PEQUIM, CHINA (FOLHAPRESS) - Após uma manhã confusa na capital chinesa, quando parte da comitiva brasileira ainda nem sabia da ausência do presidente Luiz Inacio Lula da Silva, empresários disseram que a vinda dele teria sido importante para simbolizar a retomada na relação mais próxima com a China. No entanto, acrescentam que as conversas com empresas e autoridades chinesas vão prosseguir sem alteração, nesta semana.

Lula adiou a viagem por estar com pneumonia. Uma nova data ainda não foi marcada. O presidente viajaria neste fim de semana e ficaria alguns dias na China, onde se encontraria com o dirigente Xi Jinping e assinaria uma série de acordos, como de cooperação e intercâmbio em tecnologias de semicondutores, 5G, 6G e as próximas gerações de redes móveis, inteligência artificial e células fotovoltaicas (para geração de energia solar).

"É uma pena, a presença seria muito expressiva para consolidar os laços depois do distanciamento que tivemos nos últimos anos, que tem que ser consertado", diz Etivaldo (Vadão) Gomes, fundador da Frigoestrela e ex-deputado federal pelo PP de São Paulo. "Mas não atrapalha as negociações."

Depois de comemorar a retomada da importação chinesa de carne, anunciada dias atrás em Pequim, o setor busca agora mudar os protocolos para facilitar os negócios, por exemplo, liberando o produto brasileiro com osso, como o uruguaio. "Esse era um dos assuntos a serem tratados por nós com o próprio Lula", diz Gomes. "É necessário que Lula venha logo."

Ele e Márcio Rodrigues, da Masterboi, esperam que a visita de Lula seja agora remarcada para maio, como vem sendo especulado. É quando acontece uma feira mundial de alimentos em Xangai, que deverá trazer de volta boa parte dos empresários de agropecuária da comitiva. "É muito importante, a primeira feira pós-pandemia, com produtores do mundo todo", diz Rodrigues.

A comitiva de empresários e entidades setoriais organizada pelo Ministério da Agricultura para acompanhar a visita do petista à China tinha mais de cem nomes, a maioria ligados ao setor de carnes.

Importadores chineses, nas conversas da última semana com os produtores brasileiros, estariam prevendo um segundo semestre com o maior consumo histórico de produtos agrícolas, devido à retomada da economia na China. Também por outros fatores, como pesquisas que indicariam, no mercado do país, jovens trocando a carne suína por bovina.

Sobre Lula, acrescenta Rodrigues, "a expectativa era grande, teria um grande significado, porque a relação do novo governo com a China é muito mais saudável e ele poderia facilitar aberturas". De todo modo, "o ministro [da Agricultura e Pecuária, Carlos Fávaro] surpreendeu", referência à confirmação do fim do embargo chinês à carne brasileira.

"A gente estava na torcida por Lula, mas não atrapalha", diz José Fernando Pinto da Costa, da Universidade Brasil, instituição privada de São Paulo que está em Pequim em busca de parcerias para criar uma escola superior voltada ao ao agronegócio. Já teria encaminhado um primeiro acordo com a Universidade de Weifang, do estado de Shandong, "o Mato Grosso da China".

Pablo Machado, da Suzano Asia, subsidiária de Xangai da Suzano Papel e Celulose, diz não ver a ausência de Lula "como cancelamento, mas adiamento" e que, "obviamente, a saúde do presidente precisa ser resguardada". Como os demais, diz que as conversas prosseguem, por exemplo, com a empresa brasileira procurando atender à crescente atenção das empresas chinesas por sustentabilidade.

Esse é um dos focos da conferência do Conselho Empresarial Brasil-China, parte da programação da comitiva, que está mantida para a quarta, dia 29, em Pequim -após reunião das diretorias chinesa e brasileira do CEBR.

Sobre Lula, sublinha o presidente da seção brasileira da organização, embaixador Luiz Augusto de Castro Neves, "os acordos estão sendo concluídos". Ele avalia que "o que se perdeu foi a visibilidade, Lula daria muito mais relevo. Perde-se um pouco do brilho, mas o importante é que o conteúdo foi preservado".


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