SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) - A manutenção de um crescimento econômico robusto e sustentável da economia brasileira ao longo dos próximos anos, com uma redução da relação entre a dívida federal e o PIB (Produto Interno Bruto), são fatores essenciais para que o Brasil volte a ter o selo de grau de investimento pelas agências de classificação de risco, segundo avaliação da Moody´s.
"Sustentar um crescimento mais alto nos próximos anos será um elemento-chave para apoiar uma perspectiva positiva do rating e, eventualmente, permitir que o país alcance o grau de investimento", afirma Samar Maziad, analista sênior da Moody´s baseada em Nova York, em entrevista por telefone à Folha nesta quarta-feira (26).
A Moody´s atribui a nota de crédito Ba2 para o Brasil desde meados de 2016, dois degraus abaixo do rating considerado grau de investimento. Nesta quarta, a Fitch elevou a nota do país para BB, também dois degraus abaixo do grau de investimento.
Segundo a Fitch, a decisão reflete um desempenho macroeconômico e fiscal melhor que o esperado e a agenda de reformas, com o avanço da Reforma Tributária e do arcabouço fiscal no Congresso no governo de Luiz Inácio Lula da Silva (PT), além da reforma da Previdência e da independência do BC (Banco Central) nos anos anteriores.
Samar diz que o crescimento sustentável da economia e o avanço de reformas importantes como a tributária são necessários para permitir que o governo implemente o novo arcabouço fiscal.
A capacidade de o governo aumentar as receitas para colocar de pé a nova política fiscal e controlar a trajetória de crescimento da relação entre dívida e PIB será acompanhada de perto e também é um ponto de atenção que vai balizar as decisões de rating nos próximos anos, afirma a analista.
Ela acrescenta que, pelos cálculos da Moody´s, frente ao quadro fiscal atual, a dívida federal do Brasil como proporção do PIB deve avançar para um patamar ao redor de 78% nos próximos dois a três anos, frente aos 73% no final de 2022.
"É importante que o país mantenha o crescimento econômico mais robusto para manter essa relação estável ou em uma trajetória de queda", afirma Samar.
A analista diz ainda que a Moody´s faz um acompanhamento contínuo dos ratings que atribui ao Brasil, bem como da evolução da agenda de reformas, mas que não há uma previsão formal sobre eventuais mudanças na nota de crédito do país.
"Ainda precisamos de um histórico maior do governo na economia, até para entender quais serão os impactos do novo arcabouço fiscal nos próximos meses", afirma a especialista.
Ela diz que um repique inflacionário que impeça o BC (Banco Central) de promover uma redução mais intensa nos juros desponta como um dos principais riscos no radar. O juro alto para combater os aumentos preços traria impactos negativos para as perspectivas de crescimento da economia no futuro, com reflexos na deterioração do quadro fiscal, diz Samar.
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