BRASÍLIA, DF (FOLHAPRESS) - Uma falha no sistema nacional de energia afetou o fornecimento de luz em estados de todas as regiões do país, na manhã desta terça-feira (15). O apagão começou com a interrupção do fornecimento de 16 mil MW de carga no Norte e Nordeste, segundo o ONS (Operador Nacional do Sistema Elétrico).
Estados do Sul, Sudeste e Centro-Oeste também foram atingidos. A queda ocorreu por causa da abertura, às 8h31, da interligação Norte-Sudeste. As causas da ocorrência ainda estão sendo apuradas.
A Abradee (Associação Brasileira de Distribuidores de Energia Elétrica), com base em notificações de filiados, confirmou que 25 estados e o Distrito Federal foram afetados. A exceção foi Roraima, que não está no sistema interligado.
Essa interligação é o conjunto de linhas de transmissão que conecta as instalações de geração de energia das regiões Norte e Nordeste com as instalações majoritariamente de consumo da região Sudeste.
No momento do apagão, o ministro de Minas e Energia, Alexandre Silveira, estava no Paraguai, acompanhando a comitiva do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT), mas decidiu retornar ao Brasil.
Silveira determinou a criação de um grupo de trabalho, com MME (Ministério de Minas e Energia), ONS e Aneel (Agência Nacional de Energia Elétrica), para averiguar o que ocorreu.
Segundo a Folha apurou, existem várias possibilidades de caráter técnico em análise. O ONS avalia se houve um problema na Subestação Xingu, no Pará. Também averigua a interligação entre Serra da Mesa e Gurupi e Gurupi Miracema, em Goiás.
Especialistas no setor dizem que é preciso aguardar a conclusão dos técnicos. O ex-diretor-geral da Aneel Jerson Kelman é um deles. "Nessa altura, qualquer hipótese sobre a causa do blackout é mera especulação", afirmou.
Kelman avalia que a gestão do sistema vem se tornando mais complexa, o que exige análises mais detalhadas sobre a operação para averiguar uma queda de energia dessa proporção.
"É fato conhecido, por exemplo, que o aumento da participação das fontes eólica e solar, principalmente no Nordeste, pode resultar em abruptas variações de produção local de eletricidade devido à flutuação dos ventos ou passagem de nuvens, causando trancos no fluxo de energia nas linhas de transmissão e na produção das hidrelétricas", afirmou, a título de exemplificação.
A prioridade do ONS foi inicialmente recompor a energia.
Essa recomposição foi iniciada logo cedo em todas as regiões. A estimativa é que 6.000 MW já tinham sido recompostos até as 9h16. Segundo o MME, até as 10h22, estavam recompostos 27% da carga da região Norte, e 68%, do Nordeste. O apagão causou transtornos nas principais cidades do país.
A Conexis Brasil Digital, que representa as principais operadoras de telefonia e internet do país, informou que, por causa do apagão, houve instabilidade nos serviços de telecomunicações. "As operadoras já estão trabalhando para reestabelecer os serviços no menor prazo possível."
A Enel, distribuidora de energia nos estados de São Paulo, Rio de Janeiro e Ceará, afirmou que, na manhã desta terça, parte dos clientes da sua área de concessão teve o fornecimento de luz interrompido.
O serviço, segundo a empresa, é restabelecido de forma gradual.
A concessionária Light, que também atende o Rio de Janeiro, registrou falta de energia na manhã desta terça em trechos de bairros das zonas norte e oeste da capital e também em pontos da Baixada Fluminense.
Segundo a empresa, o serviço foi restabelecido gradativamente após a autorização do ONS. A Light é responsável pela distribuição de energia em 31 municípios do estado. A empresa informou que a energia foi totalmente restabelecida nas regiões impactadas pela atuação do Erac (Esquema Regional de Alívio de Carga) pela manhã.
O Erac é acionado automaticamente quando há ocorrência na rede interligada de energia para proteger o sistema de danos.
Em Mato Grosso, 343 mil clientes foram afetados em todas as regiões a partir das 7h30, segundo a Energisa. A empresa diz que, por volta das 9h, todo o atendimento estava normalizado.
Em Minas Gerais, a Cemig confirmou que "houve desligamento determinado pelo ONS", mas acrescentou que todos os clientes afetados já tiveram seus serviços restabelecidos. A Cemig não deu outros detalhes.
Em nota, a Equatorial Energia, uma das empresas com distribuidoras afetadas pela ocorrência, afirmou que, segundo informações preliminares, houve atuação do Erac. "Em todos os estados em que há concessão do Grupo (Alagoas, Amapá, Maranhão, Goiás, Pará, Piauí e Rio Grande do Sul), a normalização já foi iniciada", disse a Equatorial.
Em Pernambuco, houve relatos de queda de energia em cidades da região metropolitana do Recife e no interior do estado.
A Neoenergia, concessionária responsável pelo fornecimento de energia no estado, disse, em nota, que, "uma ocorrência de grande porte no Sistema Interligado Nacional (SIN) afetou o suprimento de energia em diversos estados brasileiros".
No Ceará, a queda de energia atingiu Fortaleza e diversas cidades do interior. Na capital cearense, a energia foi retomada às 9h30 em diversos bairros, mas transtornos foram acusados, como semáforos apagados nas ruas.
Na Paraíba, a concessionária Energisa disse que o fornecimento de energia foi afetado em 113 cidades e que o restabelecimento aconteceu cerca de 15 minutos após o começo do apagão.
No Rio Grande do Sul, a RGE, que atende a 381 dos municípios gaúchos (65% do estado), confirmou interrupção de energia para 445 mil clientes, cerca de 15% das conexões.
A CEEE Equatorial, presente em 72 cidades, confirmou problemas, mas não soube informar a quantidade de clientes afetados e disse que "aguarda autorização do Operador Nacional do Sistema Elétrico para normalizar as cargas afetadas".
Em Santa Catarina, a Celesc confirmou que houve o "apagão". Por volta das 11 horas, eram 9.000 unidades consumidoras sem energia, de um universo de 3,5 milhões.
A Copel, empresa que distribui energia no Paraná, confirmou que "dezenas de cidades" foram afetadas, mas acrescentou que o fornecimento "já começou a ser restabelecido e deve ser concluído em breve".
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