SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) - O parcelamento de compras sem juros no cartão de crédito virou tema de debate no setor financeiro brasileiro, depois que grandes bancos apontaram essa modalidade como um dos culpados pelas altas taxas de juros do rotativo dos cartões --cobradas de clientes que não quitam toda a fatura mensal.
A crítica dos grandes bancos foi feita em reunião com o ministro da Fazenda, Fernando Haddad, na semana passada, para tratar de alternativas que possibilitem a redução dos juros no país. "Não tem como dissociar uma coisa da outra. Quando se fala do custo do cartão de crédito, não dá para dissociar do parcelado sem juros", afirmou o CEO do Santander Brasil, Mario Leão, nesta terça-feira (25), durante coletiva para comentar os resultados do Santander Brasil no primeiro trimestre.
Já para a Abranet (Associação Brasileira de Internet), que reúne empresas como PayPal, Mercado Pago e PagSeguro, o fim do parcelamento sem juros teria impacto negativo no consumo em um momento já frágil da economia brasileira.
Levantamento da Abranet em parceria com o Datafolha mostrou que cerca de 75% da população costuma parcelar as compras e, para 80% dos consumidores, a possibilidade de parcelar sem juros é determinante na escolha do estabelecimento em que será feita a compra.
"A partir do momento que o lojista oferece o parcelado sem juros, a dependência dele e do consumidor da linha de crédito do banco acaba sendo menor", afirma Carol Conway, presidente da Abranet.
Ela acrescenta que, na atual conjuntura macroeconômica na qual o país se encontra, diminuir a possibilidade de parcelamento causaria uma retração da economia. "A gente não acredita que o governo seria capaz de tomar uma medida como essa."
Economista da ACSP (Associação Comercial de São Paulo), Ulisses Ruiz de Gamboa diz que é importante uma redução dos juros para estimular o ritmo da atividade econômica, mas não há uma resposta única para lidar com o problema. Ele aponta o nível de endividamento das famílias e a baixa competição no mercado de crédito entre as principais razões. "Dificilmente o problema se resolve com uma bala de prata."
Na avaliação de João Frota Salles, analista da Senso Investimentos, ao combater o parcelamento sem juros os bancos apresentam o argumento de que precisariam compensar essa ausência por meio de outras linhas mais caras, como CDC (Crédito Direto ao Consumidor), empréstimos às pessoas físicas e PMEs (pequenas e médias empresas) e o rotativo do cartão de crédito.
"Contudo, o parcelamento sem juros já vem com os juros embutidos", afirma Salles.
Segundo o CEO do Santander Brasil, o encontro com o ministro da Fazenda não serviu para apresentar ou negociar propostas, mas para fazer uma apresentação geral sobre o quadro macroeconômico. "Foi uma conversa de compartilhamento de informações e impressões", afirmou Leão, que classificou a reunião como positiva.
Participaram também da reunião os presidentes do Bradesco, Octávio de Lazari Junior, do Itaú, Milton Maluhy, e do Nubank, Cristina Junqueira. O presidente da Febraban (Federação Brasileira de Bancos), Isaac Sidney, e o presidente da Confederação Nacional das Instituições Financeiras, Rodrigo Maia, também estavam presentes.
"A Febraban e seus bancos associados têm como prioridade a redução do custo de crédito no país, sendo necessário compreender e atacar as causas dos altos juros, com adoção de medidas corretas, que levem em consideração a estrutura de custos do setor, as especificidades de cada produto e sigam a racionalidade econômica", disse a federação dos bancos.
Ao término do encontro, ficou combinado que as partes voltarão a se reunir nas próximas semanas e meses para amadurecer propostas que possam ser viabilizadas para melhorar as condições de crédito ao cliente final.
Procurado, o Ministério da Fazenda não comentou.
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