SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) - Um dos primeiros empresários a apoiar o PT nos anos 1980, Lawrence Pih saiu em defesa da decisão do Comitê de Política Monetária do Banco Central, que manteve a Selic em 13,75% ao ano nesta semana, a despeito das pressões do presidente Luiz Inácio Lula da Silva pela redução dos juros.

"Apoiei Lula e continuo apoiando e não quero ver os mesmos erros cometidos na gestão Dilma", afirma Pih, que foi também um dos primeiros empresários a fazer críticas públicas a Dilma Rousseff em 2016.

Ele critica a pressão presidencial para baixar os juros e diz o país segue um roteiro semelhante ao dos anos Dilma, com Alexandre Tombini na presidência do Banco Central, quando a Selic foi pressionada para baixo até o patamar de 7,25%, mas depois teve de subir para 14,25% enquanto a alta dos preços não cedia.

"O BC se tornou a última linha de defesa contra uma política equivocada de crescimento via afrouxamento monetário. Com necessidade de financiar uma dívida pública federal de R$ 6 trilhões, um juro básico aquém da expectativa ocasionará realocação de ativos, criando bolhas em todas as classes de ativos. Estimula fuga de capital, desvalorização do real, pressiona ainda mais a inflação. Juros a 13,75% depois de ajustado a inflação e risco Brasil, além de carga tributária sobre o rendimento, sobra 2% de juro real líquido para o investidor. Não é muito atrativo, dados os riscos, e quem vai financiar a dívida pública e o setor privado?", diz Pih.

O investidor, que já foi dono de um dos maiores processadores de trigo do país, contesta as recentes falas de Josué Gomes da Silva, presidente da Fiesp, e de Flávio Rocha, dono da Riachuelo, que chamaram de pornográfico o patamar de juros nesta semana.

"Pornográficos são aqueles que olham apenas para suas empresas e esquecem que milhões de aposentados dependem de um pequeno rendimento adicional, resultado de décadas de poupança para complementar as migalhas que recebem de aposentadoria. Pornográfico é ignorar o quanto a inflação prejudica os pobres", afirma Pih.

Além da defesa do juro no combate à inflação, Pih questiona a demora da apresentação da nova âncora fiscal. "Onde está o arcabouço crível e sustentável? Há conflito interno dentro do próprio governo. Não há acordo entre alas com visões distintas. Como fica o BC sem saber como será o arcabouço fiscal? E se vier sem a necessária disciplina fiscal? Deixa a inflação rolar? Qual o mandato do BC? Ainda é meta de inflação? Ou mudou sem ninguém saber? Essa discussão é muito importante pois temos ouvido apenas um lado com argumentos frágeis. Seria bom um debate entre adultos", afirma.


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