BRASÍLIA, DF (FOLHAPRESS) - A Argentina prevê reduzir de seis para um mês o prazo de aprovação e pagamento das exportações de produtos brasileiros ao país vizinho com o programa de financiamento de crédito em discussão pelos dois governos.
A medida, se levada adiante, serviria como uma "via rápida" para os produtos brasileiros, o que beneficiaria cerca de 210 empresas de diversos segmentos -como automotivo, de siderurgia, entre outros.
Segundo uma fonte do governo argentino ouvida pela Folha, a expectativa é que isso aumente o volume de exportações entre os países, bem como reduza o custo de crédito.
O chefe do Executivo argentino, Alberto Fernández, se reuniu com o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) nesta terça-feira (2), no Palácio da Alvorada, em busca de soluções para amenizar a crise econômica na Argentina, atingida por uma inflação de mais de 100%.
Na próxima semana, os ministros da Economia e da Indústria dos dois países darão sequência às discussões sobre como viabilizar as operações do sistema de financiamento. A negociação também envolverá bancos argentinos, como o Banco de la Nación, considerando que os importadores passarão a operar em reais nesse novo modelo.
Como garantia ao financiamento do país às empresas brasileiras, os governos discutem a adoção de um mecanismo como um "escrow" -modalidade específica de uma conta que serve de caução para as partes envolvidas nas negociações.
O programa de financiamento seria uma forma de o Brasil recuperar parte do terreno perdido para a China nas transações comerciais com a Argentina, com redução de cerca de US$ 4 bilhões entre 2014 e 2019. O país asiático tornou-se mais competitivo ao viabilizar as transações em moedas locais.
Globalmente, o comércio entre Brasil e Argentina sofreu um grande recuo na última década, baixando de US$ 19 bilhões em 2013 para US$ 13 bilhões no ano passado.
Pelo lado argentino, a substituição do dólar pelo real na comercialização das exportações ajudaria a reduzir a pressão sobre as reservas cambiais do país vizinho.
O dinheiro dos argentinos, que já derretia, passou a se desvalorizar ainda mais nas últimas semanas. A inflação de março chegou ao maior nível acumulado dos últimos 30 anos e, logo depois da notícia, o dólar paralelo "blue", que dita o dia a dia do país, entrou numa escalada ininterrupta por 15 dias.
No encontro entre os chefes de Estado, em Brasília, Lula fez diversos gestos políticos a Fernández, embora não tenha anunciado nenhum acordo concreto durante a visita.
"Posso dizer para vocês que o Alberto Fernández é um companheiro que chegou aqui muito apreensivo e acho que vai voltar mais tranquilo. É verdade, sem dinheiro, mas com muita disposição política", disse.
Quanto ao programa de financiamento, o presidente brasileiro deixou em aberto as negociações de medidas econômicas para ampliar as parcerias comerciais entre os países.
"Estamos discutindo para encontrar uma forma que a gente possa fazer com que os nossos exportadores continuem com suas empresas funcionando, gerando emprego e que as exportações e as importações entre Brasil e Argentina possam continuar crescendo. É isso que todo mundo tem interesse", afirmou
"Os companheiros argentinos vão discutir a questão das garantias, e o Brasil vai discutir com os empresários brasileiros que exportam e com o Congresso Nacional brasileiro para ver o que pode ser feito para a gente ajudar a encontrar uma solução", acrescentou.
Do lado brasileiro, acompanharam a reunião e o jantar os ministros Fernando Haddad (Fazenda), Mauro Vieira (Relações Exteriores), Geraldo Alckmin (Indústria, Comércio e Serviços), o secretário-executivo da Fazenda, Gabriel Galípolo, e o presidente do BNDES, Aloizio Mercadante.
Já a comitiva argentina contou com a presença, além do chefe do Executivo, do ministro da Economia, Sergio Massa, do chanceler Santiago Cafiero, do secretário da presidência, Julio Vitobello, a secretária de Comunicação, Gabriela Cerruti, a ministra do Desenvolvimento Social, Tolosa Paz, e o chefe de gabinete presidencial Agustin Rossi.
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