SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) - Apesar de ter superado as expectativas do mercado com um lucro de R$ 4,3 bilhões no primeiro trimestre, o Bradesco ainda deve seguir com os resultados pressionados durante o segundo trimestre do ano. Uma melhora estrutural do desempenho deve ocorrer apenas ao longo da segunda metade do ano.

A avaliação é do próprio presidente do banco, Octavio de Lazari Junior. "Vemos o nosso desempenho do segundo trimestre ainda pressionado, principalmente por conta da PDD (provisões para devedores duvidosos), mas reforçamos a mensagem de que vemos os nossos resultados evoluindo ao longo do ano de 2023, com um desempenho superior no segundo semestre", afirmou o executivo nesta sexta-feira (5) durante conversa com jornalistas.

A PDD, que indica as possíveis perdas que o banco poderá sofrer pela falta de pagamento de clientes inadimplentes, totalizou R$ 9,517 bilhões no primeiro trimestre, crescimento de 96,8% em bases anuais, mas queda de 36% na margem.

A queda na comparação trimestral se deveu em grande medida porque, no último trimestre de 2022, a PDD do Bradesco havia saltado mais de 100%, por conta das provisões relativas aos problemas envolvendo Americanas.

O presidente do banco acrescentou que o lucro foi impactado positivamente na variação trimestral porque não houve a necessidade de novas provisões contra um calote da Americanas, ainda que, de um modo geral, as provisões prossigam em níveis relativamente elevados.

Lazari Junior afirmou também ter a expectativa de que, até junho, o grupo de credores chegue a algum tipo de acordo com a varejista sobre as dívidas em aberto de R$ 42,5 bilhões. "Talvez [o acordo] não seja o melhor para todos, mas, pelo menos, aquilo que é possível e que seja razoável."

O presidente do banco afirmou também que a taxa de inadimplência deve seguir em alta ao longo do segundo trimestre, mas com a expetativa de que o pico das taxas de atraso esteja perto do final.

O índice de inadimplência do Bradesco alcançou 5,1% ao final do trimestre, ante 3,2% em igual período de 2022 e 4,3% em dezembro passado.

Segundo o banco, a inadimplência está concentrada entre as pessoas físicas e as micro e pequenas empresas, segmentos que naturalmente sofrem mais em cenários adversos de inflação persistente e juros altos.

No caso das pessoas físicas, a taxa de atrasos acima de 90 dias alcançou 6,3%, contra 4,4% no mesmo mês do ano anterior e 5,5% no trimestre passado.

Entre as micro, pequenas e médias empresas, o índice de inadimplência também subiu, para 6,2%, ante 3,6% há um ano e 5,3% em dezembro.

Já entre as grandes empresas, os atrasos ficaram em apenas 0,2%, contra 0,1% em março e dezembro de 2022.

O primeiro trimestre, disse o presidente do banco, foi marcado pela volatilidade nos mercados, com discussões sobre juros e questões fiscais. "No entanto, o trimestre terminou melhor, com uma expectativa positiva gerada pelo novo arcabouço fiscal."

Sobre o desempenho da carteira de crédito, o executivo afirmou que o resultado do primeiro trimestre refletiu a política adotada ainda durante meados do ano passado, de uma postura mais cautelosa na concessão de crédito, com o foco em linhas mais conservadoras.

"Com esse efeito, é natural que o crédito cresça menos, mas o momento é de cautela", disse Lazari Junior.

A carteira de crédito do Bradesco encerrou março em R$ 879,28 bilhões, evolução de 5,4% em bases anuais e recuo de 1,4% na comparação trimestral. O resultado ficou abaixo do guidance divulgado pelo banco para o ano de 2023, que indica uma expansão da carteira entre 6,5% e 9,5% para o ano. "Ao longo do ano, voltaremos para a faixa indicada", afirmou o executivo.

Lazari Junior disse também que o retorno estrutural do banco não se alterou significativamente e que o time de gestão tem compromisso em voltar a entregar rentabilidades como no passado. "Mas reconhecemos que será uma recuperação gradual."

O ROAE (retorno anualizado sobre o patrimônio), indicador que mede a rentabilidade da operação, chegou a 10,6%, ante 18% em março de 2022 e 3,9% no quarto trimestre do ano passado.

Apesar de superar expectativas, analistas avaliam resultados como fracos e abaixo dos pares

Os analistas de mercado consideraram os números do banco fracos. "O Bradesco reportou resultados ruins", dizem os analistas da Ativa Investimentos. Eles destacam que a inadimplência avançou em ritmo ainda mais forte do que as expectativas já pessimistas.

Afirmam ainda que, após dois trimestres conturbados, o banco apresentou um resultado com o lucro líquido acima das estimativas. "Contudo, quando analisamos os dados de qualidade da carteira, vemos que os desafios para esse ano continuam e o banco deverá apresentar grande disciplina na concessão de crédito, tornando difícil o cumprimento do guidance."

Os analistas da Guide Investimentos dizem que, embora o resultado do Bradesco tenha vindo acima das expectativas, se não houvesse o provisionamento específico para a exposição do banco a Americanas no quarto trimestre de 2022, o lucro teria ficado estável no primeiro quarto do ano.

"No saldo geral, o resultado do banco foi bastante negativo. A tendência de crescimento da inadimplência segue acelerada, sem sinais claros de arrefecimento no curto prazo", afirmam os analistas da Guide.

Eles dizem ainda que a queda intensa nos últimos meses no valor de mercado pode sugerir que o banco está muito barato. No entanto, tendo em vista a performance recente bem abaixo dos seus pares e a conjuntura mais desafiadora projetada para esse ano no cenário de crédito, avaliam que há melhores opções para se posicionar no setor, como Itaú e Banco do Brasil.

"Consideramos que o desempenho geral do banco no trimestre foi fraco", dizem os analistas da XP Investimentos, que enfatizam a desaceleração no ritmo de expansão da carteira de crédito, com um crescimento abaixo do guidance. "Esperamos uma reação negativa para a ação e mantemos nossa visão conservadora sobre o banco."

Já os analistas da Genial Investimentos dizem que, apesar do lucro superior às projeções do mercado, o resultado ainda se encontra em patamares bem inferiores ao que acreditam ser um lucro mais normalizado do Bradesco.

"Do lado positivo, vemos avanços numa gradual recuperação de rentabilidade que deve ajudar no crescimento de lucro, principalmente a partir do segundo semestre de 2023", apontam os especialistas da Genial em relatório.

Eles acrescentam que, apesar da gradual melhora de rentabilidade, preferem bancos como Itaú e Banco do Brasil, que avaliam que tiveram um desempenho superior no atual ciclo de crédito.


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