SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) - As buscas no Google por concurso público cresceram 15% em um ano. O termo é o terceiro mais pesquisado dentro da categoria empregos no Brasil, atrás apenas de "emprego" e "currículo". Os dados exclusivos foram enviados à Folha pelo Google Trends e contemplam o período entre junho de 2022 e junho de 2023.
"Como estudar para concurso?" é a pergunta mais buscada sobre o tema no Brasil. Já a questão relacionada "Onde estudar para concurso?" é a que registrou o maior crescimento no país na comparação dos últimos 12 meses com o período anterior, com alta de 740%.
Entre os termos que geraram dúvidas nos brasileiros estão heteroidentificação, homologação, licenciatura plena e candidato sabatista. Eles foram os mais buscados no Google nos últimos 12 meses, ao lado da pergunta "o que é?".
Os números também mostram que, desde o começo da série histórica do Google, a procura por concursos foi maior entre o fim da década de 2000 e início da década de 2010. Em contrapartida, as buscas caíram nos últimos quatro anos.
Desde o ano passado, os estados do Amapá, Acre, Roraima, Rondônia e Piauí foram os que mais demonstraram interesse.
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INTERESSE POR CONCURSOS PÚBLICOS ACOMPANHA EXPECTATIVA POR EDITAIS
Após o governo Lula (PT) divulgar que autorizou a abertura de 2.480 vagas em concursos públicos em 2023, aumentou o interesse dos candidatos, que aguardam a publicação dos editais com detalhes como prazo de inscrição, salário, número de vagas e datas de provas.
Especialistas em cursinhos preparatórios respondem às dúvidas mais frequentes feitas por quem busca se preparar para as seleções públicas.
COMO ESTUDAR PARA CONCURSO?
Segundo o professor e coordenador da Gran Cursos Online, Diogo Alves, 34, é importante o candidato analisar o edital publicado. Se ele ainda não tiver saído, é válido já pesquisar editais anteriores.
"Caso mude a banca examinadora, o enfoque das questões também deve mudar, mas não o conteúdo. O concurseiro precisa olhar quais são as fases do concurso. Se tem teste físico, avaliação psicológica, se há vagas com heteroidentificação", afirma. A ideia é entender se o candidato corresponde a todas as fases que o concurso exige.
"[Estudar para passar em concurso] requer um esforço especial e não há método infalível. Cada um pode descobrir o seu método. Não dá para dizer que eu passei sem tomar uma gota de café, de energético ou sem passar uma noite em claro", diz Camila Montenegro Lima, 38, procuradora do Banco Central e colaboradora do Estratégia Concursos.
"No meu caso, fiz um estudo após a publicação do edital, focado no que poderia ser cobrado. Identifiquei no edital os pontos mais específicos", diz.
ONDE ESTUDAR PARA CONCURSO?
Para Alves, a melhor "apostila" para estudar é a prova anterior do concurso do mesmo órgão público.
"O povo estuda errado. Às vezes sai comprando cursos online e não é o recomendado. O melhor material de estudo é a prova anterior. Entender como a banca avalia, como o examinador elabora as questões. Trata-se de um roteiro, basicamente."
Após estudar com base nas últimas provas, o candidato pode tirar suas dúvidas consultando a referência bibliográfica daquela prova. "Hoje há ebooks, revisões de provas, aplicativos. Por meio da tecnologia, é possível ter acesso a várias ferramentas", afirma o professor.
COMO PASSAR EM CONCURSO?
Não há fórmula mágica. O candidato deve ter um roteiro de estudos e planejamento. Dentre as várias carreiras e cargos à disposição, checar aquela que quer seguir e sua especialidade, explica Alves.
Outros tópicos que deve observar são a remuneração, se há plano de carreira e se aquela vaga é satisfatória. "Isso gera uma motivação maior para prestar o concurso. São tópicos importantes, porque o índice de depressão no serviço público é altíssimo. Aquele senso comum de que ser servidor público é uma calmaria e estabilidade, não é bem assim."
QUAL É A MELHOR APOSTILA PARA CONCURSO?
"Não tem uma fórmula mágica ou apostila certa", diz Lima. "Se o candidato achar mais cômodo uma apostila pronta, ele pode adquirir, física ou online. O candidato precisa se conhecer."
A procuradora do BC conta que, se for o caso, o concurseiro pode até criar a própria "apostila". A dica é pesquisar notícias e decisões que envolvem o órgão desejado e estudar com base nos temas específicos que a banca pode cobrar. Conforme a prova se aproxima, é importante reforçar a revisão dos conteúdos.
Para os concurseiros que funcionam melhor com um cursinho preparatório, sites agregadores de críticas de consumidores, como o Reclame Aqui, podem indicar se determinado curso é de qualidade.
QUANTO GANHA UM PSICÓLOGO CONCURSADO?
O salário de um psicólogo concursado varia conforme a seleção. Depende do estado ou município e do órgão ou entidade que está ofertando as vagas. Alguns editais publicados neste ano podem dar uma estimativa aos interessados em vagas nessa área.
