SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) - A divulgação nesta terça-feira (13) de fato relevante em que a Americanas assume a existência de fraude em seus balanços vai muito além dos R$ 20 bilhões em "inconsistências contábeis" apontados pelo ex-CEO da companhia, Sergio Rial, na noite de 11 de janeiro. A fraude beira os R$ 50 bilhões, segundo pessoas próximas às negociações dos bancos credores com a Americanas.

De acordo com o comunicado divulgado nesta terça, a Americanas revelou que havia fraude na suposta contratação de bônus junto à indústria -uma prática comum no varejo, quando fabricantes dão descontos para grandes encomendas, que o documento apontou como "contratos de verba de propaganda cooperada e instrumentos similares (VPC)". Ou seja, o nome do fabricante aparecia em campanhas da Americanas, que por isso recebia um desconto na compra dos produtos. Mas esses descontos nunca foram concedidos de fato.

"Esses lançamentos [de VPC], feitos durante um significativo período, atingiram, em números preliminares e não auditados, o saldo de R$ 21,7 bilhões em 30 de setembro de 2022", diz o relatório.

"As contrapartidas contábeis em balanço patrimonial desses contratos de VPC criados ao longo do tempo, os quais não tiveram lastro financeiro associado, se deram majoritariamente na forma de lançamentos redutores da conta de fornecedores, totalizando, em números preliminares e não auditados, o saldo de R$ 17,7 bilhões em 30 de setembro de 2022. A diferença de R$ 4 bilhões teve como contrapartidas lançamentos contábeis em outras contas do ativo da companhia", diz o fato relevante.

Além disso, as operações de financiamento de compras -risco sacado, forfait ou confirming- somam R$ 18,4 bilhões e as operações de financiamento de capital de giro alcançam R$ 2,2 bilhões, em números preliminares, diz o texto.

Essa operação de risco sacado é outra prática comum do varejo: um agente financeiro antecipa o pagamento ao fornecedor, cobrando um juro por isso. "O varejo compra um produto por R$ 10, dentro de um prazo negociado com o fornecedor. Mas o fornecedor quer antecipar o pagamento e negocia com um banco: acaba recebendo R$ 9 pela mercadoria. O banco fica com a diferença", explica o consultor Alberto Serrentino, sócio da Varese Retail.

A Americanas também informou que foram identificados lançamentos redutores da conta de fornecedores oriundos de juros sobre operações financeiras, que deveriam ter transitado pelo resultado da companhia ao longo do tempo, totalizando, em números também preliminares e não auditados, R$ 3,6 bilhões.

Ou seja, somando todos os números presentes no fato relevante, o rombo contábil chega a R$ 45,9 bilhões.

Procurada para confirmar o valor, a Americanas não se pronunciou até a publicação do texto.

O administrador judicial da Americanas já havia apontado uma dívida total de R$ 47,9 bilhões no começo de fevereiro. Quando entrou em recuperação judicial, em 19 de janeiro, suas dívidas somavam R$ 43 bilhões.


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