SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) - Confirmando as expectativas do mercado, o Federal Reserve (banco central americano) manteve os juros dos EUA na faixa entre 5,25% e 5,50%, o que apoiou os ativos de risco globais. Os principais índices acionários americanos fecharam em alta nesta tarde, e a Bolsa brasileira subiu 1,68%, aos 115.052 pontos.

No câmbio, o dólar registrava forte alta ante o real, pressionado justamente pelos juros americanos. Após o anúncio da decisão do Fed, os rendimentos dos títulos americanos, os chamados "treasuries", caíram para 4,76%.

Quedas nos rendimentos dos títulos costumam pesar contra o dólar e favorecer a renda variável pois diminuem a atratividade da renda fixa americana, o que faz com que investidores aloquem seus recursos em ativos de maior risco, como o mercado de ações e países emergentes.

Além disso, novos dados de emprego nos EUA foram divulgados pela manhã e vieram abaixo das previsões do mercado, o que também pressionou o dólar. O Relatório Nacional de Emprego da ADP mostrou que o setor privado americano criou 113 mil postos de trabalho em outubro, abaixo da expectativa de 150 mil.

Com isso, a moeda americana recuou 1,38%, cotada a R$ 4,970.

Em seu comunicado, o Fed afirmou que a atividade econômica americana cresceu em um "ritmo forte" e destacou que o mercado de trabalho do país permanece saudável. Na reunião anterior, o banco central americano havia usado o termo "sólido" para descrever o ritmo da atividade do país, numa mudança vista como mais cautelosa pelo mercado.

"Na minha visão, essa mudança mostra uma preocupação com o crescimento mais forte do que o esperado da economia e ter que manter os juros altos por mais tempo", afirma Marcelo Oliveira, sócio-fundador da Quantzed.

A autoridade monetária citou, porém, que o recente aumento dos rendimentos dos treasuries apertaram as condições financeiras e de crédito e podem pesar na atividade econômica e na inflação, mas que a dimensão desses efeitos ainda é incerta. O banco afirma, ainda, que continua atento a riscos inflacionários.

Em geral, o comunicado manteve os mesmos elemento da reunião anterior e veio em linha com o esperado por investidores.

"A decisão veio totalmente dentro do esperado, zero surpresas, o que agradou ao mercado. O Fed continua com discurso de olhar o andamento dos dados de emprego e economia para decidir para frente o que fazer, destacando que a política restritiva de juros somada ao mercado de crédito apertado, que devem impactar negativamente em geração de empregos e inflação", afirma Oliveira.

Para Nicolas Borsoi, economista-chefe da Nova Futura Investimentos, o comunicado do Fed foi mais "dovish", ou seja, inclinado a uma política de juros mais branda.

"Embora deixe em aberto a possibilidade de subir [os juros] mais uma vez, o conteúdo da ata sugere que essa possibilidade é bastante remota. É um texto mais consistente com o fim de ciclo de alta do que um texto buscando expandir os graus de liberdade para, se necessário, subir os juros na decisão de dezembro", diz Borsoi.

Após a divulgação da decisão, o presidente do Fed, Jerome Powell, afirmou que o banco está empenhado em alcançar uma postura de política monetária que seja restritiva o suficiente para reduzir a inflação para a meta de 2%.

Ele disse, no entanto, que o Fed pode "proceder com cuidado" em suas próximas decisões, citando que as últimas elevações das taxas podem ter afetado a economia.

"O tom adotado por Powell foi mais brando do que imaginávamos. Powell não foi tão preciso na afirmação de que a política monetária será preservada, sinalizando que há a possibilidade de a restrição já estar maior que o suficiente. Ainda que não tenham formalmente fechado a porta para novas altas, interpretou-se que a próxima alteração do Fomc será para cortar a taxa básica", diz Étore Sanchez, economista-chefe da Ativa Investimentos.

Agora, investidores aguardam a decisão sobre juros do Brasil, que será divulgada após o fechamento do mercado. A expectativa é que o Banco Central realize um corte de 0,50 ponto na Selic (taxa básica de juros), mantendo o ritmo de redução iniciado em agosto.

COM OTIMISMO SOBRE JUROS, ATIVOS DE RISCO GLOBAIS SOBEM

Após os comunicados do Fed, os principais ativos de risco dos EUA tiveram forte alta. O S&P 500, o Dow Jones e o Nasdaq fecharam com avanço 1,05%, 0,67% e 1,64%, respectivamente.

No Brasil, a alta da Bolsa foi liderada pelas "small caps", empresas mais ligadas à economia doméstica -e, consequentemente, mais sensíveis ao movimento de juros do país. Como pano de fundo, as curvas de juros futuros registraram forte queda: os contratos com vencimento em janeiro de 2026 saíram de 11,05%, enquanto os para 2028 foram de 11,45% para 11,22%.

Com isso, Locaweb, CVC e Carrefour registraram os maiores ganhos do dia com avanços de 10,11%, 8,36% e 7,80%, respectivamente. Já o índice de small caps subiu 1,50%.


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