PARIS, FRANÇA (FOLHAPRESS) - Menos econômico, mais estratégico: foi esse viés que Lula sugeriu ao presidente francês, Emmanuel Macron, para tratar o acordo comercial com o Mercosul, de acordo com fontes do governo brasileiro que acompanharam o almoço de trabalho dos dois líderes nesta sexta-feira (23), em Paris.

O presidente teria sugerido a Macron que avaliasse as vantagens do acordo comercial pelos vieses da segurança energética e alimentar -duas áreas afetadas na comunidade europeia desde o início da Guerra na Ucrânia. O investimento na América do Sul oferecia diversificação de investimentos em uma região livre de conflitos, de acordo com o governo.

Em resposta, Macron teria reforçado a importância se criar garantias que evitassem o endosso a políticas antiambientais, como as que foram conduzidas durante o governo Bolsonaro. Apesar da guinada da política climática sob o governo Lula, os franceses devem manter as condicionantes ambientais como uma vacina.

A delegação brasileira espera que a quebra da oposição francesa ao acordo com o Mercosul ajude a dissolver resistências de outros países europeus, como Bélgica e Polônia.

A agenda aconteceu logo após Lula ter descrito como uma ameaça a carta adicional da União Europeia que faz novas exigências para o acordo comercial entre o bloco europeu e o Mercosul. O discurso se deu no encerramento da cúpula do Novo Pacto Financeiro, convocada por Macron.

Chamada de "side letter", o termo adicional é hoje um dos principais impasses para a conclusão do acordo UE-Mercosul, que teve as negociações encerradas em 2019, durante primeiro ano do governo de Jair Bolsonaro (PL), mas ainda não foi ratificado pelos dois blocos.

Negociado oficialmente desde 1999, o tratado econômico tem padrões de sustentabilidade, mas que não são vinculativos. A side letter busca tornar alguns compromissos ambientais obrigatórios. No entanto, membros do governo brasileiro consideram as condições muito rígidas.

O governo brasileiro deve articular uma resposta à carta adicional da União Europeia junto ao Mercosul até dia 4 de julho, quando há reunião entre os países. A mensagem deve ser enviada aos europeus durante o encontro UE-Celac, promovido pelo bloco europeu para a comunidade latinoamericana nos dias 17 e 18 de julho.

Inicialmente, o presidente Lula não voltaria à Europa para o encontro, mas a possibilidade voltou a ser considerada pelo governo como forma de articulação pelo acordo comercial.

Segundo membros do governo federal, a mensagem que o presidente buscou passar ao presidente francês durante o almoço de trabalho é a de que é possível acomodar sensibilidades, em referência à resistência dos produtores rurais franceses e também de parte dos parlamentares.

Lula teria argumentado que o acordo também apresenta sensibilidades para a indústria no Brasil e na Argentina.

Lula reforçou o convite a Macron para participar da cúpula da Amazônia, que o Brasil promove no início de agosto em Belém. Macron respondeu que o petista pode contar com ele nas agendas da Amazônia, como também na das energias renováveis.

Sem confirmar uma data, o presidente francês mencionou que pretende visitar o Brasil no segundo semestre. O ministro das Finanças, Bruno Le Maire, também comunicou a intenção de ir ao Brasil. A agenda busca avançar o entendimento entre o setor do agronegócio brasileiro e os sindicatos agrícolas franceses.

O almoço servido no Palácio do Eliseu, residência oficial do presidente francês, teve bacalhau e vinho.

Os dois presidentes ainda voltaram a reforçar suas posições sobre a Guerra na Ucrânia. Lula disse a Macron que não vê saída militar para o conflito e que não haveria meios para se encurralar a Rússia.

Participaram do almoço os ministros Fernando Haddad (Fazenda), José Mucio (Defesa) e Mauro Vieira (Relações Exteriores), além do conselheiro Celso Amorim.

Ainda durante o almoço com o presidente francês, Lula também teria pedido, segundo fontes da delegação brasileira, uma retomada do ritmo de construção do submarino a propulsão nuclear. A obra é parte do Programa de Desenvolvimento de Submarinos (Prosub), cuja parceria com a França foi assinada em 2008.

De acordo com o comandante da Marinha, Marcos Sampaio Olsen, que acompanhou o presidente na agenda, o desafio não seria tecnológico, nem orçamentário, mas de redução de custos e riscos na obtenção do submarino. Segundo Olsen, o submarino de propulsão nuclear deve ser lançado em 2031 e começar a operar em 2037.

Após o almoço, Lula recebeu no hotel em que se hospeda em Paris executivos do Naval Group, especializada em projetos de defesa naval e que atua no complexo naval de Itaguaí (RJ).

O presidente também se reuniu com o presidente da República do Congo, Denis Sassou, e a prefeita de Paris, Anne Hidalgo. Ao final do dia, o petista trocou o jantar com o príncipe herdeiro da Arábia Saudita, Mohamed bin Salman al Saud, por uma conversa por telefone com o líder. O voo do presidente decola no final da manhã deste sábado (24), de volta ao Brasil.


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