A Universidade Estadual do Piauí (Uespi) publicou edital que previa remuneração de R$ 4.291,54 para psicólogos. O salário era o mesmo de outras profissões de nível superior, como engenheiro civil, bibliotecário e arquiteto.
Outro edital, publicado pela Fundação Universidade de Brasília (FUB), oferta vagas para psicólogo na área clínica e escolar. Profissionais das duas especialidades receberão R$ 4.180,66.
A profissão de psicólogo ainda não tem piso salarial assegurado por lei. Há dois projetos parados na Câmara dos Deputados que visam fixar um valor. O PL 1.015/2015 sugere piso de R$ 3.600. Já o PL 2.079/2019 estipula mínimo de R$ 4.650, com reajuste anual. Ambas as propostas seguem em tramitação.
COMO ESTUDAR LEGISLAÇÃO PARA CONCURSO?
Os especialistas recomendam que o candidato vá além da chamada "leitura da lei seca". É importante reler, interpretar e principalmente fazer exercícios, segundo Lima.
"Hoje já existem materiais como esquemas, gráficos ou até ilustrações que interpretam a lei. Algumas pessoas fazem desenhos. No meu caso, funcionavam os exercícios", diz a procuradora.
"Aulas em vídeo também podem ajudar, com professores que sintetizam as teorias que mais caem. O aluno pode fazer um levantamento do que mais cai nas questões para direcionar os estudos. E entender quais são os 'doutrinadores', isto é, os autores de referência de cada área", diz Alves.
O professor reforça que é importante o candidato se atentar aos principais tópicos da Constituição Federal, da jurisprudência dos tribunais, de direitos humanos, do Código Penal e das súmulas vinculantes do STF (Supremo Tribunal Federal).
TECNÓLOGO PODE FAZER CONCURSO?
Sim. O tecnólogo pode concorrer a cargos de nível superior que exigem esse nível de estudo. Ele tem um diploma de nível superior assim como qualquer outro candidato com esse grau de escolaridade.
Os especialistas afirmam que, do mesmo modo, o diploma de quem se formou em EAD (ensino a distância) tem a mesma validade.
QUEM TEM NOME SUJO PODE FAZER CONCURSO?
Sim, exceto em algumas instituições bancárias, de acordo com Alves. "Dependerá do que está no edital, mas em geral é permitido. Até porque a ideia é passar no concurso para limpar o nome. É raro [um concurso que proíba]", diz.
Não há um instrumento legal que impeça devedores de fazerem concurso. O que o candidato deve se atentar é que um credor pode pedir à Justiça que uma pessoa endividada não participe de um concurso, como um meio de obrigá-la a pagar esse débito. Esse recurso é constitucional, segundo o STF.
QUANTAS HORAS DE ESTUDO PARA PASSAR EM CONCURSO?
Não há regra quanto ao tempo de estudos ideal. Muitos concurseiros desperdiçam tempo ao não estudar de forma eficaz.
"O tempo que a pessoa tem disponível para se dedicar é o ideal", diz Alves. "É preciso que o entendimento do conteúdo seja de qualidade. É melhor estudar 30 minutos de forma concentrada do que três horas mexendo no celular."
"Aulas de 30 minutos a uma hora bastam. Os exercícios contribuem em mais de 50% para a qualidade da absorção dos conteúdos", segundo o professor. "Depois a pessoa volta na teoria e checa o motivo pelo qual errou ou acertou a questão."
Já Lima recomenda que o candidato se dedique o quanto puder, respeitando pequenos intervalos de 10 a 15 minutos entre as disciplinas. A procuradora estudava cerca de cinco horas diárias, conciliando trabalho e estudos.
"Prefiro o método de 'ciclo de estudos' em vez de o tradicional 'cronograma', que define horários e dias específicos para cada disciplina. O método de ciclos é mais flexível. Ao montar o seu ciclo, o candidato deve alocar o seu tempo disponível para cada disciplina de acordo com seu nível de dificuldade e com o peso dela na sua prova", explica.
"Meu estudo pós-edital durou três meses até a primeira prova. Ao todo, o certame durou um ano. Não praticava exercícios físicos, o que é um erro. Pensava "por que não comecei antes?", mas o candidato deve entender que, com foco, dará certo. Depois que passei, foi uma virada de chave. De tão obstinada que estava, me senti estranha após a aprovação, por poder pensar em outra coisa além de concurso público", disse Camila Montenegro Lima, procuradora do Banco Central e colaboradora do Estratégia Concursos.
ATÉ QUE IDADE PODE FAZER O CONCURSO DA PM?
A idade máxima para participar dos concursos das polícias militares pode variar entre os estados. Em São Paulo, a faixa etária máxima permitida é 30 anos. Em fevereiro, o governador Tarcísio de Freitas vetou um projeto de lei que elevaria o limite para 35 anos.
Em outros estados esse número pode variar, como no Rio de Janeiro (32 anos), Ceará (entre 29 e 34 anos, a depender da função), Piauí (35 anos) e Mato Grosso (entre 35 e 45 anos).
