SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) - O PIB (Produto Interno Bruto) do Brasil cresceu 0,9% no segundo trimestre deste ano, de acordo com os dados divulgados nesta sexta-feira (1º) pelo IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística), em relação aos três meses anteriores.
Esse foi o segundo trimestre consecutivo em que a economia cresceu acima do esperado, apesar de o número representar uma desaceleração em relação ao crescimento registrado nos três primeiros meses do ano (dado revisado de 1,9% para 1,8%), quando o resultado foi puxado por um desempenho do agronegócio.
Segundo a agência Bloomberg, analistas de instituições financeiras e consultorias estimavam avanço de 0,4% na comparação com o primeiro trimestre e de 2,7% em relação ao mesmo período do ano passado.
Do ponto de vista da produção, o resultado foi puxado pelo setor de serviços e pela indústria extrativa (petróleo, gás e minério de ferro).
Pela ótica da demanda, destaca-se o consumo das famílias, influenciado por uma melhora no mercado de trabalho, medidas do governo que elevaram a renda das famílias, queda na inflação e crescimento do crédito, apesar dos juros altos e do endividamento dos brasileiros.
O resultado do semestre já garante um crescimento de 3,1% no acumulado deste ano (o chamado "carry over" ou carregamento estatístico, que considera a hipótese de um PIB estável no segundo semestre).
Com isso, aumentaram as chances de um número maior que a expansão de 2,9% verificada em 2022, algo que não estava no radar dos economistas no começo deste ano.
Esse foi o oitavo resultado positivo consecutivo do indicador nessa comparação. Segundo o IBGE, a atividade econômica está 7,4% acima do patamar pré-pandemia e continua no ponto mais alto da série histórica.
A alta do segundo trimestre é explicada pelo bom desempenho da indústria (0,9%) e dos serviços (0,6%), segundo o instituto.
"O que puxou esse resultado dentro do setor de serviços foram os serviços financeiros, especialmente os seguros, como os de vida, de automóveis, de patrimônio e de risco financeiro. Também se destacaram dentro dos outros serviços aqueles voltados às empresas, como os jurídicos e os de contabilidade, por exemplo", diz a coordenadora de Contas Nacionais do IBGE, Rebeca Palis.
A agropecuária foi o único dos três grandes setores da economia a recuar no trimestre (-0,9%). A retração vem após o avanço de 21,0% no primeiro trimestre e se deve, principalmente, à base de comparação elevada.
"Se olhamos o indicador interanual, vemos que a agropecuária é a atividade que mais cresce. O resultado é menor porque é comparado ao trimestre anterior, que teve um aumento expressivo. Isso aconteceu porque 60% da produção da soja é concentrada no primeiro trimestre", afirma Palis.
Em relação ao segundo trimestre do ano passado, o PIB cresceu 3,4%. A agropecuária avançou 17%, o melhor resultado entre os setores. Essa alta é relacionada ao bom desempenho de alguns produtos como a soja, o milho, o algodão e o café. As estimativas da pecuária também contribuíram com o resultado, segundo o IBGE.
CONSUMO DAS FAMÍLIAS
Pela ótica da demanda, o consumo das famílias avançou 0,9% no segundo trimestre. O consumo do governo cresceu 0,7%. Os investimentos (Formação Bruta de Capital Fixo), avançaram 0,1%. A taxa de investimento foi de 17,2% do PIB, inferior à do mesmo período de 2022 (18,3%).
"Do lado positivo, o mercado de trabalho vem melhorando constantemente, há o crescimento do crédito e várias medidas governamentais como incentivos fiscais, vide redução de preços de automóveis, e os reajustes nos programas de transferência de renda, notadamente o Bolsa Família", diz a coordenadora do IBGE.
"Por outro lado, os juros seguem altos, o que dificulta o consumo de bens duráveis, e as famílias seguem endividadas porque, apesar do programa de renegociação de dívidas, elas levam um tempo para se recuperar."
As expectativas agora são de um PIB ainda mais fraco neste segundo semestre, em um ambiente de juros ainda elevados, apesar do corte recente da taxa básica pelo Banco Central.
Segundo a pesquisa Focus do BC como economistas, o PIB deve crescer cerca de 2,3% neste ano, resultado ligeiramente abaixo dos 2,9% registrados no ano passado e bem acima dos cerca de 1% projetados para 2023 no começo deste ano.
O Banco Central, por exemplo, revisou sua projeção de 1,2% para 2%, citando um cenário de desaceleração da atividade econômica no Brasil sob influência da diminuição do ritmo de crescimento global e dos impactos cumulativos da política de juros por aqui. Algumas instituições, como o Bank of America, já falam em um crescimento de 3%.
O PIB acumulado nos quatro trimestres terminados em junho de 2023 cresceu 3,2% em relação aos quatro trimestres imediatamente anteriores, com os seguintes desempenhos pode setor: agropecuária (11,2%), indústria (2,2%) e serviços (3,3%).
No primeiro semestre de 2023, apresentou crescimento de 3,7% em relação ao mesmo período de 2022 ?agropecuária (17,9%), indústria (1,7%) e serviços (2,6%).
CÁLCULO DO PIB
Produtos, serviços, aluguéis, serviços públicos, impostos e até contrabando. Esses são alguns dos componentes do PIB, calculado pelo IBGE, de acordo com padrões internacionais. O objetivo é medir a produção de bens e serviços no país em determinado período.
O levantamento é apresentado pela ótica da oferta (o que é produzido) e da demanda (como esses produtos e serviços são consumidos).
O PIB trimestral é divulgado cerca de 60 dias após o fim do período em questão e traz um dado preliminar.
O número final é apresentado quase 24 meses após o fim do ano e traz também a ótica da renda (soma das remunerações do trabalho e capital, que mostram como cada parte se apropriou da riqueza gerada).
Os dados definitivos de todos os trimestres de 2023, por exemplo, serão conhecidos em novembro de 2025.
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VARIAÇÃO DO PIB DE 37 ECONOMIAS NO 2º TRIMESTRE DE 2023
Em relação ao trimestre anterior, em %
Irlanda - 3,30
Lituânia - 2,80
Japão - 1,5
Eslovênia - 1,40
Costa Rica - 1,3
México - 0,9
Romênia - 0,9
Brasil - 0,9
Indonésia - 0,8
China - 0,8
Israel - 0,70
Finlândia - 0,70
Coreia do Sul - 0,60
Estados Unidos - 0,5
França - 0,5
Espanha - 0,4
Eslováquia - 0,4
Canadá - 0,30
Reino Unido - 0,2
Dinamarca - 0,2
Bélgica - 0,2
República Tcheca - 0,1
Noruega - 0
União Europeia - 0
Alemanha - 0
Portugal - 0
Arábia Saudita - -0,1
Chile - -0,30
Estônia - -0,30
Hungria - -0,30
Holanda - -0,30
Itália - -0,30
Áustria - -0,4
Letônia - -0,60
Colômbia - -1
Suécia - -1,5
Polônia - -3,7
Fonte: OCDE Data
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