BRASÍLIA, DF, E WASHINGTON, EUA (FOLHAPRESS) - O presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto, afirmou nesta quarta-feira (12) que a inflação no Brasil caiu, mas pressões permanecem em meio a um componente de demanda "relativamente forte".

Em apresentação divulgada pela autarquia, usada em reunião fechada com investidores organizada pela XP em Washington, Campos Neto disse ainda que as expectativas de inflação de longo prazo estavam ancoradas em 2022, mas desde novembro passado iniciou-se um processo de deterioração.

O boletim Focus, que capta as projeções de mercado para indicadores econômicos, mostra que as expectativas de inflação seguem piorando, inclusive em horizontes mais longos. A mediana das estimativas para o IPCA em 2024 passou de 4,02% há um mês para 4,14% nesta semana. Para 2025, o dado passou de 3,80% para 4%.

Em meio ao aperto monetário para controlar a inflação, o presidente do BC disse que dados sugerem um arrefecimento do mercado de trabalho. Ele destacou que há desaceleração em novas operações de crédito, com mudança na composição dos empréstimos para categorias de alto custo, elevando índices de inadimplência.

O presidente do Banco Central afirmou que entre novembro do ano passado e janeiro deste ano o mercado vinha prevendo novos aumentos na taxa Selic, mas essa visão mudou a partir de fevereiro, com expectativa de corte da taxa básica em um horizonte de seis meses.

Atualmente, a Selic está em 13,75% ao ano, nível mais alto desde o início de 2017.

CAMPOS NETO ELOGIA PROPOSTA DE REGRA FISCAL

No evento da XP, Campos Neto voltou a elogiar a proposta do novo arcabouço fiscal, do ministro da Fazenda, Fernando Haddad, como já havia feito antes, em um processo de apaziguamento após semanas de tensões com o governo Lula em torno das taxas de juros.

Na última semana, ele já havia dito em evento do Bradesco que "o que foi anunciado até agora elimina o risco de cauda, para aqueles que achavam que a dívida poderia ter uma trajetória mais explosiva". Relatório do FMI desta quarta apontou que a dívida bruta brasileira deve voltar a crescer neste ano e atingir 88,4% do PIB.

Em evento na tarde de terça no Council of the Americas, também em Washington, Campos Neto refez os elogios ao marco fiscal. A uma plateia de investidores estrangeiros, o presidente do Banco Central reforçou a autonomia do órgão e se preocupou em mostrar que o Brasil tem uma situação financeira boa para negócios, segundo uma pessoa presente. O encontro foi fechado para a imprensa.

Campos Neto ainda concordou com as projeções do FMI que apontam um cenário global de incerteza, mas foi otimista em relação ao Brasil. Investidores presentes elogiaram a maneira como o banco levou a sério a inflação e o comprometimento com a política monetária.

Um investidor questionou ainda sobre a ideia de uma moeda comum entre Brasil e Argentina, que causou turbulência no debate econômico em janeiro. Campos Neto respondeu que essa é uma ideia da qual se fala há anos e que qualquer esforço para criar uma moeda comum precisa considerar a inflação dos dois países, que está acima de 100% na Argentina, o que torna este um momento difícil para debater o tema.

Campos Neto está em Washington para participar das reuniões de primavera do FMI e do Banco Mundial, que reúnem autoridades econômicas de todo o mundo em Washington. Paralelamente, há eventos para que essas autoridades se encontrem com investidores estrangeiros.

Haddad não viajou a Washington porque integra a comitiva presidencial que foi à China.

Em seu lugar participa o secretário de Política Econômica do Ministério da Fazenda, Guilherme Mello, que foi a reunião com investidores em evento organizado pelo JP Morgan na manhã desta quarta.

Segundo ele, o encontro serviu para "tirar algumas dúvidas que ainda existem nos investidores" sobre o novo arcabouço fiscal e o "mapa de voo" que o governo tem para retomada do crescimento.

Além do arcabouço, os investidores questionaram o secretário sobre reforma tributária e políticas de distribuição de renda, segundo ele.


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