SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) - Impactos do calor na economia, navio com 'asas' no Brasil e o que importa no mercado.
CUSTOS DO CALOR
A onda de calor que fez São Paulo registrar o dia mais quente do ano ontem (24) e deve continuar em boa parte do país hoje (25) também se reflete na economia.
Os impactos do calorão:
? No consumo de energia: na segunda semana do mês, a carga do SIN (sistema interligado nacional) bateu 73,5 mil MW (megawatts) médios, um recorde para o mês de setembro.
Na última quinta (21), a demanda máxima atingiu pico de 90,9 mil MW, a maior desde o dia 14 de fevereiro.
Não há, porém, motivo para preocupação sobre racionamento ou algo do tipo. Os reservatórios das hidrelétricas estão cheios e irão dar conta de atender ao aumento da demanda.
? No varejo: a indústria de ar-condicionado já projeta fechar o ano com alta de até 10% nas vendas, depois de um 2022 com queda na produção.
Nas compras na internet, a plataforma Shopee registrou alta de 400% no volume de buscas e avanço de 200% nas vendas de ventiladores.
No Magazine Luiza, as vendas de ares-condicionados aumentaram 72%.
Outros setores, porém, temem um impacto mais duradouro do aquecimento global em sua produção. É o caso da cerveja, justamente uma das bebidas que mais são consumidas em dias ensolarados.
Atsushi Katsuki, CEO da cervejaria japonesa Asahi, dona de marcas premium da AB InBev na Europa e Austrália, diz que as temperaturas mais quentes afetam o fornecimento de cevada e lúpulo ao redor do mundo.
Na cidadezinha alemã de Spalt, famosa pelas plantas de lúpulo, os produtores relatam que costumavam ter um ano seco e uma colheita ruim a cada década, mas este ano já foi o segundo consecutivo.
NAVIO COM 'ASAS' CHEGA AO BRASIL
Chegou ao porto de Paranaguá (PR) o navio Pyxis Ocean, um graneleiro de 229 metros de extensão que saiu de Singapura em agosto e é conhecido por ter duas "asas" para ajudar a economizar combustível.
O cargueiro foi fretado pela Cargill, que vai embarcar 60 mil toneladas de farelo de soja para a Polônia.
Entenda: as WindWings (asas de vento) são uma aposta da indústria marítima para ganhar tempo enquanto segue na busca por um combustível menos poluente.
Elas servem como uma alternativa ao motor para "empurrar" o navio, o que gera uma economia de combustível de até 1,5 tonelada por dia ?mas apenas quando há vento.
Com 200 toneladas cada uma, elas levam cerca de 20 minutos para serem erguidas e chegarem aos 37,5 metros de altura.
Por que importa: os navios de carga estão entre os maiores poluidores, por causa da lentidão, das longas distâncias e do tempo necessário para as viagens.
A indústria naval produz 837 milhões de toneladas de CO2 por ano e concordou em julho com um plano para zerar as emissões até 2050.
O 'PIOR INVESTIMENTO' QUE FEZ FAMÍLIA DOBRAR FORTUNA
Praticamente nenhum analista do mercado entendeu a estratégia da família Luksic, a mais rica da América do Sul, quando fez em 2011 um investimento na empresa de transporte marítimo chilena CSAV (Compania Sud Americana de Vapores SA).
No ano passado, porém, a companhia foi a responsável pela maioria da receita e dos dividendos recebidos pela holding da família, que tem uma fortuna de cerca de US$ 25 bilhões.
Entenda: a sequência de investimentos da família Luksic na CSAV incluiu um aporte de mais da metade em uma emissão de ações de R$ 1,2 bilhão que a empresa fez em 2012 para conseguir se reerguer.
Na época, a situação era tão complicada que os executivos tiveram que negociar isenções com bancos e detentores de títulos para separar sua frota de rebocadores.
A maré começou a virar em 2014, quando a CSAV fechou um acordo de fusão com a alemã Hapag-Lloyd, ficando com 30% do quinto maior transportador marítimo do mundo.
O período de bonança veio logo no início da pandemia, quando as compras pela internet dispararam, a demanda pelo transporte marítimo explodiu e as cadeias logísticas viraram um caos por causa das restrições de locomoção da crise sanitária.
Esse combo fez o preço de tudo que envolve o transporte marítimo subir, dos contêineres ao frete.
A família Luksic: fundada em 1957 pelo patriarca Andronico Luksic Abaroa, a empresa da família era uma fabricante de suportes de madeira para túneis subterrâneos.
Desde então diversificou seus negócios entre os setores, sendo seu principal ativo o controle da mineradora de cobre Antofagasta, com participação de US$ 12 bilhões.
Ela também controla o Banco do Chile ao lado do Citigroup e possui uma parceria com a Heineken NV para seus negócios de cerveja, vinho e fabricação de bebidas na América Latina.
STARTUP DA SEMANA: MISSION BRASIL
O quadro traz às segundas o raio-x de uma startup que anunciou uma captação recentemente.
A startup: fundada em 2017, em Florianópolis (SC), ela conecta empresas a profissionais para trabalhos sob demanda.
Em números: a Mission Brasil anunciou na última semana ter recebido um aporte de R$ 6,8 milhões. Em toda sua história, a startup já captou R$10,5 milhões.
Quem investiu: dois pesos-pesados do mercado, os fundos Domo e Headline XP, que tem a corretora como sócia.
Que problema resolve: a startup faz o meio de campo entre empresas e profissionais no serviço sob demanda, segmento em que os contratos são feitos para projetos específicos, sem vínculos permanentes.
São exemplos de serviços contratados nessa modalidade a realização de pesquisas de mercado, clientes ocultos, logística e software para gestão de força de campo.
Com o aporte, a Mission fala em potencial de saltar dos atuais 440 mil usuários para 2 milhões em um ano, além de alcançar um faturamento de R$ 18 milhões.
A startup cita um potencial estimado de R$57 bilhões para o setor de trabalho sob demanda.
Por que é destaque: o tipo de serviço intermediado pela Mission foi impulsionado pelo modelo de trabalho à distância que veio junto com a pandemia.
Além de as empresas estarem mais acostumadas com o trabalho longe dos escritórios, profissionais optaram por uma flexibilidade maior, sem estarem necessariamente vinculados a um único patrão.
Mas esse modelo de função, por tarefas, gera questionamentos de precarização de trabalho e até de eventual vínculo trabalhista.
No ano passado, a Justiça de São Paulo chegou a determinar que uma empresa de microtrabalho formalizasse a contratação de todos os seus prestadores de serviços.
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