TAIPÉ, TAIWAN (FOLHAPRESS) - O Escritório Nacional de Estatística da China divulgou, neste domingo (27), mais um dado negativo para a economia do país, com os lucros industriais apresentando queda de 6,7% em julho, em comparação com o mesmo mês do ano anterior. Mas foi uma queda menor do que aquela registrada em junho, de 8,5%.
Outros resultados, sobretudo no setor de serviços, já têm vindo melhores.
As bilheterias de verão, dominadas por filmes chineses, bateram o recorde de 2019, pré-pandemia, segundo as plataformas de ingresso Maoyan e Lighthouse. Também as viagens e reservas aéreas, domésticas e internacionais, superaram os números de quatro anos atrás, segundo as plataformas Flight Master e Trip.
Para as exportações brasileiras, o que mais preocupa é o setor imobiliário, que está no centro da desaceleração do país --40% da demanda chinesa por aço, que consome o minério de ferro do Brasil e da Austrália, também atenta, vem da construção.
Marco inicial dos problemas econômicos na China, com sua crise de liquidez há um ano e meio, a empreiteira Evergrande apresentou na semana passada um pedido para que suas ações voltem a ser negociadas nesta segunda-feira (28) na Bolsa de Hong Kong. Elas estão suspensas desde março do ano passado.
Com o pedido de proteção que apresentou nos EUA há dez dias, a medida é parte do processo de reestruturação da dívida. Neste sentido, uma boa notícia, que registrou na bolsa de Hong Kong, é que sua subsidiária para serviços imobiliários alcançou um crescimento de 43% no lucro do primeiro semestre.
Mas o eventual retorno simbólico da Evergrande ao mercado financeiro bate de frente com os problemas de sua concorrente, Country Garden, que há duas semanas avisou de "incertezas" quanto ao pagamento de títulos --e na sexta (25) adiou uma decisão sobre o alongamento deles, por falta de apoio dos acionistas.
No primeiro semestre deste ano, as vendas da incorporadora caíram 30% em relação ao período em 2022.
O Brasil segue "diariamente" o vaivém dos dados sobre a China, afirmou nesta semana o ministro da Fazenda, Fernando Haddad, em coletiva na África do Sul. "Continuamos acompanhando, mas o diagnóstico não está concluído, porque as pessoas têm visões diferentes do alcance do problema", disse.
Segundo ele, "ainda está inspirando cuidados, mas o tamanho do problema não está suficientemente claro, pelo menos pelas informações que estamos recebendo". Haddad acrescentou, citando o recorde nos juros longos americanos, que a atenção externa está voltada também para EUA e Argentina.
Seu colega australiano, Jim Chalmers, afirmou no domingo (20) ao canal Sky News que também está "acompanhando de perto, com preocupação", as informações sobre a economia chinesa, citando o setor imobiliário e as "implicações óbvias para a Austrália", exportadora de minério de ferro, entre outras matérias-primas.
Procurada, a secretária de Comércio Exterior do Ministério do Desenvolvimento, Tatiana Prazeres, afirmou que "uma diminuição da atividade no setor imobiliário da China afeta sua demanda por aço e por minério de ferro, mas o minério brasileiro é muito competitivo", devido à sua qualidade, ao teor de ferro.
De modo geral, prosseguiu ela, que está na Índia, "a despeito da desaceleração as exportações para a China seguem com desempenho muito positivo". Avalia ser "importante uma dose de cautela", mas mantém a previsão de que elas podem bater os US$ 90 bilhões no ano, "um pequeno aumento" em relação a 2022.
"Acompanhamos nossas vendas para lá semanalmente, e os resultados confirmam a visão positiva para o ano", diz. "As exportações de milho, seguidas de soja, minério de ferro, petróleo e açúcar puxam o crescimento mais recente das nossas vendas para a China, mesmo com os preços jogando contra."
Maior concorrente da brasileira Vale no mercado chinês, a mineradora australiana BHP afirmou, ao apresentar na semana passada os resultados do primeiro semestre, que "a demanda por commodities se manteve relativamente robusta na China e na Índia", apesar da redução "substancial" nos países desenvolvidos.
No curto prazo, acrescentou, "a trajetória da China depende da eficácia das medidas recentes, da implementação da política de estímulo especialmente no que diz respeito ao setor imobiliário". A demanda chinesa continua, de qualquer maneira, "razoavelmente saudável", citando setores como automóveis.
O governo chinês segue anunciando medidas de estímulo, sobretudo ao setor imobiliário. Na sexta, estendeu por dois anos um incentivo fiscal para compradores de imóveis e permitiu que pessoas com uma hipoteca possam tomar empréstimo para comprar outro imóvel. As Bolsas até subiram, mas por poucos minutos.
Por outro lado, apareceu mais um sinal de que Pequim não vai interferir muito além dessas medidas. Um colunista do Jingji Ribao (Economic Daily), diário financeiro ligado ao PC (Partido Comunista Chinês), retomou a frase de Xi Jinping que norteia a contenção chinesa no setor, "casas são para morar, não para especulação", dita por ele há seis anos.
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