Um projeto de lei da Câmara dos Deputados busca fixar esses limites. A proposta sugere que a idade máxima para ingresso na Polícia Militar e no Corpo de Bombeiros seja de 35 anos para oficiais e praças e de 40 anos para oficiais médicos, de saúde ou de outras especializações. O texto tramita na Comissão de Constituição e Justiça e de Cidadania.
O QUE É TAF?
O TAF é o teste de aptidão física. Ele é aplicado quando o preparo físico do candidato for relevante em sua atuação. Trata-se de uma etapa essencial e eliminatória em alguns concursos, como os que selecionam candidatos para as polícias militares.
Há tipos de teste que cobram várias modalidades, como corrida (entre 2.000 e 2.500 metros, em média), natação, salto e barra fixa.
O candidato deve se atentar se sua capacidade física atende aos requisitos dos testes especificados no edital e se tem condições físicas e de saúde adequadas.
O QUE É HETEROIDENTIFICAÇÃO PARA CONCURSO?
O candidato que opta pela concorrência por cota de cor ou raça deverá passar pelo procedimento de heteroidentificação. Nesta fase do processo, é feita uma avaliação pessoal, com filmagem do candidato, para que uma banca avalie se realmente ele é preto ou pardo.
Os candidatos são convocados para o procedimento de heteroidentificação antes da homologação do resultado final no concurso. Só são convocados, no entanto, quem se autodeclarou preto ou pardo para concorrer por meio de cotas.
Em alguns editais, como no do concurso do MEC, se não for reconhecido como negro ?que engloba pretos e pardos?, poderá seguir concorrendo com os demais candidatos na ampla concorrência.
O professor da Gran Curso explica tratar-se de uma verificação da identidade étnico-racial dos candidatos.
"A banca irá analisar como o candidato se declara em termos de cor e raça. Algumas bancas pedem essa 'comprovação' de acordo com a autodeclaração se ele é preto ou pardo. A ideia é verificar os critérios fenotípicos, culturais, para saber se o candidato vai integrar a lista dos cotistas", diz.
PODE FAZER PROVA DE CONCURSO DE BERMUDA?
Não há uma regra geral que norteia a vestimenta permitida em todos os concursos. Todas as informações devem constar no edital. No entanto, a maioria dos concursos permite que o candidato faça a prova de bermuda e chinelo, inclusive.
O professor Diogo Alves orienta que os concursandos levem também caneta azul ou preta, alimentos e água, sempre em recipientes transparentes.
"Quanto às roupas, em geral ficam a critério do candidato. É importante que sejam confortáveis. Porém, consulte sempre o edital da prova."
COMO PASSAR EM CONCURSO DE PREFEITURA?
Prefeituras tendem a cobrar matérias mais básicas, temas essenciais, segundo Alves. "Não são temas fáceis, mas sim que permeiam o dia a dia de qualquer servidor", afirma.
O concursando deve se atentar a disciplinas como português, informática e a própria legislação ou código de ética relacionado ao órgão pretendido, matérias com as quais o servidor lidará em sua rotina.
COMO FAZER RECURSO PARA CONCURSO?
O recurso é um instrumento que o candidato tem à disposição para contestar uma decisão da banca examinadora ou uma questão da prova. "O recurso é a correção justa do que foi injustamente avaliado", diz Alves.
Para que o concurseiro tenha maior chance de sucesso ao pedir um recurso, precisa se basear nos próprios autores da banca, ou seja, referências bibliográficas que a banca pede.
Caso a banca indefira o pedido e o inscrito ainda se sinta prejudicado, poderá entrar com uma ação judicial coletiva ao procurar um advogado especializado na área de concursos.
BÔNUS: COMO ESTUDAR REDAÇÃO PARA CONCURSO?
Alves recomenda que o concursando esteja atento aos temas da atualidade pensando na redação. "O que saiu na mídia e no jornal pode virar pauta da redação", diz.
Questões sobre a guerra da Ucrânia, conflitos internacionais, fluxos migratórios, crise econômica, meio ambiente e desenvolvimento sustentável são possíveis temas, segundo o professor.
Sobre dicas gramaticais, ele destaca que é importante saber as regras do novo acordo ortográfico, o uso correto de conjunções, tempos e modos verbais, a concordância, a regência e a paráfrase.
As chances oferecidas são para profissionais com nível médio, técnico ou superior. Os salários vão de R$ 3.727,83, para nível médio, a R$ 20.924,80, para ensino superior. Cargos de nível técnico têm salário de R$ 5.488,70.
Os concursos devem ser abertos ainda neste ano e podem incluir mais 10 mil vagas que estão em estudo. As autorizações já foram publicadas no Diário Oficial da União e as portarias têm prazo de seis meses. Caso contrário, perdem a validade.
As seleções são abertas em cada órgão após definição das regras e escolha da banca organizadora, que irá elaborar e publicar o edital de contratação, e realizar toda a seleção, incluindo as provas.
Após a seleção, a nomeação e a contratação dos funcionários para os cargos efetivos deve ser autorizada pelo Ministério da Gestão. Esta etapa é a final, e só ocorre com a homologação do resultado final do concurso. Depois disso, os servidores podem tomar posse. Há, no entanto, estágio probatório de três anos.
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