RIO DE JANEIRO, RJ (FOLHAPRESS) - O economista Sérgio Besserman Vianna, ex-presidente do IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística), diz não ver possibilidade de interferência política ou ideológica no órgão de pesquisas.

Na visão dele, as boas práticas desenvolvidas pelo instituto ao longo dos seus 87 anos, inclusive durante governos ditatoriais, e a qualidade do corpo técnico impedem ameaças nesse sentido.

O temor de ingerência política foi levantado por uma ala de economistas e pesquisadores na quarta-feira (26), após o governo Luiz Inácio Lula da Silva (PT) escolher Marcio Pochmann, ligado ao partido, para a presidência do IBGE.

Pochmann, também economista, foi presidente do Ipea (Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada) de 2007 a 2012. A gestão dele no Ipea foi vista por críticos como intervencionista, com cobranças internas por alinhamento ideológico.

"Não há possibilidade de interferência na metodologia, nem por parte do presidente do IBGE, nem por parte do presidente da República. São técnicos altamente qualificados de um órgão de Estado, não de governo", afirma Besserman à Folha.

O economista chegou ao comando do IBGE no governo Fernando Henrique Cardoso (PSDB), ocupando a presidência do instituto de janeiro de 1999 a janeiro de 2003.

Besserman diz não ter a mesma linha de pensamento econômico de Pochmann, mas afirma que a diferença de ideias não é um "critério relevante" para a análise sobre o futuro do IBGE.

"Não sou um correligionário dele. O ponto é que o IBGE está isento e protegido de intervenções por fatores estruturais relevantes", avalia.

Ele diz não enxergar no atual governo qualquer motivação para uma suposta ingerência. "Avaliações de como ele [Pochmann] pensa ou do seu trabalho, todo mundo tem sobre todo mundo. Não é uma pessoa despreparada", afirma.

Na avaliação dele, é um "mérito" da sociedade brasileira ter um órgão de estatísticas "admirado no mundo inteiro" pela aderência a práticas de transparência recomendadas por instituições como a Comissão de Estatística das Nações Unidas.

"O IBGE foi criado um ano antes do Estado Novo [em 1936], passou por todo o regime ditatorial militar. Não houve interferência."

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As estatísticas podem servir como subsídios para a elaboração e o ajuste de políticas públicas. Por isso, a independência do IBGE em relação a governantes é considerada fundamental.

A Argentina, por exemplo, ficou marcada por uma intervenção no Indec, o instituto local de estatísticas, durante as gestões de Néstor e Cristina Kirchner.

A ação foi apontada como responsável por alterar dados como os de inflação em busca de um cenário menos desfavorável para o governo.

As denúncias de maquiagem nas estatísticas abalaram a imagem do órgão. Os números do Indec passaram a ser desacreditados dentro e fora da Argentina.


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