XANGAI, CHINA (FOLHAPRESS) - A ideia de um banco do Brics surgiu na Índia, em 2012. Economistas, entre eles o americano Joseph Stiglitz, propuseram ao então primeiro-ministro considerar a criação de um banco de desenvolvimento do grupo de grandes países em desenvolvimento.
Manmohan Sing levou a proposta aos outros quatro líderes, de Brasil, Rússia, China e África do Sul, que a receberam bem e criaram um canal de negociação. Após dois anos de conversas, o tratado que constituiu o banco foi assinado em 2014, em Fortaleza, tendo Dilma Rousseff como anfitriã e presidente do Brics naquele ano.
A ex-presidente da República toma posse formal no comando da instituição na próxima quinta-feira (13), em Xangai, sede do Novo Banco de Desenvolvimento (NDB, da sigla em inglês), como ele acabou sendo chamado. Já se mudou para a cidade chinesa.
O economista Paulo Nogueira Batista Jr., que participou das negociações para criar e depois foi o primeiro vice-presidente do banco, recorda que Dilma "se dedicou muito ao Brics, uma área da política externa de que ela gostava especialmente". E se envolveu nas conversas que viabilizaram a instituição.
"A chegada da Dilma agora é um marco para o banco", diz. "Ele ficou aquém do que esperava, nesses primeiros anos. Os resultados foram insuficientes, limitados por várias circunstâncias, menores e maiores, de caráter macropolítico. Nunca esteve muito bem, na minha época também não."
Ele cita a lentidão em questões estratégicas como a ascensão de novos membros ao banco, o que frustra a instituição que se pretendia global, com carteira de investimentos pelo mundo.
Outro problema seria o avanço limitado nas operações com moedas nacionais dos próprios integrantes. "Ele continua operando sobretudo em dólar. É um objetivo declarado desde 2016, está na primeira estratégia do banco, uma proposta antiga, anterior a essa preocupação global com o uso político do dólar."
O diagnóstico não é muito diferente daquele de Jim O'Neill, que cunhou o acrônimo Bric em 2001, num estudo sobre as perspectivas de Brasil, Rússia, Índia e China para o banco Goldman Sachs, onde era economista-chefe.
Hoje barão O'Neill, da Câmara dos Lordes, ele acaba de publicar outro ensaio, "O futuro do Brics e do Novo Banco de Desenvolvimento", já vertido para o mandarim na mídia de Xangai.
Aponta "oportunidades perdidas", em que os países do bloco "poderiam ter cooperado mais efetivamente e, como resultado, poderiam ter dado direção mais estratégica para o NDB em suas atividades".
A primeira delas teria sido a integração maior da Índia à Iniciativa Cinturão e Rota, de Pequim, voltada à infraestrutura comercial --e da qual o Brasil está sendo pressionado a participar, neste momento, pela China.
O'Neill também defende a expansão de membros do grupo e do banco, sugerindo critérios. Defende que um Brics Plus vá além do "simbolismo" e abrigue novos membros que consigam voz e ganhos reais com a inclusão, na sua visão, daqueles com população e economia maiores.
O NDB ampliado será importante, avisa, num mundo de "menor interdependência" e com instituições como o Banco Mundial ainda controladas por Washington e o G7.
O economista também enfatiza, como Batista, que o Brics e seu banco de desenvolvimento devem abraçar as moedas nacionais nas transações financeiras, para reduzir a exposição dos países-membros à moeda americana.
Escreve que "o papel dominante demais do dólar" faz com que as decisões do banco central dos EUA sejam "desestabilizadoras de suas políticas monetárias", inclusive de China e Índia.
A expansão nas composições do Brics e do NDB é dada como necessária para "desenvolver um cenário multimoedas mais estável, seguro, em que outras moedas representem um papel maior ao lado do dólar".
Outro ponto em que os economistas inglês e brasileiro concordam é quanto à necessidade de retomar a priorização do NDB para projetos de energias alternativas e mudança do clima, estabelecida há seis anos e que se mostrou mais uma oportunidade perdida.
Ambos citam a expansão do grupo e do banco como uma nova chance, caso se confirme, por exemplo, a entrada da Indonésia, uma economia maior do que a brasileira e também com extensa floresta tropical.
"Não sei se a Dilma vai querer frisar esse aspecto, mas o banco tem um mandato de sustentabilidade", diz Batista. "Ele pode atuar nessa área de preservação ambiental, de projetos verdes."
Entre na comunidade de notícias clicando aqui no Portal Acessa.com e saiba de tudo que acontece na Cidade, Região, Brasil e Mundo!