SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) - A Bolsa passou a maior parte do dia em queda, com o mercado revisando suas projeções para os juros com base no comunicado do BC (Banco Central) depois de decidir manter os juros em 13,75%. Na parte da tarde, o clima piorou ainda mais com as críticas feitas pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) à autoridade monetária por conta da decisão.
A manutenção já era esperada pelo mercado, mas o comunicado divulgado pela autoridade monetária mostrou uma postura dura, que também provoca uma revisão de expectativas, já que se esperava uma abertura para eventual corte nas próximas reuniões, algo que agora é considerado improvável.
O Ibovespa fechou em baixa de 2,29%, a 97.926 pontos, pior marca desde 18 de julho de 2022. Na mínima do dia, o índice chegou a bater em 96.996 pontos. O dólar comercial à vista encerrou o dia com alta de 0,996%, a R$ 5,288.
No mercado de juros, as taxas fecharam em alta. No vencimento para janeiro de 2024, a taxa avançou de 13,02% no fechamento desta quarta-feira (22) para 13,20%. Para janeiro de 2025, a taxa subiu de 12,05% para 12,12%. No vencimento em janeiro de 2027, os juros passaram de 12,31% para 12,36%.
O Copom (Comitê de Política Monetária) do Banco Central não cedeu à pressão do governo de Luiz Inácio Lula da Silva (PT) para redução dos juros e manteve nesta quarta-feira (22) a taxa básica (Selic) em 13,75% ao ano.
Sem adotar um tom mais brando, como esperavam alguns analistas, a autoridade monetária não deu sinais de que pretende antecipar o corte da taxa ?mantendo inclusive a mensagem sobre a possibilidade de voltar a elevá-la caso o processo de desinflação não transcorra como esperado.
"Na minha visão, o BC foi na contramão das expectativas de agentes de mercado mais otimistas, que esperavam um tom mais leve e até mesmo uma eventual antecipação de corte de juros para o curto prazo", afirma Idean Alves, sócio e chefe da mesa de operações da Ação Brasil Investimentos.
O presidente Luiz Inácio Lula da Silva afirmou nesta quinta-feira que a "história julgará" as decisões do Banco Central de manter a taxa de juros em 13,75%.
"Como presidente da República não posso ficar criticando cada relatório do Copom. Eles que paguem o preço do que estão fazendo. A história julgará cada um de nós."
Ele defendeu que o Senado adote medidas para que o presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto ?a quem chamou de "esse cidadão"?, se preocupe com o emprego e a renda no país..
O ministro da Fazenda, Fernando Haddad (PT), criticou a decisão do Copom (Comitê de Política Monetária) de manter a taxa de juros no patamar atual de 13,75% ao ano e disse considerar "muito preocupante" o tom do comunicado do Banco Central.
Sérgio Goldenstein, estrategista-chefe da Warren Rena, afirma que as críticas ao BC também contribuem para o comportamendo dos investidores nesta quinta. "Acabem gerando um mal-estar no mercado".
Para Rachel de Sá, chefe de economia da Rico Investimentos, o BC sinaliza que manterá a sua política enquanto a inflação estiver em patamares acima da meta.
"Por ora, mantemos nossa projeção de estabilidade da Selic em 13,75% até o final do ano. Reconhecemos, entretanto, a possibilidade de cortes mais cedo, a depender da evolução dos choques financeiros e da evolução da economia brasileira", afirma a economista da Rico.
Raone Costa, economista-chefe da Alphatree, afirma que os modelos do BC mostram que a inflação deve se manter acima da meta até o terceiro trimestre de 2024.
"A única chance de corte de juros seria uma deterioração da economia global, por conta da crise do sistema financeiro. No momento, não é o cenário mais provável. O comunicado do BC aumenta inclusive a chance de novas altas nos juros", diz Costa.
Para a equipe de análise da Levante Investimentos, a falta de uma perspectiva clara para a inflação é um ponto de atenção para o BC.
"Ao tratar das projeções do mercado para os preços, o BC trocou 'se distanciando da meta' por 'desancoradas em relação às metas'. Ou seja, o BC admitiu que o mercado perdeu clareza na formação futura de preços. Isso torna mais difícil fazer com que a inflação convirja em direção à meta", diz a Levante.
Nicola Tingas, economista chefe da Acrefi (Associação Nacional das Instituições de Crédito Financiamento e Investimento) tem uma visão diferente sobre o futuro da trajetória da Selic.
"Meu cenário básico é de queda dos juros na reunião de maio ou na de junho. O BC admite que pode revisar e fazer ajustes na política monetária se houver mudanças no ambiente. Estamos vendo uma inadimplência crescente no crédito, e as empresas não conseguem ter acesso ao mercado de capitais. O BC deve estar atento a isso", diz Tingas.
Entre as ações listadas no Ibovespa, poucas fecharam em alta. A maior queda ficou com o papel ordinário do Magazine Luiza, com recuo superior a 13%.
"Enquanto os juros permanecerem altos, teremos performances ruins dentro do setor de varejo. Principalmente para as empresas mais endividadas, que assumem um custo de dívida extremamente alto", afirma Lucas Caumont, estrategista de investimentos da Matriz Capital.
Nesta quinta-feira, foi divulgado um dado importante no âmbito fiscal. A arrecadação federal de impostos cresceu 1,28% em termos reais em fevereiro sobre o mesmo mês do ano passado, somando R$ 158,9 bilhões, informou a Receita Federal nesta quinta-feira.
No primeiro bimestre de 2023, a arrecadação totalizou R$ 410,7 bilhões, uma alta de 1,19% sobre os dois primeiros meses de 2022, já descontada a variação da inflação.
Em Nova York, os índices de ações oscilaram bastante, ainda pelas preocupações com o sistema financeiro americano. Mas com uma recuperação na parte final do pregão, os mercados fecharam em alta, com destaque para as empresas de tecnologia.
O índice Dow Jones fechou em alta de 0,0,23%. O S&P 500 subiu 0,30%, e o Nasdaq fechou o dia com avanço de 1,01%.
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