% do fechamento desta segunda-feira (20) para 13,02% ao ano. Para janeiro de 2025, os juros subiram de 12,08% para 12,13%. Nos contratos para janeiro de 2027, a taxa ficou praticamente estável, passando de 12,44% para 12,45%.

O presidente Lula voltou a pressionar o Banco Central e atacar a Selic (taxa básica de juros) no Brasil, afirmando que é uma "irresponsabilidade" mantê-la no patamar de 13,75%. Lula disse que vai continuar "batendo" e "tentando brigar" para que ela possa ser reduzida.

Lula também voltou a atacar o presidente do BC, Roberto Campos Neto, embora não o tenha citado nominalmente. O chefe do Executivo afirmou que não pode demiti-lo, pois depende do Senado para encerrar o seu mandato. No entanto, acrescentou que ele não se importa com os termos previstos na legislação que prevê a autonomia do BC.

Outro ponto de cautela para os investidores está nas incertezas sobre os parâmetros para as novas regras fiscais. Este fator foi decisivo para a queda do Ibovespa nesta segunda-feira (20), e segundo analistas, boa parte da cautela em relação ao anúncio já foi colocada nos preços dos ativos locais.

O presidente Lula indicou nesta terça-feira que o governo não vai ter pressa para apresentar a nova regra fiscal, que deverá ser tornada pública após a volta da viagem presidencial à China, de 26 a 31 de março.

Lula afirmou que o pacote não pode ser anunciado antes dele e do ministro Fernando Haddad (Fazenda) saírem em viagem, sem prestarem os esclarecimentos necessários. No entanto, ressaltou que a proposta já está "madura".

A indefinição em torno dos parâmetros está por trás do adiamento do anúncio oficial. Segundo interlocutores ouvidos pela Folha, há uma série de decisões estratégicas pendentes, que são determinantes para saber qual espaço o governo terá para gastar no futuro.

"Sem uma indicação do arcabouço fiscal, o mercado entende que o BC pode não amenizar o discurso e antecipar o início do ciclo de afrouxamento monetário", afirma Alexsandro Nishimura, economista e sócio da Nomos.

As ações da Petrobras ajudaram o Ibovespa a manter a ligeira alta no fechamento. O petróleo subia pelo segundo dia seguido, depois da cotação cair quase 12% na semana passada. O barril do tipo Brent tinha alta de 2% às 17h00 (horário de Brasília). Os papéis ordinários e preferenciais da estatal seguiram de perto este ritmo, fechando também com altas na casa dos 2%.

"Os investidores reagiram à notícia de que a Rússia vai prolongar o corte na produção de petróleo até o fim de junho. Com uma oferta menor, o preço sobe", diz Leandro Petrokas, diretor de análise de investimentos e sócio da Quantzed.

Os bancos subiram, refletindo o maior alívio dos investidores com a situação do sistema financeiro internacional. Os desdobramentos da compra do Credit Suisse pelo UBS e a atuação das autoridades para salvar bancos americanos em apuros justificam a reação mais positiva nesta terça.

Janet Yellen, secretária do Tesouro dos EUA, afirma que novas medidas podem ser tomadas para proteger os correntistas em caso de fuga de recursos em bancos menores. Segundo Yellen, os últimos movimentos das autoridades americanas mostraram um "compromisso resoluto de tomar as medidas necessárias para garantir que as economias dos correntistas e o sistema bancário permaneçam seguros."

Até mesmo a ação do First Republic Bank, que até ontem acumulava queda de 90% em março, nesta terça recuperou parte destas perdas e subiu quase 30%. Os papéis de grandes bancos do país, como Goldman Sachs, JPMorgan, Morgan Stanley e Citigroup, avançaram entre 2% e 3%.

Em Nova York, o índice Dow Jones fechou em alta de 0,98%. O S&P 500 subiu 1,30%, e o Nasdaq encerrou o dia com avanço de 1,58%.

As bolsas na Europa também subiram. O Euro Stoxx 50 fechou em alta de 1,51%. Destaque também para o FTSE 100, da Bolsa de Londres, com alta de 1,79%, e o DAX, de Frankfurt, que avançou 1,75%.

Os papéis de bancos brasileiros, que sofreram menos que seus pares internacionais na semana passada, seguem a tendência de alta. Destaque para a ação preferencial do Itaú Unibanco, que fechou em alta de 2,30%, e para a Unit do Santander Brasil, com alta de quase 2%.

"Entendemos que a situação financeira dos bancos brasileiros é sólida, com indicadores saudáveis de empréstimo por depósitos, margem com mercado, títulos mantidos até o vencimento e liquidez de curto prazo", afirma a Rico Investimentos em análise sobre o cenário do sistema financeiro global.

Ainda no cenário internacional, os investidores têm a expectativa de que o Fed (Federal Reserve, o banco central americano) aumente os juros em 0,25 ponto percentual na reunião desta quarta-feira. Mas ao mesmo tempo, dê sinais de que pode abrandar a política monetária nas próximas reuniões.

"O mercado espera uma nova alta de 0,25 ponto, mas que deve vir acompanhada de uma mudança na linguagem no comunicado e de uma redução nas projeções de taxas de juros", afirma a Guide Investimentos em relatório.


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