BRASÍLIA, DF (FOLHAPRESS) - O CEO da Americanas, Leonardo Coelho Pereira, apresentou à CPI (Comissão Parlamentar de Inquérito) que investiga a fraude contábil da empresa emails e outras trocas de mensagem com supostas provas de que os balanços da companhia foram intencionalmente alterados para inflar artificialmente os lucros. Ele também afirmou haver indícios de participação das empresas de auditoria PwC e KPMG.

"Essas informações não me permitem tratar [o caso] como inconsistências contábeis", disse Pereira na sua fala inicial na CPI. Um fato relevante publicado nesta terça (13) pela empresa chamou o caso de fraude pela primeira vez desde que a situação veio à tona, em janeiro deste ano.

Pereira apresentou uma troca de emails com a KPMG nos quais a carta final com as recomendações da auditoria é discutida em busca de uma redação final.

Nessa discussão, a auditoria acaba substituindo recomendações para o conselho de administração por "recomendações que merecem atenção da administração".

A mudança nas palavras diminuiu o grau do problema ao dar a entender que os problemas não precisavam ser levados ao conselho de administração, instância máxima da empresa, e podiam ficar no nível da diretoria.

Em outra leva de documentos, Pereira apontou uma "carta que dá indícios de que a PwC [empresa de auditoria] estava indicando como escrever texto em que o tema risco sacado [mecanismo utilizado para operacionalizar a fraude] não ficasse claro".

Nos casos envolvendo as auditorias, Pereira ponderou que as informações ainda precisavam de mais contexto porque documentos falsificados foram apresentados a elas.

O CEO também apresentou um email enviado pelo ex-diretor Marcelo Nunes, antigo diretor financeiro da Americanas, para toda a então diretoria da companhia. Em um balanço chamado "visão interna", ele mostra um prejuízo antes de juros, impostos, depreciação e amortização para 2021 de R$ 733 milhões.

Um outro documento na mesma troca de mensagens intitulado "visão conselho" traz um lucro para a mesma rubrica de quase R$ 2,9 bilhões. Esse foi o número apresentado ao mercado.

"Entre a visão interna e a visão conselho criou-se R$ 3,5 bilhões de resultados. A fraude da Americanas é uma fraude de resultado", afirmou Pereira.

A ciência da diretoria do caso foi evidenciada também com mensagens em um grupo de WhatsApp com seus integrantes. Nelas, os participantes diziam claramente que se uma alavancagem grande demais fosse apresentada para o conselho "seria morte súbita".

Pereira também apontou que a diretoria falsificava documentos solicitados pelas auditorias forjando assinaturas.

"A carta falsificada com números inventados eram apostas assinaturas digitais de cartas verdadeiras, fraude que acontece em boa parte das cartas que foram circularizadas para a auditoria", explicou.

Em janeiro deste ano, a Americanas divulgou em fato relevante ter encontrado "inconsistências contábeis" da ordem de R$ 20 bilhões em seus balanços. O movimento foi seguido pela saída do então CEO, Sergio Rial, que estava há menos de um mês no cargo. Pereira assumiu o posto em fevereiro, já durante a recuperação judicial da companhia.

Nesta terça (13), a varejista assumiu pela primeira vez que houve uma fraude baseado em relatório feito a partir de documentos do comitê de investigação independente, criado no final de janeiro.

O relatório aponta que a fraude ocorria na suposta contratação de bônus junto à indústria - quando fabricantes dão descontos para grandes encomendas, que o relatório apontou como "contratos de verba de propaganda cooperada e instrumentos similares (VPC)".

Os descontos não ocorreram de fato. Com as supostas negociações vantajosas, a companhia melhorava o seu balanço. Por outro lado, para cumprir o pagamento aos fornecedores, a diretoria anterior contratou empréstimos sem o conhecimento do conselho de administração, o que aumentou o seu passivo, irregularmente contabilizado, diz o documento.

- Grupo Americanas

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