RIO DE JANEIRO, RJ (FOLHAPRESS) - O presidente da Petrobras, Jean Paul Prates, propõe o uso dos royalties do petróleo para incentivar encomendas do setor com fornecedores brasileiros, uma das promessas de campanha do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT).

Em entrevista à reportagem, Prates disse ainda que as petroleiras têm que se aproximar mais de seus fornecedores para evitar o risco de migração para outros segmentos mais ligados à transição energética, que terão maior desenvolvimento nos próximos anos.

A retomada das encomendas de bens e serviços no Brasil foi um dos temas da campanha presidencial de Lula, que fomentou em seus primeiros mandatos um segundo ciclo de crescimento da indústria naval brasileira, interrompido após a descoberta do esquema de corrupção investigado pela Operação Lava Jato.

Prates diz que a empresa está estudando como retomar as compras no Brasil. Mas defende "uma forma de indução" para que as empresas justifiquem encomendas mais caras no país. "Como é que eu justifico isso para o meu acionista e para o TCU [Tribunal de Contas da União]?", questiona.

A lei dos royalties permite a redução da alíquota máxima de 10% para ate 5% em casos específicos. O governo já vem usando essa prerrogativa para fomentar investimentos em projetos menos rentáveis, como campos ao fim de sua vida útil.

Prates reconhece que sua proposta não será bem recebida por estados e municípios, os principais beneficiários dos royalties, mas defende que o incentivo ajuda a fomentar outras atividades econômicas que podem gerar emprego e renda.

"Vou começar a criar uma coisa que gera uma indústria que depois pode servir a outras indústrias", argumenta.

O presidente da Petrobras afirma que a retomada das encomendas na indústria naval nacional será feita "com muita parcimônia, com muita tranquilidade, sem afoiteza, sem atos heroicos". "Tudo dentro da programação, dentro do que é possível."

Ele diz que uma preocupação é manter fabricantes de bens e equipamentos no setor petrolífero em um cenário de maiores restrições à produção de hidrocarbonetos e maiores investimentos em transição energética.

"Vamos precisar ter uma relação mais próxima, planejada, mais perene, mais duradoura com os nossos fornecedores principais. Porque, do contrário, cada um deles vai começar a migrar na transição energética deles e daqui a pouco a gente não encontra mais ninguém para fazer uma manutenção em refinaria", afirma.

Ele lembra que em uma licitação recente da Petrobras apenas dois fornecedores apareceram. Na hora da assinatura do contrato, apareceu apenas um representante, porque as duas competidoras haviam passado por um processo de fusão.

"Antigamente eu era o rei da cocada preta, eu fazia assim [imita um estalo] vinham dez caras para me dar manutenção em refinaria. Cada um agora foi procurar seu negócio, porque as coisas estão mudando e eu tenho que pegar esses dois caras que me servem bem e botar debaixo do braço."


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